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Papa fala sobre a vida do Cardeal Simoni que passou vinte e oito anos nas prisões da Albânia

O mártir vivo. Foi considerado como “inimigo” do Estado pelo governo comunista da Albânia. Condenado à morte, acabaria por ser arrastado para uma pena de prisão com trabalhos forçados em minas e em esgotos durante mais de duas décadas e meia. Sobreviveu a tudo, perdoou a todos e transformou-se num exemplo para o mundo. A tal ponto que o Papa Francisco disse que o Cardeal Ernest Simoni é um “mártir vivo” por ter sofrido “talvez a perseguição mais cruel”…

Foi preso depois de ter sido considerado como inimigo da Albânia pelo governo comunista de Enver Hoxha, que tinha declarado o país como o “primeiro estado ateu do mundo”. Foram 28 anos de cárcere, de confinamento solitário e de trabalhos forçados nas minas escuras de Spac e nos esgotos de Shkodra, depois de, inicialmente, ter sido condenado à morte. Preso na noite de Natal de 1963, no final da celebração de uma missa, o regime nunca conseguiu vergá-lo. Prenderam um homem mas fizeram nascer um mito. A tal ponto que, no passado dia 14 de Fevereiro, estando o Cardeal Simoni presente na Audiência Geral das quartas-feiras, no Vaticano, o Papa fez questão de o saudar “de modo especial” aos milhares de fiéis que enchiam por completo a Sala Paulo VI. “Todos nós – disse Francisco –, lemos e ouvimos as histórias dos primeiros mártires da Igreja, são tantos… Mesmo aqui, onde o Vaticano está agora, há um cemitério e muitos neste local foram executados e sepultados. Quando se faz escavações, encontram-se esses túmulos. Mas ainda hoje há muitos mártires em todo o mundo, muitos, talvez mais do que no início. Há muitos perseguidos por causa da fé. Hoje, permito-me saudar de modo especial um mártir vivo, o cardeal Simoni. Ele, como padre, viveu 28 anos na prisão comunista da Albânia, talvez a perseguição mais cruel”, disse o Santo Padre, acrescentando, antes de a multidão aplaudir fortemente as suas palavras, que o cardeal albanês “continua a dar testemunho”. “Agora, com 95 anos, continua a trabalhar para a Igreja sem desanimar. Caro irmão, agradeço-lhe pelo seu testemunho. Muito obrigado”, concluiu o Papa.

As missas clandestinas

A história deste homem de 95 anos, ainda com uma enorme energia, é de facto incrível. Na ocasião, aproveitando a sua passagem por Roma, o Vatican News falou com ele e o seu testemunho revela um homem que se entregou sempre a Deus, mesmo nas alturas mais duras, mais difíceis. “Tudo é providência divina, tudo é graça divina”, diz o cardeal albanês, recordando os tempos de prisão em que nunca deixou de rezar, de celebrar missa, clandestinamente, até nos canais de esgoto. “Graças ao Senhor que me guardou e protegeu, pude celebrar a Missa clandestinamente na prisão, de cor, em latim. Conheço latim tão bem quanto a língua albanesa, tínhamos um método de estilo alemão pelo qual aprendíamos as línguas clássicas. Nas Missas havia muçulmanos que choravam: amigos, muito bons amigos, com grandes lágrimas porque o Espírito Santo os atraía”, recordou o Cardeal. Com uvas que espremiam faziam vinho e do pão que era servido aos presos improvisavam as hóstias. “Também celebrei missas nos canais de esgoto, diante de 200 pessoas. Se alguém me tivesse acusado, ter-me-iam enforcado. Foi proteção divina, em todas as formas. Nenhum mérito meu”, acrescentou.

Perdoar aos algozes

Quando ficou livre da prisão, em 5 de Setembro de 1990, afirmou logo querer perdoar aos seus torturadores, e depois começou logo a trabalhar, servindo nos vilarejos, ajudando as pessoas a se reconciliarem e a banirem o ódio dos seus corações. Questionado sobre a forma como perdoou sempre aos seus algozes, D. Ernest Simoni respondeu, de imediato, que é assim “a fé católica”. “Jesus com amor infinito amou e ama todos os homens e diz que a maior alegria no Céu será para um pecador que se converte e é salvo e não para biliões de anjos e santos”, disse, acrescentando que “o paraíso espera por todos nós”. Nos últimos anos o Cardeal Simoni tem realizado exorcismos, o que o leva, apesar da idade avançada, a viajar pelo mundo. “Fui ordenado há 55 anos, nunca acreditei que seria cardeal, agradeço ao Senhor porque me deu a graça especial de estar perto das almas, de reconciliá-las espiritualmente. Agradeço também sempre a Nossa Senhora, ao Padre Pio e a João Paulo II que me ajudam nos exorcismos: alguns me disseram que viram… Como diz Santo Agostinho, não passa um dia sem uma linha, um dedo, para a vida eterna. Para saúde? A idade é contada com anos mas a saúde está nas mãos do Senhor”, relatou o cardeal albanês, o “mártir vivo”, nas palavras do Santo Padre. “Choramos quando alguém morre mas a matéria morre, o espírito é imortal”, acrescentou D. Ernest Simoni.

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Paulo Aido
Paulo Aido
Jornalista da imprensa escrita, Web e rádio.

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