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O Hotel Miragem: A Ilusão Que Nunca Se Concretizou

Ah, o “Hotel Miragem”! Que nome mais pomposo, digno de um conto de fadas, mas não de um conto qualquer; mais daquelas histórias que começam com uma promessa grandiosa, mas terminam com uma risada amarga e um olhar desconsolado. Castelo Branco, cidade de alma de granito, sonhou por tanto tempo com a sua joia arquitetónica, com o seu espaço de glamour e modernidade, mas, como as melhores ilusões, essa promessa está a desvanecer-se à medida que o tempo passa. E, como toda boa miragem, é no vazio que ela se esconde.

Recordemos: 1945. O “Hotel de Turismo” surge como um farol de sofisticação no coração de Castelo Branco. Equipado com aquecimento central, telefonia direta e casas de banho privadas, era a epítome do luxo no interior de Portugal. Durante quase 30 anos, aquele edifício foi o palco das festas e do esplendor de uma cidade que se orgulhava da sua capacidade de se vestir de gala. Mas como tudo o que é bom, o hotel desapareceu em 1974, e com ele se foi o pulso da cidade. Durante décadas, Castelo Branco ficou órfã de um espaço que representava mais do que turismo e alojamento; representava identidade e orgulho local.

Foto: restosdecoleccao.blogspot.com

Entre o fim do Hotel de Turismo e o surgimento de outras tentativas como o “Hotel Rainha D. Amélia” e o “Hotel Colina do Castelo”, a cidade foi-se acostumando à ausência. O vazio ficou, com o tempo, mais palpável, e ninguém sabia bem como preenchê-lo. E então, em 2021, o “Hotel Miragem” surgiu como o salvador. A promessa de um hotel moderno, imponente, que colocaria Castelo Branco no mapa das grandes cidades turísticas. Leopoldo Rodrigues, o homem da visão, apareceu com o discurso de sempre: “Uma grande obra para uma grande cidade!” E a cidade, com o coração cheio de esperança, acreditou. Afinal, promessas políticas, são promessas de futuro, certo?

Agora, passados três anos, o que vemos? O espaço onde o “Hotel Miragem” deveria estar erguido é… um grande vazio. Não, não é um vazio poético, nem algo profundo, como aqueles vazios existenciais dos grandes pensadores. É o vazio mais simples e doloroso: o de uma promessa não cumprida. Agora, o que se vê é uma espécie de feira de Natal, com barracas que parecem ocupar o lugar de um sonho desfeito. Não temos a promessa de um hotel de luxo, mas sim a visão de uma cidade à deriva, à espera de algo que nunca virá.

E a ironia, ah, a ironia é de um tamanho colossal. A cidade que um dia teve o brilho e o glamour do Hotel de Turismo, agora se contenta com um estacionamento deserto e uma rua triste que não sabe o que fazer com o seu vazio. O “Hotel Miragem” é agora uma espécie de monumento à falácia política, um emblema de tudo o que a política moderna tem de mais ridículo: promessas recheadas de discursos e retórica vazia. Não há hotel. Há um buraco. E a cidade parece não querer acordar para isso.

Mas o verdadeiro problema não é o “Hotel Miragem”. Não. O problema está na própria noção de que a cidade pode ser salva por um edifício grandioso. A cidade de Castelo Branco já tem uma história rica e única, mas continua a ser tratada como uma criança, esperando que alguém venha e faça surgir um hotel magnífico para dar-lhe valor. O que a cidade realmente precisa, talvez, não seja mais um grande investimento, mas sim uma gestão realista, uma visão política que cumpra as promessas com honestidade e ação. Não precisamos de mais um monumento à ilusão. Precisamos de uma cidade que entenda que o verdadeiro luxo não está nas grandes construções, mas na autenticidade e nas ações concretas. Promessas são fáceis. Cumprir promessas é que é difícil.

Então, o “Hotel Miragem” continuará a ser o símbolo perfeito do que nunca foi, uma miragem no sentido mais cruel da palavra: uma ilusão que nunca existiu, mas que nos faz olhar para o futuro e perguntar, talvez, se ainda vale a pena acreditar. Afinal, como as melhores miragens, esta não desapareceu no horizonte, mas desfez-se à nossa frente. E talvez o maior luxo de todos seja perceber que, para uma cidade crescer, é preciso olhar para o futuro com olhos realistas, sem ser seduzido por promessas que se desintegram no ar.

E, ao fim e ao cabo, o que resta do “Hotel Miragem”? O vazio. O grande e confortável vazio. Um vazio que, com o tempo, se tornará apenas mais uma memória de uma promessa que nunca se concretizou.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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