A função pública deveria ser sinónimo de seriedade, responsabilidade e compromisso com o bem-estar da sociedade. No entanto, parece que estamos a viver tempos em que, para muitos funcionários públicos, a verdadeira missão não é servir o país, mas sim transformar o horário de trabalho numa pausa digital para exercer a sua “função de influenciador”. E tudo isto, claro, com o dinheiro dos impostos dos cidadãos. A situação é, sem dúvida, uma vergonha que merece uma análise mais profunda.
Primeiro, é essencial entender a raiz do problema: os impostos pagos pela população. Cada euro que sai do bolso dos portugueses destina-se, em grande parte, à manutenção de uma extensa e muitas vezes ineficiente máquina pública. Não podemos permitir que, enquanto nos sacrificamos para sustentar o funcionamento dos serviços públicos, uma parte significativa dos trabalhadores do Estado desvie a sua atenção para as redes sociais, como se fossem meros espectadores do seu próprio trabalho. É inaceitável que, enquanto deveriam estar a cumprir as suas funções de atendimento ao público, muitos funcionários públicos preferem partilhar “likes” ou até mesmo dedicar-se a um ativismo digital pouco informado, como é o caso de alguns professores, que transformam a sala de aula numa arena para bitaites políticos e para se meterem com os jornalistas.
O mais perturbador é a falta de vergonha com que esta situação se desenrola. Em vez de estarem concentrados em prestar um serviço de qualidade, muitos funcionários públicos estão mais interessados em mostrar ” performance ” nas redes sociais do que nas suas tarefas diárias. Este fenómeno, que podemos chamar de “funcionário digital”, é o reflexo de uma falência moral e profissional. A função pública, em vez de ser um pilar de apoio ao cidadão, acaba por ser um terreno fértil para a autopromoção e a criação de polémicas sem qualquer relevância para os problemas reais da população.
E o que acontece com a qualidade do serviço prestado? Fica comprometida, claro. Quem precisa de atenção num balcão de atendimento ou quem espera uma resposta rápida a um problema burocrático não pode ter como “funcionários” aqueles que estão, na mesma hora, a partilhar memes, a criticar o governo ou a discutir trivialidades na internet. A função pública deve ser um espaço de seriedade, e não um palco onde se encena a vida digital para engordar o ego.
O governo tem a obrigação de intervir nesta questão de forma urgente e assertiva. Em vez de focar as suas energias na proibição do telemóvel nas escolas — como se fosse esse o maior problema da educação — deveria começar por repensar o uso das redes sociais pelos próprios funcionários públicos. Proibir o uso do telemóvel no horário de trabalho não é uma ideia absurda; ao contrário, seria uma medida necessária para garantir que aqueles que recebem o salário dos contribuintes não estejam a comprometer o seu desempenho com distrações digitais. O que está em causa não é a liberdade individual, mas sim o dever de cada trabalhador em cumprir com as suas responsabilidades.
Não podemos continuar a aceitar que, em nome de uma falsa liberdade de expressão, se destrua a imagem da função pública e se prejudique os serviços que são essenciais para o bom funcionamento da nossa sociedade. O que vemos, na verdade, é uma minoria de funcionários descomprometidos a desviar o foco do seu trabalho para se tornarem protagonistas de um espetáculo virtual que, no fim das contas, nada acrescenta ao bem-estar do país.
A questão que se coloca é simples: devemos continuar a permitir que uma minoria de “descomprometidos digitais” continue a arruinar a reputação da função pública, enquanto aqueles que realmente se dedicam ao serviço público são obrigados a lutar contra uma imagem distorcida do que é ser funcionário público? Chegou o momento de o governo atuar, e de todos nós exigirmos que os impostos que pagamos sejam realmente aplicados em quem trabalha e não em quem opina nas redes sociais.
Esta falência moral da função pública não pode ser ignorada. Se queremos que o país se desenvolva de forma justa e eficaz, precisamos de funcionários comprometidos com o trabalho, não com os “likes”. O tempo para mudanças chegou.