Vem da Alemanha a lembrança da violência em que vivem as mulheres do Irão e do Afeganistão. Foi o chanceler Olaf Scholz que num podcast a recordou há três dias a propósito do Dia Internacional da Mulher celebrado a 8 de Março.
Curiosamente foi também uma alemã, Clara Zetkin, que em 1910 propôs uma jornada anual pelos direitos femininos sem sugerir uma data.
Esta foi instituída em 1975 pelas Nações Unidas e é actualmente comemorada em mais de cem países.
Não o será certamente no Irão e no Afeganistão onde – assinala Scholz – a luta pela liberdade pode custar a própria vida.
Custou-a a Mahsa Amini, uma jovem curda de 23 anos, em 16 de Setembro do ano passado detida pela polícia da moralidade (só o nome é uma imoralidade) por uso «defeituoso» do véu islâmico.
Não haverá Dia da Mulher no Irão, mas houve muitos dias das mulheres neste país nas manifestações contra a morte de Mahsa, alegadamente vítima de violência policial. Elas, as iranianas, foram consideradas em Dezembro pela revista TIME as «heroínas do ano».
Também não haverá Dia da Mulher no Afeganistão, país em que o governo dos talibãs (os tais estudantes de madrassas) proibiu em Fevereiro deste ano o acesso das mulheres ao ensino superior.
Elas são, nos dois países, as vítimas do fundamentalismo islâmico que consumou a sua expressão obscena nos leilões sexuais que tiveram lugar ao tempo do Daesh.
São tantas e tão extremas as situações de desigualdade entre homens e mulheres que se vivem nestas nações que as duas situações ora referidas expressam de forma eloquente.
Mas importa recordar que as manifestações em protesto em muitas cidades iranianas contra a morte da Mahsa se cifraram em mais de 400 mortes e 14 000 detidos, além de várias condenações judiciais à morte já convertidas em algumas execuções.
E de passagem pode ser também recordada a proibição afegã de as mulheres trabalharem em Organizações Não Governamentais.
Ainda que nos países mais livres do Mundo a igualdade dos géneros não seja total, por exemplo no que respeita a salários e posições de chefia – para lá se caminha por certo -, custa a entender que em vários (demais) lugares se viva ainda na Idade Média em pleno século XXI.
É seguro que não haverá Dia da Mulher no Irão e no Afeganistão. Paradoxalmente as lutas que lá se vão travando indicam que todos os dias são dias das mulheres.