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A Liberdade Condenada: O Grito Silencioso de Assange que o Mundo Ignora

Julian Assange, o rosto icónico da denúncia global, viveu os últimos 14 anos como um prisioneiro da verdade. Um homem que ousou desmascarar os segredos mais obscuros das potências mundiais, é agora uma sombra do que foi, assombrado por injustiças e calúnias que, em vez de se dissiparem, o seguem como o destino de quem se atreve a apontar o dedo ao império. Esta semana, finalmente liberto fisicamente, mas emocionalmente dilacerado, o fundador do Wikileaks pronunciou palavras tão impactantes quanto incómodas: “Jornalismo não é um crime.” A frase, simples na sua essência, ecoa como um grito sufocado de uma liberdade que, ao que parece, só existe nos discursos pomposos das democracias ocidentais. O seu crime? Expor a verdade. O seu castigo? Ser esmagado por um sistema que se autoproclama defensor da justiça

Assange passou de herói do jornalismo a um pária internacional, caçado, torturado psicologicamente e acusado por fazer exatamente aquilo que as grandes potências dizem valorizar: informar o público. Os Estados Unidos, aquela nação que ostenta com orgulho ser o farol da liberdade e dos direitos humanos, acusaram-no de “espionagem”. E não apenas o acusaram – condenaram-no moralmente, politicamente, e agora judicialmente. O seu maior pecado foi revelar ao mundo aquilo que muitos já suspeitavam, mas que poucos tinham provas: o estado profundo norte-americano opera numa zona cinzenta entre a liberdade e o autoritarismo, enquanto perpetua uma guerra fria silenciosa contra os seus próprios cidadãos e aliados.

Perante o Conselho da Europa, Assange teve a coragem de dizer o óbvio, embora seja uma verdade que ninguém parece disposto a ouvir. E quem o culpa? Afinal, o que são mais uns factos desagradáveis num mundo já saturado de desinformação e manipulação? Talvez o que nos assusta mais é a possibilidade de, ao olharmos de perto para o caso de Assange, descobrirmos que não somos tão livres como gostamos de pensar. A sua luta, que deveria ser a luta de todos nós, foi ignorada, silenciada e distorcida ao ponto de a maioria da população acreditar que ele é um “criminoso”, em vez de um mártir da liberdade de expressão.

O caso Assange é um aviso alarmante, um sinal de que as democracias modernas estão a ficar confortáveis demais com a repressão disfarçada de “segurança nacional”. E o silêncio cúmplice dos grandes meios de comunicação, que deveriam ser os primeiros a defendê-lo, revela uma podridão ainda mais profunda. A submissão à conveniência política tem feito com que jornalistas prefiram ignorar o destino do seu colega, em vez de o verem como o aviso sombrio que é.

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Onde está a indignação das nações europeias que permitiram esta caça às bruxas no seu próprio território? Onde estão os líderes que tanto gostam de falar de direitos humanos, mas que se encolhem perante o peso dos interesses americanos? Estamos a assistir à lenta agonia da liberdade de imprensa, enquanto os poderes globais dão-nos palmadinhas nas costas, dizendo que está tudo bem, desde que nos mantenhamos calados.

Assange não é apenas uma vítima do imperialismo jurídico dos EUA, é o reflexo de uma sociedade que prefere fechar os olhos a qualquer realidade que aponte para a hipocrisia dos seus líderes. O homem que expôs crimes de guerra, que revelou ao mundo a verdadeira face de operações secretas e encobertas, está a ser condenado por nós todos. Por cada minuto que passa sem que se levante uma voz de protesto, estamos a entregar a nossa própria liberdade ao jugo do medo e da repressão.

Não há nada mais perigoso do que uma sociedade que aceita a condenação de quem diz a verdade. E enquanto Assange definha, sem que o seu grito seja ouvido, o mundo segue em frente, satisfeito com a sua própria ignorância, sem perceber que, ao condená-lo, estamos a condenar a liberdade de todos. Afinal, não foi ele que pecou; fomos nós que, ao permitir que este teatro kafkiano se desenrole, abdicámos do nosso direito de saber.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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