Castelo Branco, a cidade que já foi promessa e agora é sombra, acorda de um sono profundo que parece eterno. Ou talvez seja melhor dizer que a cidade nunca adormeceu realmente, mas sim foi adormecida por quem deveria ter dado um empurrão para que a vida política, económica e social voltasse a pulsar. O que resta de uma terra que deveria ser exemplo de progresso, desenvolvimento e inovação? Um abismo, uma terra de promessas que nunca se concretizam, onde a inação e a estagnação se tornaram a norma. O futuro? Parece um fantasma que paira acima da cidade, mas que ninguém tem coragem de enfrentar.
À medida que se aproximam as eleições autárquicas em Setembro de 2025, a grande pergunta que se coloca é simples e desconcertante: quem terá coragem de pôr fim ao ciclo de inatividade que domina o município? A resposta parece distante, e as opções escasseiam. Uma cidade em que o futuro é constantemente prometido mas nunca chega, como uma miragem. Castelo Branco está a definhar, lentamente, como uma planta que não recebe sol nem água, e a paciência dos seus habitantes começa a esgotar-se a cada ciclo eleitoral que passa sem que nada mude.
Leopoldo Rodrigues, o presidente da Câmara que já parece ter feito da promessa vazia uma arte, tem sido o principal protagonista deste cenário de paralisia. Ao longo do seu reinado, as palavras têm sido sempre mais fortes que os atos. O truque da promessa sem compromisso tornou-se uma estratégia quase automática: anunciar grandes obras, avançar com grandes ideias, mas nunca passar do papel. As suas promessas de progresso são como uma chuva fina e inofensiva – caem e desaparecem antes que alguém se dê conta. O que poderia ter sido um governo dinâmico e inovador, tornou-se um espetáculo de inação, onde a cidade, que podia ter dado grandes passos para o futuro, está simplesmente estagnada, como um relógio parado.
Curiosamente, o Partido Socialista, que teima em manter Leopoldo Rodrigues como o seu líder, parece acreditar que a aposta no “conhecido” pode trazer-lhe novamente os votos que perdeu ao longo dos anos. Será isto fé cega, ou uma estratégia de autossabotagem? Se a população já chegou a um descontentamento superior a 45% – e esse número continua a subir –, o PS parece ainda não ter entendido o recado. Ao insistir em manter um presidente cujos números de popularidade estão a derreter como neve ao sol, o partido arrisca-se a tornar-se um reflexo de si próprio: uma máquina de inação que recusa confrontar a realidade da cidade. Quando se chega ao ponto de que “a mudança” é um palavrão, é porque algo está profundamente errado.
A mentalidade que tomou conta de Castelo Branco – a “política do conhecido” – representa um conformismo perigoso, que se reflete nas palavras que se ouvem por aí: “Se não sabes fazer melhor, mais vale não mudar.” E, assim, os albicastrenses se tornaram figurantes de uma novela política que, apesar de ser repetitiva, nunca acaba. Eles estão fartos, mas ainda não encontraram quem lhes mostre uma saída.
E a oposição? Onde está a verdadeira alternativa? O Movimento Independente Sempre (MIS), em coligação com o PSD e o CDS, foi abalado por um vazio de liderança maior do que a própria gestão do PS. António Fernandes, que até se falou a ser o rosto dessa oposição, deu a sua última cartada e, ao que parece, desistiu da corrida. “Nunca disse que era candidato, e agora, por razões familiares, não posso ser”, afirmou António Fernandes em declarações ao jornal ORegiões. Como se a cidade já não estivesse suficientemente à deriva, a oposição revela-se incapaz de apresentar uma alternativa sólida. Os nomes que restam dentro da coligação? Fonte segura do MIS, também em declarações ao jornal ORegiões disse: ” está em cima da mesa quatro nomes de figuras com grande expressão, que podem vir a preencher a figura do candidato”, os nomes destes não foram revelados, ficou a promessa da apresentação pública para breve. Castelo Branco precisa de um líder forte, mas o que se apresenta é um pântano de indecisão e fraca visibilidade. Quando, afinal, o MIS e os seus aliados esperam lançar o seu “cavalo de batalha”? Ninguém sabe ao certo. Talvez a cidade tenha de esperar ainda mais para saber qual o verdadeiro “trunfo” que aparece – se é que aparece.
Já a Iniciativa Liberal, com a sua tentativa de marcar posição num cenário político fragmentado, será, que consegue convencer? José Henriques, um empresário local, decidiu lançar-se ao desafio. Mas, sendo realistas, a sua entrada na corrida é mais uma aposta no desespero em ver a cidade neste caos do que uma solução de peso. Como num jogo de cartas, parece que todos têm uma mão cheia de promessas, mas nenhuma delas parece suficientemente forte para ganhar a partida.
O que, então, resta para os albicastrenses? A cidade, tal como os seus habitantes, vive na sombra das promessas não cumpridas e da gestão fraca de um líder que, em vez de tomar as rédeas do destino, prefere olhar para o horizonte e esperar que as coisas se resolvam sozinhas. O problema, no entanto, é que a paciência da população já se foi. E a sua frustração não pode mais ser ignorada.
O que está em jogo não é apenas a presidência da Câmara de Castelo Branco. O que está em jogo é a própria alma da cidade. A falta de confiança, que já não pode ser disfarçada pelos fogos de artifício das promessas não cumpridas, está a corroer lentamente o tecido social e político. A cidade não vive um colapso económico, mas sim um colapso de confiança – um abismo profundo onde, se nada mudar, não há volta a dar.
Em setembro de 2025 nas eleições autárquicas, Castelo Branco poderá ser a cidade que se reencontrou a si mesma ou a cidade que confirmou o seu destino: mais um ciclo de promessas vazias, mais um ciclo de inação, mais um ciclo de impotência. E o povo, cansado, mas ainda em silêncio, poderá afastar-se para nunca mais voltar.
E, então, será esta a última página da história? Ou será ainda possível reescrever a narrativa da cidade, de modo a dar-lhe um futuro que já está muito atrasado? O que se sabe é que, neste momento, o futuro é uma página em branco – uma página que poderá ser preenchida por quem tiver coragem de escrever uma nova história. Mas será que ainda há tempo?
Muito bom o seu artigo. Publiquei há anos, no jornal local, reconquista, um artigo intitulado ” Castelo Branco vejo-te triste”. Considero Castelo Branco a minha terra, mas, o povo dessa cidade quer é comer, beber e ver futebol, e já agora, esbagear uns cigarros. São felizes assim. Vivem um sono dogmático do qual não conseguem sair por falta estrutura mental coletiva. Abraço. José Barradas