Festival do Peixe do Rio 2025: Alandroal, a  “Capital das Cozinhas do Rio”

O Festival do Peixe do Rio 2025, patrocinado pelo município de Alandroal, reconhecido como a “Capital das Cozinhas do Rio”, foi oficialmente inaugurado na manhã de sábado, dia 7 de março, em Alandroal, consolidando-se como um dos mais importantes eventos gastronómicos do Alentejo. Até 16 de março, o certame promoveu a tradição do peixe do rio, workshops, atividades desportivas, provas de vinhos da Serra D’Ossa – Cidade do Vinho 2025, animação e passeios que dinamizou a economia local e reforçou a identidade cultural do território

O evento contou ainda com showcookings guiados por chefs conceituados, como António Loureiro, do restaurante A Cozinha, em Guimarães, Carlos Teixeira, do Restaurante Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz, e José Júlio Vintém, do Tombalobos, em Portalegre.

Na cerimónia de abertura, o presidente da Câmara Municipal de Alandroal, João Grilo, destacou a evolução do festival e a sua importância para o concelho. «Este festival é uma das mais fortes expressões de um Alandroal moderno e inovador, atrativo, aberto à região e ao mundo, que está a construir futuro, alicerçado no património e nas tradições da natureza e do ambiente», afirmou. O autarca sublinhou que o evento cresceu ao longo dos anos devido a um «trabalho competente e contínuo, ao envolvimento de múltiplos atores e ao investimento na qualidade».

A recordar a primeira edição do festival, realizada em 2010, João Grilo destacou que a iniciativa teve desde o início «uma base sólida de identidade e diferenciação», mas que enfrentou críticas iniciais. «Fomos desafiados, mas mantivemos a aposta e, com persistência, conseguimos fazer deste festival um marco regional», acrescentou.

A edição deste ano manteve os pilares que consolidaram o festival, como o Roteiro do Petisco, um percurso gastronómico que percorre cafés e tascas do concelho, e a Caldeirada para Todos, onde chefes locais confecionaram uma caldeirada comunitária capaz de servir cerca de mil pessoas. A oferta gastronómica foi ainda ampliada, com a participação de 18 restaurantes locais e quatro espaços de restauração na tenda do festival, garantindo uma diversidade de pratos tradicionais à base de peixe do rio.

Entre as novidades, o município apostou no reforço da comunicação com os visitantes, através do lançamento de uma aplicação móvel dedicada ao festival. «Apostamos mais na comunicação de proximidade, com uma aplicação para telemóvel onde é possível encontrar toda a informação sobre a oferta gastronómica e sobre o que está a acontecer no festival», explicou João Grilo.

Além da componente gastronómica, o evento contou com showcookings, provas de vinhos, degustações comentadas e conferências dedicadas à valorização dos produtos endógenos. A programação cultural manteve um forte vínculo à identidade local, com espetáculos de cante alentejano e fado, valorizando a música tradicional da região.

O Festival do Peixe do Rio 2025 surge também como um motor de promoção turística do concelho, reforçando a presença de Alandroal em eventos nacionais. A autarquia estruturou um programa próprio para apresentação na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), onde o festival foi promovido num momento em que o Alentejo é o destino convidado da feira. «Na BTL, estamos a divulgar Alandroal como capital das cozinhas do rio, e também o nosso estatuto de Cidade do Vinho 2025, que partilhamos com os municípios de Borba, Estremoz, Redondo e Vila Viçosa», referiu João Grilo.

O festival assinala ainda o início de uma parceria estratégica com o Município de Mértola, reforçando a ligação entre territórios banhados pelo Guadiana. «Queremos criar uma rede nacional e transfronteiriça de municípios com objetivos comuns na promoção da riqueza e tradições do rio, em especial da gastronomia. E não podíamos começar melhor do que com o município de Mértola aqui connosco», afirmou o autarca, explicando que esta cooperação surgiu no âmbito da Estratégia para um Alqueva mais inovador.

Uma das mudanças mais significativas desta edição é o regresso ao modelo original do festival, interrompido devido à pandemia. «Voltamos a ter este espaço de feira onde nos encontramos, num modelo que foi interrompido há cinco anos. Em 2020, tínhamos tudo pronto para abrir, mas já não pudemos fazer. Foi difícil, mas conseguimos reorientar o nosso foco para as pessoas, as instituições e as empresas», recordou João Grilo.

O jornal ORegiões marcou presença no último dia do Festival do Peixe do Rio 2025, acompanhando de perto as experiências gastronómicas que este evento proporcionou. Ao longo do percurso entre Alandroal e Juromenha, visitámos os restaurantes aderentes à iniciativa e provámos os pratos típicos confecionados com peixe do rio, celebrando uma tradição enraizada na cultura local.

Entre os momentos marcantes do encerramento, destacamos a participação do grupo tradicional Trigueirão do Relheiro, que animou ruas, cafés e restaurantes com modas do cancioneiro regional. O grupo, liderado por Zico Maneiras, tocador de bombo e membro da Associação das Hortinhas, Núcleo de Cultura e Formação, resgata as músicas populares dos pescadores e histórias ligadas ao contrabando de antigamente.

Aproveitámos a ocasião para conversar com Zico Maneiras sobre o festival e a importância da gastronomia regional.

Entrevista com Zico Maneiras

ORegiões – Quais os peixes característicos deste festival?

Zico Maneiras – Os peixes são o Lúcio e o Achegã, que, apesar de ter algumas espinhas, tem um sabor especial. E temos também a Caldeta de peixe barbo, que é uma maravilha! Sopa de peixe do rio, peixe do rio frito, açorda de sável, lúcio-perca assado no forno, recheado ou de cebolada, uma relíquia da tradição que vem de longe, do tempo em que o rio era o Guadiana e não o Alqueva. Os pescadores encontravam-se no leito do rio, em Juromenha, Montes Juntos, Ferreira de Capelins e Hortinhas, pescavam e cozinhavam caldetas maravilhosas. Esta tradição manteve-se e hoje é promovida no nosso festival.

ORegiões – Este restaurante está cheio, não fizemos reserva e só daqui a duas horas haverá disponibilidade para nos servir… E pelo cheirinho, percebemos que cozinham mantendo as práticas tradicionais.

Zico Maneiras – Aqui tudo é tradicional! O peixe frito é o mais típico. Existem períodos próprios para a pesca, e agora é a época ideal para apanhar o Barbo e o Lúcio. Já o Achegã, atualmente, não pode ser pescado.

ORegiões – O que gostaria de dizer aos nossos leitores do ORegiões para incentivá-los a visitar o festival no próximo ano?

Zico Maneiras – Este ano foi bom e para o ano será ainda melhor! Sempre inovando! Vir cá é provar a gastronomia do peixe do rio tradicional e biológica. Mas há também outras opções para quem não gosta de peixe, como o cabrito e o borrego. Além disso, há muito para ver e fazer: património, gastronomia, desporto como pesca e BTT, modas tradicionais com o Trigueirão do Relheiro e outros artistas locais promovidos pelo município, além do artesanato genuíno da região. Há muito a explorar e garanto que quem vier ficará satisfeito!

ORegiões – E para quem deseja levar um pouco da vosso cancioneiro local para outras margens,  como fazer para entrar em contacto com o grupo tradicional Trigueirão do Relheiro?

Zico Maneiras – Podem nos contactar pelo telemóvel 962402947 ou pelo meu email zicomaneiras1953@gmail.com. Teremos muito gosto de levar o nosso cancioneiro para outras paragens.

O Festival do Peixe do Rio 2025 encerrou no domingo, dia 16 de março com milhares de visitantes e deixou a promessa de uma edição ainda mais enriquecedora no próximo ano. Com um programa diversificado que combina gastronomia, cultura e turismo, o evento afirma-se como um dos mais importantes momentos de valorização do território e da identidade cultural e turística de Alandroal, consolidando-se como um dos grandes festivais do Alentejo.