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O Jornalista e Professor Fernando Correia

O anfiteatro Agostinho da Silva, na Universidade Lusófona, esteve quase repleto de jornalistas, estudantes, docentes, familiares e amigos do Fernando Correia. Falou se de democracia e liberdade, sempre sublinhando a importância do jornalismo independente, que não é sinónimo de neutralidade. Ao jornalismo independente cabe denunciar as injustiças e, mais, investigar as causas e efeitos. E o Fernando, apesar dos seus ideais bem assumidos, sabia ouvir e respeitar diferenças ideológicas.

“O Fernando era o comunista ortodoxo mais tolerante que conheci”, recorda José Pedro Castanheira, chefe de redação do diário A Luta. Recentemente lançou o livro «Os Últimos do Estado Novo», onde dedica um capítulo ao seu amigo e companheiro.

Fernando Correia iniciou a carreira jornalística em 1966 no Diário de Popular, depois de ter sido aprovado no primeiro curso de profissionalização em jornalismo, organizado pela empresa então dirigida por Francisco Pinto Balsemão, conforme lembrou José Carlos Vasconcelos, fundador do semanário O Jornal e atual diretor do Jornal de Letras. Sublinhou “ter sido o primeiro passo na profissionalização a sério, pois os jornalistas tinham outros trabalhos, era difícil viver só de jornalismo”.

Entre outras histórias contadas por José Carlos Vasconcelos, sublinhou a importância da organização e funcionamento da sala de redacção e valorização profissional nessa época de charneira. Mais tarde, ambos transitaram para o Diário de Lisboa e colaboraram no fortalecimento do Sindicato de Jornalistas.

Adelino Gomes lembrou que foi “o Fernando que o colocou no 25 de abril”, porque lhe arranjou um emprego no Diário de Lisboa, pouco ante do 25 de abril. Na verdade, Adelino Gomes destacou-se como jornalista na cobertura da Revolução dos Cravos.

Eugénio Alves, fundador e, actualmente, Presidente do Clube de Jornalistas, lembrou a amizade que o ligava ao Fernando, contando cenas curiosas vividas entre os dois à volta duma Barca Velha…

Joaquim Furtado, que no dia 25 de abril de 1974 foi quem leu o primeiro comunicado do Movimento das Forças Armadas, no Rádio Clube Português, além de vários outros jornalistas, esteve presente na homenagem em que o Professor Fernando Correia também foi lembrado por alunos e docentes da universidade. A opinião foi unanime: calmo, decente, generoso, sempre disposto a ouvir e apoiar quem a ele recorresse. Foi sublinhada a importância da imprensa regional e digital, para uma maior abrangência de leitores, numa altura em que a precariedade invade a imprensa escrita.

No ecrã do anfiteatro iam passando citações retiradas de livros do homenageado.
“A democracia, só por si, pode ser apenas um rótulo que esconde profundas
desigualdades a todos os níveis, uns pouco com muito e muitos outros sem nada.”

“O desaparecimento de uma imprensa plural não é apenas uma questão económica, é também uma questão de cidadania e ideológica, porque amputa o leque de opções das pessoas e a análise das questões fica incompleta”.

Também assistimos a extratos do seu depoimento inserido em “Testemunhos de ex presos políticos da prisão de Caxias”, entrevistas organizadas pela URAP União de Resistentes Antifascistas Portugueses, bem como do seu texto, ainda escrito na prisão, pouco antes de ter sido libertado, publicado nesse mesmo dia 27 de abril no Diário e Lisboa com o título “O Depoimento de um Jornalista do ‘Diário de Lisboa’ hoje libertado em Caxias”. Abraçado a quem o esperava à porta da prisão, seguiu rumo ao Diário de Lisboa, antes mesmo de irem festejar: ‘Vamos embora para casa, vamos comemorar!, disseram-me. Claro que concordei, mas antes tínhamos de passar pelo Diário de Lisboa, o jornal onde trabalhava, para lhes entregar um texto que escrevera. Em vez de ter ido para casa ter com os meus filhos e celebrar, resolvi passar antes pelo jornal – mas acho que fiz bem, fui jornalista até ao fim.”

É vasta a sua obra no campo da investigação ligada ao jornalismo
• Em Defesa do Jornalismo e dos Jornalistas (2013);

• O Papel Modernizador dos jornais Diário Ilustrado, Diário de Lisboa e A Capital durante a década de 60 do século XX (2011, em coautoria com Carla Baptista);

• Anos 60: um Período de Viragem no Jornalismo Português (2010, em coautoria com Carla Baptista);

• Memórias Vivas do Jornalismo; (2010, em coautoria com Carla Baptista);

• Crise de Identidade Profissional e Emergência de um Novo Paradigma (2009);

• The Portuguese Media Landscape (2007, em coautoria com Carla Martins);

• Jornalistas: do Ofício à Profissão. Mudanças no Jornalismo Português (1956-1968) (2007, em coautoria com Carla Baptista);

• Jornalismo: Grupos Económicos e Democracia (2006);

• Para uma Análise da Produção Jornalística. Determinismo e Autonomia (2005);

• Jornalismo e Sociedade (2000);

• Os Jornalistas e as Notícias. A Autonomia Jornalística em Questão (1997); Deixou muitas saudades

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Joaquim Correia
Joaquim Correia
“É com prazer que passo a colaborar no jornal Regiões, até porque percebo que o conceito de “regiões” tem aqui um sentido abrangente e não meramente nacional, incluÍndo o resto do mundo. Será nessa perspectiva que tentarei contar algumas histórias.” Estudou em Portugal e Angola, onde também prestou Serviço Militar. Viveu 11 anos em Macau, ponto de partida para conhecer o Oriente. Licenciatura em Direito, tendo praticado advocacia Pós-Graduação em Ciências Documentais, tendo lecionado na Universidade de Macau. É autor de diversos trabalhos ligados à investigação, particularmente no campo musical

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