Armindo Jacinto, o presidente turista da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, tem uma visão que ultrapassa os limites do espaço terrestre. Se as suas viagens internacionais não bastassem para mostrar que a sua ambição vai muito além das necessidades da sua terra, a próxima etapa é clara: ele está a caminho de Marte, da Lua e até dos confins do sistema solar. Afinal, por que limitar-se ao nosso planeta, quando o universo inteiro está à disposição para encher o passaporte de carimbos e ego?
Em quatro mandatos de viagens intermináveis, Jacinto já percorreu mais milhas do que o próprio Elon Musk em busca de novos mercados, mas com um detalhe: enquanto o homem da SpaceX tenta colonizar Marte para a humanidade, Jacinto, ao que tudo indica, quer colonizar a galáxia, mas para si próprio. A sua agenda internacional está agora a ser reformulada, com visitas previstas a Marte para receber um prémio por “promoção interplanetária de Idanha-a-Nova” (nunca se sabe o que a sua equipa de relações internacionais anda a negociar), uma escala na Lua para posar para uma foto ao lado de um rover lunar, e uma grande viagem a Júpiter, para um evento exclusivo onde prometerá mais investimentos que nunca chegarão.
E, como era de esperar, o plano de Jacinto não vai parar por aí. O seu passaporte, que já se assemelha a um catálogo de aeroportos internacionais, será agora a estrela de uma nova coleção: carimbos extraterrestres. Quem precisa de infraestruturas básicas quando se pode fazer turismo interplanetário? O saneamento básico de Idanha-a-Nova pode até continuar a ser uma miragem no horizonte, mas não se preocupem! Jacinto tem uma viagem a fazer a Vénus, onde certamente encontrará soluções inovadoras que, por ironia, nunca aplicará na sua terra.
Enquanto a população de Idanha-a-Nova continua à espera de promessas cumpridas, o presidente vai empoleirar-se na órbita de Júpiter, a fim de estabelecer relações comerciais com uma civilização avançada — quem sabe eles possam finalmente oferecer-lhe alguma tecnologia que resolva o “problema do esgoto”. Entre o lançamento de foguetes e o desgaste das suas milhas aéreas, Jacinto mostra-se cada vez mais distante das necessidades reais da sua terra, mas mais próximo de um futuro que, se depender dele, terá a ver com viagens espaciais e conferências de prestígio.
Mas a verdadeira questão é: o que fazer com um presidente que, em vez de melhorar a vida dos seus concidadãos, prefere desfilar pelos eventos mais exóticos, onde é aplaudido e fotografado, tal como um astronauta prestes a partir para uma missão intergaláctica? Talvez, daqui a alguns anos, Jacinto seja o primeiro presidente a inaugurar um hotel lunar e a fazer negócios com Marte. Se a sua capacidade de criar promessas com tanta ilusão fosse tão eficaz quanto a sua habilidade para acumular milhas, Idanha-a-Nova seria um centro de inovação, não uma terra estagnada e perdida no tempo.
E, claro, enquanto o presidente navega de uma estrela a outra, os seus concidadãos continuam a caminhar nas ruas vazias de Idanha-a-Nova, à espera de algo que nunca chega. Eles talvez não entendam completamente a grandiosidade de um futuro com viagens a outros planetas, mas, se Jacinto conseguir garantir-lhes uma passagem para a Lua ou até uma estadia em Marte, talvez o preço da promissora “promoção internacional” da terra compense. Afinal, no universo de Armindo Jacinto, o que importa não é a qualidade de vida de quem o elegeu, mas sim o brilho das estrelas e a eterna busca por novos carimbos em um passaporte cada vez mais imponente.
E, por fim, o verdadeiro legado de Jacinto? Um passaporte intergaláctico cheio de carimbos, uma terra em constante espera de progresso, e uma população que, enquanto ele pousa em asteroides distantes, continua a pedir o que mais parece uma missão impossível: um presidente que, finalmente, aterre em Idanha-a-Nova para resolver o que realmente importa. Enquanto isso, Jacinto continua a atravessar o cosmos, mais rápido que as suas próprias ideias, deixando os seus concidadãos suspensos em órbita, à espera de um líder que nunca chega a casa.
Este omem na esiste. Nem nu bureco se safa.
Lolulândia