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Hoje é dia da Caixa

A coisa ainda não se espalhou em Portugal para além de sermos apenas mirones do «boxing day», ou «dia da caixa», famoso no mundo cristão, principalmente anglo-saxónico. Mas o costume, como veremos, tem raízes profundas nas nossas tradições.

O «boxing day» tem uma origem remota, vindo do princípio do cristianismo romano. Espertos como águias, os organizadores políticos da Igreja rapidamente inventaram uma caixinha na entrada dos templos. Ali se diz, ainda hoje, que é dinheiro “para as alminhas”. Como se, pensemos bem, os cinco tostões que lá se enfiam depois fossem transferidos pelo MBWay Céu para o Marco Paulo ou para o Camões (este esfregava as mãos). Não. Toda a gente sabe que o delirante dinheiro (ou esmola) para as “alminhas” deverá servir para ajudar a Fábrica de Igreja local. Mas para que serve, exactamente?

Na tradição diz-se que o dinheiro acumulado da “Caixinha das Alminhas” deve ser guardado pela paróquia para que, no dia seguinte ao Natal, o dia de Santo Estevão, esse pecúlio seja distribuído pelos mais pobres dos pobres da paróquia. Acumula à tradição, ainda, no tempo do iluminismo e da revolução industrial, que os donos das fábricas dessem aos seus trabalhadores, uma “caixinha” com algumas lembranças – precisamente algo que lhes faltasse muito, e se fosse dinheiro, era.

O termo “Caixa de Natal” surge pela primeira vez no dicionário Oxford no século XVII, sedimentando assim a tradição que, embora não fosse canónica – ou oficial -, era bem aceite pelas Igrejas cristãs.

Com o tempo este “dia da caixa” criou raízes. Se dia 26 fosse um domingo, as autoridades autorizavam que se empurrasse para segunda-feira, para que calhasse num dia útil. No século XIX os trabalhadores iam às fábricas buscar as suas caixas e, para animar o povo, os sindicatos começaram a organizar jogos de football entre uns e outros. Como sabeis, a maior parte dos clubes tem origem em sindicatos, grupos profissionais, associações locais de intervenção política e operária – principalmente acima de França. É por isso que, também, neste «Boxing Day» as equipas de futebol jogam, todas, umas contra outras, no Reino Unido. Mantém-se assim a tradição de um dia de total feriado, com prendas de manhã e bola à tarde.

A ideia não pegou no sul da Europa. De Portugal a Itália, passando por França, o dia a seguir ao Natal não criou raízes, não se sentou para ser coisa nenhuma. A não ser, e isso começou apenas na segunda parte do séc. XX, para “ir trocar prendas e talões de oferta”. Somos mais materialistas e menos espirituais. O dinheirinho das “alminhas” é tratado de outra forma e apenas um costume entrou no nosso ritual: a prenda aos empregados.

Pois que sim, o famoso ordenado extra do 13º mês, recebido por esta época, é filho da mesma ideia da caixa ao operariado norte-europeu. Uma espécie do bodo de reconhecimento, que se tornou legal e obrigatório nos países do sul. O «Boxing Day» mediterrânico do Norte transformou-se em dinheirinho, em transferência mais ou menos valente, para que o patrão agradeça, no fim do ano, o trabalho feito pêlos seus trabalhadores.

Curiosa tradição que a máquina administrativa colocou em Novembro, muito antes do dia de Santo Estevão, que se comemora quase um mês depois do recebido. Mas, vá lá, ao menos não andamos a gastar moedas dos mortos em caridadezinha. Tendemos a ser mais solidários.

E isso importa.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

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