O palco estava montado, o espetáculo preparado e o ego, uma vez mais, pronto para brilhar com a intensidade de um sol radiante. Donald Trump, o 47.º presidente dos Estados Unidos da América, fez sua entrada triunfal na Casa Branca no dia 20 de janeiro de 2025, com um discurso de 30 minutos que não poupou grandes promessas e declarações recheadas de uma confiança inabalável, mais própria de um super-herói do que de um político. A cerimónia de posse transformou-se numa ode ao próprio ego, com Trump a garantir que “o declínio dos EUA chegou ao fim”, emoldurado pelo seu discurso com uma retórica absolutamente bombástica.
“Tudo vai acontecer muito rápido”, proclamou, com a arrogância característica de quem vê o mundo aos seus pés, convencido de que o seu retorno à Casa Branca é a única salvação possível para uma nação perdida. “Tentaram tirar-me a vida”, continuou, entre declarações de autossuperação e autossuficiência, como se fosse um imperador voltando ao seu trono após um exílio autoimposto. O tom messiânico de Trump não deixou margem para dúvidas: ele é o salvador da pátria. Ele é o escolhido. O homem para quem os Estados Unidos foram feitos, e não o contrário.
O novo presidente não poupou palavras para garantir que a América será restaurada ao seu “antigo esplendor”, ou talvez, a um esplendor que só existe nas suas visões grandiosas e distorcidas da realidade. As ordens que prometeu assinar parecem mais uma lista de desejos de um governante absoluto do que políticas concretas. Declarou a sua intenção de usar o governo para controlar a inflação e acabar com o que chamou de “novo tratado verde”, como se a crise climática fosse apenas uma invenção para perturbá-lo na sua jornada gloriosa.
A sua visão de “senso comum”, ao estilo Trump, passa pela intensificação da vigilância na fronteira, com o governo a declarar estado de emergência no sul, e uma posição firme contra a imigração ilegal. “Vamos garantir a liberdade de expressão”, repetiu com a certeza de quem, não só a detém, mas a possui como propriedade exclusiva, mesmo que, curiosamente, a sua definição de liberdade de expressão seja muitas vezes seletiva, como se qualquer opinião que não seja a sua própria fosse algo a ser silenciado.
Ah, e claro, a ciência de Trump não teria sido completa sem uma proclamação sobre os géneros. “Só há dois géneros, o masculino e o feminino”, disparou, mais uma vez ignorando os avanços do pensamento moderno e as lutas pela inclusão de todas as identidades. Porque, para Trump, a lógica é simples: o mundo é uma batalha de opostos, e a sua América não tem espaço para nuances.
Em sua versão do futuro, os Estados Unidos estarão mais poderosos do que nunca. O exército será “o maior e mais forte do mundo”, e o Golfo do México, uma vez mais, será chamado de “Golfo da América”. A ambição, no entanto, não se limita às fronteiras do continente, estendendo-se ao planeta Marte, onde Trump revelou o seu mais recente projeto: “Vamos plantar a bandeira no planeta Marte”, como se isso fosse tão simples quanto comprar um pedaço de terreno para um novo arranha-céu.
A retórica não ficou por aí. O canal do Panamá? Trump vai recuperá-lo, como se fosse uma conquista militar, parte de uma guerra geopolítica que só ele parece entender. O que parece ser uma obsessão por recuperar glórias passadas, ou por simplesmente afirmar a superioridade americana, tornou-se uma constante em um discurso recheado de promessas impossíveis. E, para não restar dúvida, Trump garantiu que seu “legado será de paz”, como se o caminho para a paz fosse pavimentado com tanques de guerra e bandeiras em Marte.
E a América, claro, sofre. Trump não deixa de se referir à dor da nação, àquilo que ele define como os “últimos anos de sofrimento”, como se fosse o herói trágico da história, pronto a recuperar a “terra da promessa”, embora as promessas que faz soem mais a uma lista de desejos de um homem que acredita ser capaz de transformar tudo ao seu redor naquilo que idealiza.
O futuro, segundo Trump, começa hoje. E, com esse discurso, começa uma nova era, ou pelo menos uma nova versão da realidade que ele quer vender ao mundo. Uma realidade onde os problemas não são mais complexos do que ele deseja admitir e onde a grandiosidade de sua figura eclipsa todas as adversidades. Afinal, como ele mesmo disse, “sou a prova de que nada é impossível”.
Quem poderá contradizê-lo? Ele é, sem dúvida, o único que sabe o que é melhor para a América.