A queda do Governo é como um eclipse total de juízo: esperado, mas sempre capaz de cegar os incautos. Num país onde a única constelação reconhecida é a da Crise na Via Láctea, os astrólogos da república decidiram trocar os signos tradicionais por figuras mais… terrenas. Eis o horóscopo dos próceres, cujos destinos se entrelaçam como fios de um novelo atirado a uma colónia de gatos.
Montetodonegro (PSD)
O líder do PSD, signo do Estrategista Invisível, rege-se por Plutão (planeta dos subterfúgios) e pela Lua Nova (fase preferida dos que temem a luz). Neste ciclo eleitoral, Montenegro será visto a deslizar entre as sombras como uma doninha diplomada em Ciências de Políticas Ocultas. A previsão? Fará discursos tão ambíguos que até os espelhos se recusarão a reflecti-lo. Prometerá pontes para o futuro, mas esquecer-se-á de mencionar que são de corda e sobre um abismo. No dia das eleições, os eleitores descobrirão que votar nele é como comprar um bilhete para o Titanic — com a diferença de que o iceberg já está no partido. Acabará a salvar-se num bote insuflável chamado “Centrão”.
São Nuno (PS)
Regido por Vénus (deusa da persuasão… e da confusão), São Nuno é o Mestre da Metamorfose. Na próxima semana, adoptará a forma de uma fénix — mas, em vez de renascer das cinzas, será visto a atear fogo ao próprio ninho. Astrólogos prevêem que usará a palavra “esperança” 127 vezes num discurso de três minutos, batendo o recorde de vacuidade retórica. Os comícios parecerão sessões de stand-up sem piadas, e o eleitorado rirá… de nervos. Descobrirá que o único milagre que restará será conseguir 20 por cento, sem perder o sorriso de estátua de cera e barba penteada al vent.
Rei Mundo (PCP)
Sob o signo do Nostálgico Perpétuo, Rei Mundo é governado por Saturno (o planeta das coisas que já eram velhas na Grécia Antiga). Previsão: continuará a falar de “lutas operárias” como se estivéssemos em 1917, ignorando que até os sovietes têm Wi-Fi hoje. Propagará manifestações contra o capitalismo, mas os cartazes serão impressos em gráficas chinesas. Ironia final: Acabará a vender merchandise da Revolução em pop-up stores no Chiado.
Camila (Bloco de Esquerda)
Regida por Úrano (planeta dos sobressaltos), Camila é a Guerrilheira de Salto Baixo. Nas próximas eleições, proporá a abolição da gravidade para “tornar o mundo mais justo”. Seus comícios lembrarão festivais de Woodland — sem drogas, mas com utopia em dose letal. Descobrirá que até os sem-abrigo preferem ouvir Marx em podcasts a Trótsky ao vivo no Coliseu.
Morde-cão (Chega)
Sob o signo do Cão Raivoso com Diploma de Direito, Morde-cão é regido por Marte (deus da guerra… e das queixas no Facebook). Previsão: continuará a ladrar contra “os corruptos” enquanto esconde ossos e malas no jardim. Seus seguidores – uma mistura de desiludidos e influencers de conspiração – prometerão uma “revolução”, mas faltarão às urnas para ver o Benfica sub-17. Será mordido por um cão de rua durante uma campanha — e o animal ganhará mais simpatia nas redes. Virá a descobrir-se que o bicho era de A Guiar Branco.
Pequeno Cid (Livre)
Signo do Cavaleiro Andante sem Cavalo, Pequeno Cid é regido por Quíron (o curador ferido). Prometerá “políticas disruptivas” enquanto atravessa o país numa bicicleta partilhada. Descobrirá que o único “disruptivo” será o orçamento do partido para café em reuniões intermináveis. Não fará a barba para não o confundirem com John Lennon.
Rui Baba-Beto (IL)
Regido por Mercúrio (deus do comércio… e das holding-companies), Rui é o Neoliberal Místico. Prega a “liberdade” com a intensidade de um coach de Instagram. Privatizará a própria sombra para pagar campanhas no TikTok. Inventará o Liberalismo de mão Estendida ao Estado.
Amazona (PAN)
Sob o signo da Sacerdotisa Ecológica, Amazona jurará salvar os musgos dos passeios enquanto ignora humanos a passar fome. Será eleita… presidente de uma associação de musgos na Serra da Estrela, mas confundirá a Estrela com um Serrote e pegará no dito para tourear na Monumental de Las Ventas, cortando gasganetes aos peões de brega.