A corrida à sucessão de António Costa, na liderança do Partido Socialista, estando ainda na sua fase inicial, já tem a questão do vencedor praticamente decidida: o próximo secretário-geral do PS será, quase inevitavelmente, Pedro Nuno Santos

A tempestade política que se abateu sobre o país, no passado dia 7 de Novembro, para além de ter conduzido à demissão do primeiro-ministro, à dissolução do parlamento e à consequente convocação de eleições antecipadas, desencadeou ainda uma outra disputa eleitoral, inevitável após o anúncio do acto eleitoral marcado para 10 de Março: a da eleição do novo líder do Partido Socialista, que substituirá António Costa como secretário-geral do partido que, há menos de dois anos, venceu as últimas eleições para a Assembleia da República com maioria absoluta.
Apesar do momento para avançar ter surgido bem mais cedo do que esperaria, a presença de Pedro Nuno Santos, entre os candidatos à sucessão de António Costa, aconteceu com naturalidade, o mesmo já não se podendo dizer do principal adversário que irá enfrentar na caminhada até à liderança do PS.
Desde o Congresso Nacional do Partido Socialista, realizado na Batalha, em 2018, que se sabia que Pedro Nuno Santos seria candidato à liderança do PS, no dia em que António Costa deixasse o lugar de secretário-geral. Nessa altura, a pré-candidatura de Pedro Nuno Santos ao cargo foi tão evidente que até obrigou António Costa a afirmar publicamente que ainda não tinha metido os papéis para a reforma.
Faltava saber se, no dia em que efectivamente metesse os papéis para a reforma, António Costa deixaria o partido entregue à sua sorte ou se, nos anos que faltariam até esse momento, prepararia um ou mais delfins, com capacidade política para lhe sucederem, evitando que a ascensão de Pedro Nuno Santos à liderança do PS não passasse do que vulgarmente se designa por “um passeio na avenida”.
Aparentemente, seria esse o objectivo mas o encurtamento da legislatura, em que o Partido Socialista tinha maioria absoluta, de cerca de quatro anos e meio para menos de dois, deixou claramente incompleto o trabalho da preparação de potenciais sucessores, mais alinhados com a linha política do líder cessante.
Só assim se compreende que, depois de dezenas de artigos, publicados ao longo dos últimos anos, especulando sobre quem poderia disputar a liderança do PS, contra Pedro Nuno Santos, quando António Costa a abandonasse, nenhum dos nomes antecipados tenha sentido estar em condições de dar o passo em frente. Nem Fernando Medina, nem Ana Catarina Mendes, nem Mariana Vieira da Silva, os três nomes mais mencionados na comunicação social como os mais próximos de António Costa que poderiam candidatar-se à sua sucessão, sentiram poder avançar no quadro político actual. E é neste contexto que surge, sem que alguma vez tivesse sido mencionado como hipótese, por quem quer que fosse, a candidatura de José Luís Carneiro.
A candidatura do ainda ministro e antigo presidente da Câmara Municipal de Baião, para além de resultar da natural ambição de um político que sente poder aspirar a voos mais altos, decorre, em grande medida, da avaliação muitíssimo positiva que os mais variados sectores foram fazendo do seu desempenho à frente do Ministério da Administração Interna. Depois de ter sido secretário de Estado para as Comunidade Portuguesas, no primeiro governo de António Costa, e de ter desempenhado o cargo de secretário-geral adjunto do PS, entre 2019 e 2022, a promoção de José Luís Carneiro revelou-se uma escolha acertada para o MAI, para o que muito contribuíram os variadíssimos acontecimentos negativos que marcaram a passagem pelo cargo ministerial dos seus mais recentes antecessores.
Mas se o seu desempenho, nos cargos que ocupou durante os anos que António Costa foi primeiro-ministro, lhe permitem avançar com uma candidatura a secretário-geral do Partido Socialista, apoiada por diversas figuras ilustres do PS, algumas delas que até seriam vistas com mais naturalidade na corrida ao cargo, o seu apoio junto das bases do PS dificilmente será suficiente para que possa aspirar à vitória final.
A escolha do sucessor de António Costa, na liderança do PS, não irá ser decidida pelo número de ministros e ex-ministros que apoiam as diversas candidaturas. Serão os votos dos militantes, que forem votar às sedes locais do partido, nos próximos dias 15 e 16 de Dezembro, que irão ditar o resultado final. E, entre esses, tudo aponta para que uma clara maioria opte por Pedro Nuno Santos.
Grande parte dos actuais dirigentes do PS, ao nível das federações, das concelhias e das próprias secções, está envolvida na actividade política há décadas e passou pela Juventude Socialista, antes de militar nos seniores do PS. A liderança de Pedro Nuno Santos, à frente dos jovens socialistas, deixou uma marca profunda, pela positiva, que ainda hoje se faz sentir, passadas quase duas décadas desde que ascendeu ao cargo.
Essas fidelidades passadas, nascidas ainda nos tempos da JS, conjugadas com o seu carisma e a imagem pública de ser um fazedor, num governo com uma enorme tendência para arrastar os problemas, superam, em muito, para a generalidade dos socialistas, os aspectos negativos que, em última instância, o obrigaram a pedir a demissão do governo. José Luís Carneiro tem a seu favor, sobretudo, a forma como liderou o MAI mas, mesmo tendo passado pela presidência da maior distrital do PS, a do Porto, não aparenta ter apoios junto das bases para conseguir levar a bom porto a sua candidatura.
As diferenças notórias entre a forma como as duas candidaturas foram lançadas – a de José Luís Carneiro, numa sala relativamente pequena, rodeado por umas dezenas de militantes socialistas, desconhecidos do grande público na sua quase totalidade, e a de Pedro Nuno Santos, na sede nacional do PS, apoiado entusiasticamente por dezenas de caras conhecidas do PS, mas igualmente por dezenas de dirigentes distritais e concelhios – foram um primeiro sinal claro daquilo a que cada candidatura pode aspirar.
Resta ainda uma terceira candidatura, a de Daniel Adrião, o eterno candidato a secretário-geral do PS que impediu que António Costa fosse candidato único nas três candidaturas a secretário-geral, que se seguiram à vitória nas primárias de 2014, contra António José Seguro. Nas três candidaturas anteriores, Daniel Adrião nunca foi além dos 6% pelo que nesta eleição, polarizada em torno das candidaturas de Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro, corre o sério risco de registar uma votação ainda mais baixa.