Sábado,Abril 19, 2025
8.2 C
Castelo Branco

- Publicidade -

Santo André das Promessas: Entre Bugios, Balelas e a Calçada da Vergonha

Em Portugal, há freguesias onde o tempo parece passar devagar. E depois há Santo André das Tojeiras, onde o tempo não passa — estaciona, adormece e, por vezes, recua. O jornal ORegiões, movido por curiosidade e espírito de missão (porque alguém tem de o fazer), deslocou-se até este paraíso adormecido no concelho de Castelo Branco para aferir, com olhos próprios, o legado do actual Presidente da Câmara, Leopoldo Rodrigues. E o que encontrou foi mais do que silêncio administrativo — foi arqueologia da política moderna: promessas fósseis e esperança em vias de extinção.

O Milagre dos “Quase Dez Metros” e o Muro de Lamentações
Na entrada da aldeia, não há arco de boas-vindas nem busto de benemérito. Há, no entanto, um milagre da engenharia minimalista: quase dez metros de calçada, junto ao miradouro em frente à associação dos Bugios. Um esforço titânico — se estivéssemos em escala de comboios. Talvez o Guinness ainda não saiba, mas há ali recordes a bater-se: o da menor obra inaugurada com maior alarde.

E, atrás da associação do Monte Gordo, ergue-se (ou tenta) um muro. Meio feito, meio promessa, totalmente abandonado. Um símbolo involuntário, mas eloquente, da política de meio-gás — ou, mais precisamente, de gás nenhum.

Foto: ORegiões

A Câmara e o Desaparecimento Mágico: Ilusionismo Municipal
Leopoldo Rodrigues, autarca e ilusionista de carreira paralela, consegue feitos dignos de Las Vegas: aparece em cartazes, desaparece da freguesia. Não há registo de visita oficial, nem sombra da sua excelentíssima presença. Há quem diga que foi prometida uma visita em Novembro de 2023. Estamos em Abril de 2025. Em Santo André, o ano é contado em promessas por cumprir e silêncios bem amassados.

Luís Andrade, Presidente da Junta, já se resignou ao desaparecimento do edil com uma serenidade que só o campo concede:

“Estamos à espera. Não é por má vontade. É por ausência. Desinteresse total.”

Foto: ORegiões

Entre as promessas há uma viatura que nunca chegou, um trator com biotriturador que ficou pelo catálogo e um apoio para multibanco que ainda está a ser processado — possivelmente pelos correios de 1897.

Foto: ORegiões

Secção de Caça: Caçadores com Mais Ordem que o Município
Mas nem tudo é desolação. Há por lá quem faça. A Secção de Caça, liderada por Rui Mendes, é um desses raros organismos onde ainda se acredita em trabalho, mesmo quando o Estado os trata como figurantes. O ofício enviado à Câmara foi tão ignorado que até os fantasmas da Casa da Moura devem ter-se sentido mais ouvidos.

Foto: ORegiões

“Destruíram tudo — as placas, os paus, a sinalização da zona de caça. A resposta foi o vácuo. Tivemos de pagar tudo do nosso bolso.”

Em Santo André, os paus tratados merecem mais respeito que os eleitores. E a ironia não fica por aí: os caçadores organizam montarias, alimentam os animais selvagens, recebem visitantes e ainda são os únicos a dar sinais de civilização.

Como diz Rui Mendes, com uma lucidez mais cortante que a lâmina da silvicultura:

“A caça não se alimenta de estebas.”

Pois não. E a paciência também não.

Destilaria Prometida: Um Sonho que Cheira a Vinho Eleitoral
A única obra visível — um largo pavimentado — serve agora de parque de estacionamento para a desilusão. A destilaria, grande promessa da freguesia, continua fechada. Mas não se apoquente, caro leitor: há quem aposte que a inauguração está agendada para a semana anterior às próximas eleições. Uma tradição já mais antiga que a matança do porco.

Foto: ORegiões

Entre Bugios e Balelas
Os Bugios, conhecidos por animarem romarias e desfiles folclóricos, têm agora como única companhia um poder local que desfila promessas, dança em torno da burocracia e desaparece sempre que é preciso carregar algo mais pesado que um microfone.

Foto: ORegiões
Foto: ORegiões

Conclusão: Não é um Caso Perdido. É um Caso Esquecido.
Santo André das Tojeiras não precisa de milagres. Precisa de respeito. De presença. De compromisso. A freguesia sobrevive não graças à Câmara, mas apesar dela. Enquanto uns semeiam milho para os javalis, outros semeiam promessas que nem os pássaros querem. E o único som que ecoa por entre os montes e vales é o de uma população a pagar do seu bolso o que já pagou com os seus impostos.

Senhor Leopoldo Rodrigues, se por acaso ainda se lembra de onde fica Santo André das Tojeiras, talvez seja tempo de fazer o caminho. Ou, pelo menos, mandar uma resposta. Porque, a este ritmo, a única coisa que está garantida… é o resultado nas urnas.

E aí, nem os Bugios o vão salvar.

- Publicidade -

Não perca esta e outras novidades! Subscreva a nossa newsletter e receba as notícias mais importantes da semana, nacionais e internacionais, diretamente no seu email. Fique sempre informado!

Partilhe nas redes sociais:
Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

1 COMENTÁRIO

  1. Boa tarde

    Li o artigo, e na questão das obras na Associação dos Amigos do Monte Gordo não é verdade que as obras estejam abandonadas ou paradas. Desde que começaram, a obra não esteve parada, exceção feita aos dias de chuva intensa. A obra está a decorrer dentro da normalidade e dos prazos estabelecidos.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques

- Publicidade -

Artigos do autor

Não está autorizado a replicar o conteúdo deste site.