No melhor estilo português, aquele em que nada se leva demasiado a sério, mas com cara de senhor ministro, eis que chegamos ao final do ano… ou quase. Sim, porque o fim do ano, esse ritual tão aguardado de fumar as passas, brindar com espumante barato e prometer que se vai ao ginásio (este ano é que é!), foi oficialmente adiado para 12 de Fevereiro. A culpa? As mais de 20 greves que transformaram o país num verdadeiro labirinto burocrático e emocional.
Foi o próprio Presidente da República, Gouveia e Melo, com aquele sorriso entre o paternal e o irónico, que veio à televisão comunicar a decisão. “Portugueses e portuguesas, após muita reflexão e consulta popular Conselho de Estado, informo que a celebração do Ano Novo será adiada. A data escolhida é a de 12 de Fevereiro. Porquê? Porque não?”, disse, com um ar de quem sabe que, no fundo, nem a 12 vai estar o drama resolvido.
É que há uma espécie de resignação colectiva que só os portugueses entendem. As greves, que incluem desde o pessoal da CP até aos motoristas dos autocarros, passando pelos inspectores do ex-SEF e até p’los tratadores de golfinhos do Zoomarine, colocaram o país num caos tal que, se há coisa que não podemos fazer é fingir que conseguimos organizar uma festa de fim de ano decente. Imaginem: autocarros cancelados, comboios parados, voos adiados e até foguetes sem operadores certificados para os lançar.
Claro que a ideia de celebrar a passagem do ano em Fevereiro está a causar todo o tipo de reacções. Há quem tenha ficado em pânico. “Como assim? Tenho que ficar dois meses a mais com esta lista de resoluções de 2023? Não aguento mais prometer coisas que não vou cumprir!”, lamentava uma jovem no Instagram, enquanto outra comentava que agora tinha mais dois meses para usar as calças de lantejoulas compradas nos saldos da Black Friday.
Mas há também quem veja o adiamento como uma oportunidade. “Finalmente! Mais tempo para me preparar psicologicamente para o ano que vem”, disse um campeão de sueca no café Liberdade, enquanto sorvia o seu bagaço matinal. E a verdade é que, para alguns, esta pausa inesperada serve como uma espécie de zona de amortecimento, um tempo extra para respirar fundo antes de encarar 2024.
Entretanto, os comediantes não perderam tempo. “Sabem que mais? Até prefiro assim. Sempre que começo a dieta em Janeiro, desisto a meio do mês. Agora tenho uma desculpa: ainda é 2024!”, gracejou um humorista num programa de televisão. Os memes, claro, também abundam: fotografias do Calendário Maia com a legenda “Eles é que sabiam” ou montagem do treinador do Sporting como mestre de cerimónias do Carnaval de Torres Vedras, apadrinhando o novo “Ano Novo de Fevereiro em Primeiro”.
A ansiedade está no ar. E não é para menos. O adiamento do fim do ano é um reflexo de algo mais profundo: a sensação de que o país anda, há meses, a patinar num terreno lodoso. Os portugueses, conhecidos pela sua capacidade de improvisar, estão a sentir o peso de tantas incertezas. Se já é difícil fazer planos a curto prazo, imaginem agora com o calendário todo desregulado.
O que é certo é que a vida continua. Os supermercados já estão a pensar em promoções de espumante para Fevereiro e as discotecas preparam playlists especiais. Há quem diga que, se o Carnaval é quando um homem quiser, o mesmo pode aplicar-se ao Ano Novo. Por isso, portugueses, nada de dramas. No fundo, somos o povo que transformou a saudade numa arte e as adversidades em comédia.
Como sempre: grande confusão, muito estilo, unha espetada.