A mitologia portuguesa é uma maravilha. Somos pequenos mas temos tudo: deus, deuses, deusas, cultos próprios antiquíssimos, desde a pré-história até hoje de manhã. Fátima é semi-deusa, Amália a Deusa incontestável. Pelos caminhos da imaginação humana, os arqueólogos e antropólogos já chegaram à conclusão que os últimos homens de Neandertal acabaram por desaparecer entre a Cova da Beira e Portalegre, numa fusão com o Homo Sapiens Sapiens, que somos, mais ou menos, nós. Isto é, povo de Portugal, a História veio até nós e somos o povo que melhor mistura as melhores qualidades destas duas “raças” de homens da pré-história.
O potencial que tal mistura nos deu faz com que os neandertais afinal não tivessem desaparecido, como se defendia em meados do séc. XX. Andam é escondidos no povo concebido, ainda hoje, entre a serra dos Candeeiros e Plasência. Sim, podemos dizer que somos o povo mais bem escolhido e melhor apetrechado.
A saber: O primeiro que se visse foi o Endovélico: Este era um dos deuses principais dos lusitanos, associados à cura e à proteção, e o seu culto era particularmente forte nas margens do Tejo Internacional até ao Algarve. Junto com esta adaptação de um deus celta, vieram ainda Bandua, Nabia e Reva. Bandua era geralmente associado à guerra e à proteção tribal; Nabia, deusa das águas, protegia-nos das águas feras. Por fim Reva, possivelmente uma divindade solar.
Vamos saltar os Romanos, que são sempre iguais, e atiremo-nos à reconquista à moirama dos territórios do Al-Andaluz. Como bons compinchas que somos, e já que eles não bebiam vinho mas a gente sim, lá bebíamos pelos dois e veio a dar-se assim o culto a Al-Khidr, e crenças nos djinns – que ainda hoje se mantém como os “génios” e os que comunicam com os anjos. A malta reza e são os djinns que levam a mensagem.
Já o nosso Al-Khidr, se formos ver, veio dar a figura mítica de São Jorge. Ora, S. Jorge combate o dragão – e é por isso que, mais tarde o Dragão será a figura mítica da monarquia portuguesa. Toparam? A malta correu com os árabes, mas ficou-lhe com o cavaleiro santo, o homem mais próximo de Alá e, até, o bicho que matou, como patrocinadores da Nação.
No mar, pimba, o Adamastor, para que fosse tudo culpa do demónio e nada dos nossos parcos recursos.
Somos um império de Vale e Azevedos: o que é meu é meu, o que é teu é nosso!
Inventámos Viriato como se fosse um patriota (era um chefe de contrabandistas) e até ao longo dos anos, temos: o homem-burro de Leiria (alguém ouviu mal a história do lobisomem e calhou-nos o burrinho de Belém), o D. Sebastião, que se esfarela no nevoeiro mas “ele volta a vir / se deus quiser”, qual Cristo e, por fim, em grande, Fátima, em que ninguém viu quase nada e o milagre do sol está explicado nos jornais da época. Não contentes, já namorávamos o
republicano e ateu Sousa Martins como Santo antes da senhora em camisa de noite na azinheira.
Em suma, precisam de um mito? Portugal é campeão. Juro-vos: até o Eder do golo há-de ter pagela e, aposto, estátua em Oeiras! Vamos a casa.
Bom fim de semana!