Um empresário português do setor da construção civil foi raptado no início da tarde desta segunda-feira, no centro de Maputo, elevando novamente o nível de preocupação para estrangeiros e empresários no país. O incidente foi confirmado por uma fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) de Portugal, que assegura que o consulado português em Maputo está a acompanhar o caso de perto
O sequestro ocorreu na Avenida Armando Tivane, no bairro de Sommerschield, zona central e movimentada da capital moçambicana. A polícia local confirmou o rapto e detalhou que o empresário foi abordado por um grupo de quatro homens ao sair do seu veículo por volta das 12h locais (10h em Lisboa). As imagens de videovigilância mostram dois dos suspeitos abordando a vítima a pé, enquanto outros dois aguardavam numa viatura estacionada nas proximidades. Armados, os raptores dispararam pelo menos uma vez para intimidar a vítima e, em seguida, carregaram-na à força para o interior do veículo.
Este é o segundo caso de rapto reportado em Maputo apenas em outubro. No episódio anterior, ocorrido a 11 de outubro, a vítima foi resgatada poucas horas após o sequestro, graças a uma rápida intervenção policial que culminou na libertação da vítima na cidade da Matola, nos arredores de Maputo.
Crescente Ameaça aos Empresários em Moçambique
Nos últimos 12 anos, a onda de raptos tem crescido em Moçambique, com um número alarmante de 150 empresários sequestrados, segundo dados da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA). Estes crimes são, frequentemente, associados a pedidos de resgate elevados e têm impulsionado uma onda de emigração de empresários, com pelo menos cem figuras importantes do setor empresarial a abandonar o país devido ao medo e à insegurança.
Pedro Baltazar, presidente do pelouro de segurança e proteção privada da CTA, alertou em julho que a situação dos raptos já comprometeu investimentos na ordem de bilhões de dólares, com um impacto direto no emprego e na economia do país. “Passados cerca de 12 anos desde a ocorrência do primeiro rapto, achamos que é tempo suficiente para que o Governo se pressione de forma mais pragmática a dar um basta a este mal”, afirmou o dirigente, reiterando o apelo para que o Governo implemente medidas propostas pelo setor privado para combater o problema.
O ministro do Interior moçambicano, Pascoal Ronda, declarou em março que a polícia registou um total de 185 casos de raptos desde 2011 e deteve 288 suspeitos de envolvimento em crimes relacionados. No entanto, apesar das detenções, os números sugerem que a rede de sequestros continua ativa, forçando o setor empresarial a exigir ações mais rigorosas e respostas eficazes do Governo para garantir segurança aos seus investidores e população.
Os sequestros em Moçambique representam uma ameaça crescente não apenas para empresários nacionais, mas também para a comunidade de expatriados, especialmente em Maputo, onde a presença de investidores estrangeiros é significativa. A violência e a insegurança provocadas por essas práticas minam a confiança no ambiente de negócios local, tornando-se um entrave ao crescimento económico e ao desenvolvimento social do país.
A recente série de sequestros sublinha os desafios que Moçambique enfrenta para garantir a segurança e a estabilidade no setor privado. À medida que o consulado português acompanha de perto o desenrolar do caso do empresário raptado, o episódio reforça a necessidade de medidas de segurança mais eficazes e sustentáveis. O setor empresarial, entretanto, espera por um compromisso governamental robusto para enfrentar a crise de segurança, acreditando que só assim será possível restaurar a confiança de investidores e profissionais que têm sido o motor do desenvolvimento do país.