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Macau no Museu do Oriente

No dia 20 de dezembro de 2024 completaram-se 25 anos sobre a data da transferência de administração em Macau para a República Popular da China e da criação da Região Administrativa Especial de Macau da R.P.C.

Após a assinatura da declaração conjunta de 1987, as autoridades portuguesas criaram uma série de instituições cuja missão seria preservar e difundir a língua e a cultura portuguesas no Oriente, com vista à continuidade e aprofundamento do diálogo intercultural, assim surgindo a Fundação Macau 1984 com novos estatutos em 1988, a Fundação Oriente e o Instituto Português do Oriente em 1989, o Instituto Camões em 1992 e a Fundação Jorge Álvares em 1999, entre outras.

Macau no Museu do Oriente
Foto: D.R.

A Fundação Oriente tem sido das entidades que mais tem levado à prática este desígnio, não apenas em Macau mas também em outros pontos do Oriente, como em Goa, Malaca ou Japão.

Entre os dias 20 e 31 de dezembro de 2024, encontra-se em exposição no átrio do Museu do Oriente, junto à Fundação Oriente, o Mitsubishi Pagero Macau, uma das três viaturas que em 1990 cumpriu o II Raide Macau Lisboa (as outras eram Taipa e Coloane), ligando Macau e Lisboa por terra, através da China e da então URSS. Pela persistência do raidista António Calado, o carro encontra-se totalmente restaurado e devidamente certificado como “peça histórica que representa uma ideia e um objetivo, a cooperação entre os povos”. É um símbolo!

Vale a pena visitar as exóticas maravilhas que o Museu encerra e aproveitar para também sentir o passado desta relíquia automobilística…

A expedição teve como missão lembrar que Macau sempre funcionou como ponte cultural e económica entre o Ocidente e o Oriente. Desde que surgiu a ideia, logo em 1988, a Fundação Oriente decidiu apoiar a aventura através da atribuição de um subsídio e a oferta de inúmeras publicações que foram distribuídas gratuitamente ao longo do percurso, em consonância com um dos seus principais objectivos, o do reforço da partilha cultural entre o Oriente e o Ocidente e, designadamente, entre Portugal e a China.

A viatura agora em exposição no Museu do Oriente, onde também se pode apreciar o filme que conta a viagem, relembra a importância da convivência e amizade entre os povos. Toda a história poderá ser vivida em Banda Desenhada e em Livro, publicações que estão à venda no Museu do Oriente.

Há 25 anos, em 1999, Macau deixava formalmente de pertencer a Portugal e seguia os passos de Hong Kong no processo de transição de soberania para a China. O líder chinês, Xi Jinping, classifica de “grande sucesso” a transferência de poder de Portugal para a China. Um regresso à mãe-pátria, vincou o líder chinês.

Diga-se que o facto do retorno à soberania chinesa de Macau ter acontecido depois de Hong Kong, em 1997, nunca foi do agrado das autoridades britânicas. O contacto com o Reino Unido foi estabelecido após a Companhia Britânica das Índias Orientais ter estabelecido uma feitoria na cidade vizinha de Cantão. Durante a Guerra do Ópio (1839–1842), Hong Kong foi ocupado pelo Reino Unido e em 1898 a China entregou o território por um prazo de 99 anos.

Sem dúvida que as autoridades chinesas não esqueceram que Macau se manteve neutral durante a Guerra do Ópio, de forma a sobreviver enquanto porto sob administração portuguesa, muitas vezes assumindo posições que nem sempre estavam em sintonia com as do governo de Lisboa. Macau pretendia manter boas relações com a China, procurando constantes pontos de equilíbrio no seio de antagonismos de interesses que opunham ingleses e chineses, evitando pôr em risco alianças históricas que lhe permitiram sobreviver durante centenas de anos. Cidade chinesa, apesar de administrada por portugueses durante cerca de 450 anos, Macau sempre perseverou respeito e mesmo certa subjugação com os Mandaris de Cantão, conseguindo ser encarado como um parceiro importante pelas autoridades chinesas.

Em 1987, após intensas negociações entre Portugal e a República Popular da China, os dois países acordaram que Macau voltaria para a soberania chinesa no dia 20 de dezembro de 1999. O acordo de transferência de soberania assegura, ao longo de 50 anos, maior autonomia e liberdades civis do que na China continental. Nesse acordo, denominado Declaração Conjunta Sino-Portuguesa, também ficou estabelecido que o direito de matriz portuguesa, bem como a língua portuguesa, ao lado da língua chinesa, se manteriam “oficias” durante 50 anos. O PIB per capita é, graças ao jogo, o segundo maior do mundo, mas Pequim quer acelerar a diversificação económica de Macau e reduzir a dependência dos casinos. Único lugar na China onde é permitido jogar, Macau já ultrapassa Las Vegas em receitas de apostas. Os casinos são frequentados, sobretudo, por visitantes da China continental.

Macau necessita de preservar as suas especificidades, a sua cultura própria, que passa pela língua, gastronomia, arquitetura, música e religião, num mistura que a diferencia das outras cidades chinesas. Este processo nem sempre tem sido fácil, com algumas imposições e restrições políticas e económicas, por parte da “mãe pátria”, a desagradarem a quem sente que “Macau já não é o que era”. Diga-se que, recentemente, o Centro Histórico, o Teatro Patuá e a Gastronomia, foram recentemente reconhecidos pela Unesco como patrimónios da humanidade.

Um amigo meu defende, com nostalgia, que a comunidade macaense, expoente máximo da simbiose entre diversas culturas (portuguesa, chinesa, malaia, indiana e mesmo africana), está em vias de extinção. Tenhamos confiança nas palavras do Presidente chinês Xi Jinping, que elogia a “influência, visibilidade e diversidade de Macau” acrescentando que “tratando-se do único local do mundo que usa o chinês e o português como línguas oficiais, Macau tem desempenhado um papel importante como plataforma na promoção da cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa”, citado pelo South China Morning Post.

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Joaquim Correia
Joaquim Correia
“É com prazer que passo a colaborar no jornal Regiões, até porque percebo que o conceito de “regiões” tem aqui um sentido abrangente e não meramente nacional, incluÍndo o resto do mundo. Será nessa perspectiva que tentarei contar algumas histórias.” Estudou em Portugal e Angola, onde também prestou Serviço Militar. Viveu 11 anos em Macau, ponto de partida para conhecer o Oriente. Licenciatura em Direito, tendo praticado advocacia Pós-Graduação em Ciências Documentais, tendo lecionado na Universidade de Macau. É autor de diversos trabalhos ligados à investigação, particularmente no campo musical

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