No paisínho que nos fizeram herdar, conhecido monarquicamente como “a piolheira”, onde até as pedras da calçada têm mais senso comum que certos figurões da política, eis que surge o Governo, qual Metralha do Orçamento, prontíssimo a distribuir milhões como se fossem panfletos de fast-food. A moção de confiança aproxima-se, e o primeiro-ministro, rodeado de acólitos entusiastas, decidiu que a melhor forma de conquistar o coração do povinho não é resolver problemas, mas sim inundá-los de promessas tão efémeras quanto o aroma de um éclair na pastelaria fina no Rossio da terra.
A Arte de Cuspir para o Céu (e Esperar que Chova)
Os problemas? Velhos conhecidos: hospitais a abarrotar de desespero, escolas a educar ratos para corridas académicas, e uma justiça mais lenta que uma lesma a subir a Serra da Estrela de patins. Mas, tal e qual a novela das nove, o enredo muda: em vez de atacar o mal pela raiz, o Governo prefere podar as folhas secas com tesouras de ouro. E assim, anunciam-se medidas de pesca ao todo, nas horas que sobram. Oh, que medidas!
O Carnaval das Ideias
Primeira medida: Wi-Fi grátis em todas as fontes públicas do país. Porque, claro, nada une mais o povo do que partilhar memes enquanto a água não corre. As fontes estão secas? Não importa! Enquanto os idosos tentam encher bilhas de ar, os jovens postam stories com a hashtag #ÁguaVirtual. Segunda medida? Tolerância de Sesta, obrigatória, das 14h às 17h. Justificação? “Reduzir o stress laboral.” Resultado? Os únicos a dormir são os deputados durante as sessões parlamentares, enquanto os trabalhadores do sector privado riem (ou choram) em turnos de 12 horas, a 360 paus o estágio.
Há mais, lá no bolso de Montenegro. A Lotaria da Nacionalidade. Compre uma raspadinha, ganhe um passaporte! Brasileiros, angolanos, marcianos — todos bem-vindos, desde que o Estado lucre 5€ por bilhete. Será distribuído o dinheiro pêlos eleitores no dia de reflexão. Quarta medida: Descontos nos transportes públicos mediante coreografias para a campanha do PPD. Um shuffle vale 10%, um floss garante 20%. E se gravar um ministro a
dançar gangnam style, ganha passe vitalício e um cartão que de um lado é laranjada, do outro rosa (choque!). Último golpe de génio: Benefícios fiscais para quem baptizar os filhos com nomes de ministros. Chame-lhe “António Costa Silva Santos” e receba 500€ em deduções. Narcisismo? Não, patriotismo fiscal.
A estupidez une-nos
Eis o paradoxo: enquanto críticos grasnam sobre “populismo barato”, o povo sorri. Sim, sorri! Entre bailaricos e sestas obrigatórias, esquecem-se das urgências fechadas, dos salários estagnados, do país a arder. É a magia do pão e circo — se não há pão, damos bonecos de pão. Toda esta farsa, longe de nos dividir, torna-nos irmãos na ilusão. Somos todos igualmente ludibriados, e há uma beleza nisto.
E assim, caro leitor, terminamos com um brinde (de sumo de laranja, porque o champanhe é para as festas da AR): acendamos uma vela ao Dr. Sousa Martins. Quiçá o bom doutor, lá do seu pedestal no Campo dos Mártires, nos cure desta pandemia de imbecilidade — ou, pelo menos, nos ensine a rir dela enquanto não há remédio.
Se a vida é um palco, pelo menos os nossos actores garantem risos (mesmo que sejam de desespero). E quem sabe? Talvez um dia, entre uma sesta e uma raspadinha, descubramos que a verdadeira felicidade está… em desistir de esperar algo melhor. Até lá, urrem de alegria! O Wi-Fi é grátis e o Presidente sorri…