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Penamacor Invadida Por Espiões Do Futuro

Sim, o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Penamacor foi o primeiro a manifestar a sua alegria pela presença de tais ‘intrusos’. A todos deu as boas-vindas. Outras personalidades locais associaram-se neste gesto de quem gosta de escancarar as portas a quem chega por bem. A vila rejuvenesceu com o ruído de tanta gente de sangue na guelra e esporas na língua. Também eu agradeci tão nobre e gentil acolhimento

Dei os parabéns àqueles metediços que acabavam de chegar e já fervilhavam na curiosidade do passo seguinte. Tratei-os como a gente mais revolucionária de todos os Agrupamentos de Escola que, quer da área da Diocese da Guarda, quer da área da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, vieram até ali, pátria que foi de Vamba, rei dos Godos, e a quem D. Sancho I outorgou foral em 1199. Foi bom, muito bom este desafio. Quem não tirou as pantufas, quem não saltou do sofá, quem não calçou as sapatinhas para trepar até lá, quem ficou à janela, com cara de vinagre, a ver passar a banda e a vida, não sabe contar a história, não fez história, a sua história de vida ficou mais pobre, não admirou tão rico património histórico e cultural, não conviveu com quem veio de outras lonjuras, não se associou à curiosidade destes notáveis exploradores…

Junto à velha porta da vila, sobre a qual assenta a antiga Câmara municipal, em conversa com três longevas senhoras, fiz-me questionar como será o meu entardecer da vida e como o frio deste terrível inverno demográfico a todos assola e entristece. Aquelas esquinas, cantos e recantos tão belos e bem cuidados, bem mereciam um montão de garotada a saltitar e a jogar, nem que fosse às escondidas ou à macaca. Mais abaixo, porém, coisa rara e bem diferente dava nas vistas: com alegria inaudita, saltitava a esperança no rosto do bebé Moisés – acho que era esse o seu nome -, que, de papo para o ar na sua alcofa empoleirada lá a um canto, agarrado ao seu biberão, sorria para a vida sob os olhares ternos da sua avó Lurdes que, amavelmente, ao balcão, servia cafés e coisas mais de qualidade. Noutro ponto da vila, dois alunos da Escola local, da área da comunicação, um ele e uma ela, assaltaram-me de telemóvel na mão e perguntas perfiladas para gravarem uma entrevista… tinham pinta os miúdos, que sejam muito felizes!… Naquela velha praça militar, recordei-me do cozinhado, a meu ver pouco curial, nada saboroso e com cheiro a esturro, que António Costa confecionou ao desafiar a liderança de António José Seguro, que, por aquelas bandas, nasceu, cresceu e, ao que soube, por ali, no sossego dos seus, vai intervalando algum do seu tempo sem necessidade de responder a perguntar aos jornalistas, que, com impertinência de mosca enervante lhe testariam a paciência sempre mui paciente e nobre: mas “qual é a pressa?” “qual é a pressa?”. Estou com ele, para ter uma vida longa é preciso viver devagar!

Mas, voltando ao princípio, que revolucionários eram estes que subiram até esta vila sem que a GNR, deambulando calmamente, perdesse o seu ar sereno e atento de quem cuida? Qual foi o motivo que ali fez arribar estes felizes diabretes? Pois, isso é que é preciso saber e aplaudir, associando a este aplauso as escolas, os professores e os encarregados de educação que entendem e se esforçam para que esta gente, a par do saber e do saber fazer, adquira valores que deem sentido e sabor à vida. Ninguém deve viver como rabugento e crítico treinador de bancada, de braços caídos como se tudo aquilo que tem de ser feito tenha de ser feito pelos outros e nada por eles. Firmes e felizes, num dia calorento de primavera a fazer descascar casacos e camisolas e a escorrichar garrafas de água, quem ali congregou esta gente foi e continua a ser o jovem mais revolucionário de todos os tempos, aquele que, inconformado com o que via, ouvia e sentia, meteu mãos à obra na construção dum mundo mais escorreito e espevitado. Filho de pais simples e refugiados políticos em país estrangeiro, nasceu numa terrinha perdida lá pelos montes onde os pastores guardavam cabras e ovelhas. Noutra terra, igualmente pequena onde todos se conheciam, viveu e trabalhou, sem água encanada nem luz elétrica, sem telemóvel nem televisão, sem bicicleta nem carro ou avião, sem futebol nem bandas e adufes. Nunca se afastou muito daí, não tinha bens, não frequentou escola nem universidade, não seguia nenhuma ideologia, não fundou qualquer partido político ou religião, não tinha títulos académicos, não possuía poços de petróleo nem conta nos bancos.

Nunca usou de violência, nunca descartou quem quer que fosse, sempre manifestou delicadeza e preocupação por todos, sem exceção. Não usou de violência, não tinha cadeias, não fez prisões preventivas, não tinha guarda costas, nem mordomias, nem pajens, nem trono, nem território, nem exército, nem armas. Não escreveu nenhum livro, não rodou nenhum filme, não pintou nenhum quadro, não compôs nenhuma partitura. No entanto, as pinotecas, os museus e as bibliotecas continuam a encher-se de pinturas, filmes, livros e partituras sobre a sua pessoa e a sua ação, a arquitetura enaltece-o, todas as pessoas de boa vontade o invocam e nele se inspiram, ele faz-se encontrado nos seus caminhos.

Com a sua proximidade e pedagogia, continua a gerar empatia, a cativar multidões, a falar com tanta simplicidade e autoridade que jamais alguém é capaz de falar assim. Foi e é o maior revolucionário de todos os tempos. Dividiu a História no antes dele e no depois dele. Se preconceitos humanos não houvesse, mesmo que não se acreditasse que ele é o Filho de Deus, mesmo que só se olhasse para ele como personagem meramente histórico, quanto proveito não viria para a humanidade se ele fosse estudado em todas as escolas, academias e universidades. Ninguém como ele influenciou e continua a influenciar tanto o destino dos povos e da História. Promoveu uma civilização fundamentada na cultura do amor e da paz, na dignidade de toda a pessoa. Os seus discípulos jamais calaram o que tinham visto, ouvido e usufruído. Com determinação e garra, continuam esta profunda revolução social a partir do interior de cada um, promovendo a cultura do amor fraterno, apontando princípios e valores que revolucionam toda a comunidade humana em questões de mútuo respeito, de direitos e deveres humanos.

A Educação é uma tarefa fundamental. Precisa de heróis a seguir, precisa de valores hierarquizados que pautem a vida. A Escola, mais do que ensinar, tem função educativa, coisa difícil mas possível. Se transmite valores, conhecimento, ciência e cultura, se fomenta a aquisição de competências para prosseguir estudos ou para inserir no mercado de trabalho, se proporciona conhecimento pessoal e integração social, não pode esquecer que a dimensão religiosa é constitutiva da pessoa humana, faz parte da educação integral. A disciplina da Educação Moral e Religiosa Católicas, que foi a causa destes alunos se concentrarem, em 19 de março, em Penamacor, ajuda as crianças, os adolescentes e os jovens a dar resposta às interrogações sobre o sentido da vida. Sem a componente religiosa, a vida perde horizontes, torna-se efémera, conduz a uma sociedade vazia de sentido. A disciplina de Educação Moral Religiosa Católica procura a formação global do aluno, permite o reconhecimento da sua identidade, permite a construção de um projeto pessoal de vida alcançado a partir do diálogo da cultura e diferentes saberes com a mensagem e os valores cristãos enraizados na nossa tradição.

Esta disciplina, porém, requer o esforço insubstituível de escolas e professores, mas é tarefa de toda a comunidade cristã, com especial destaque para os pais e os párocos, sabendo que entre a Catequese e a Educação Moral Religiosa Católica há uma relação de distinção e de complementaridade, não de alternativa. Sendo a responsabilidade dos pais ‘irrenunciável e inalienável’, sendo a dimensão religiosa muito importante na educação integral das pessoas, que bom seria se os pais se responsabilizassem mais pela inscrição dos filhos nessa disciplina, se sensibilizassem os filhos para a sua importância, e se empenhassem, individualmente ou em associação, para que a Escola oferecesse esta disciplina, em condições normais, sem indiferença, sem hostilidade, sem minimizar ou diluir a sua natureza curricular.

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Antonino Dias
Antonino Dias
“É a logica que faz prestar atenção ao clamor do pobre, do mais fraco, do marginalizado, lógica de quem se opõe à violência dos que se servem da riqueza e do poder, da injustiça e da indiferença para humilhar e explorar os outros”, disse D. Antonino Dias - 22/11/2019".

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