Uma mentira mil vezes repetida não se torna verdade, mas, se não for desmentida, começa a ser aceite como tal. Uma das páginas mais negras e vergonhosas da história recente da Humanidade prova-o inequivocamente, mas desengane-se quem pense que esta estratégia é nova. Por alturas do Renascimento, já havia quem afirmasse que os meios justificavam os fins. E, se continuarmos a recuar até aos primórdios da Humanidade, chegamos à conclusão de que muitos episódios, sem qualquer tipo de lógica ou coerência, foram apoiados por maiorias irracionais.
O controlo da psicologia das massas ajuda a explicar estes fenómenos. Os grandes líderes rapidamente o percebem. As personagens com ego superior à sua personalidade, também. Até determinada altura da minha vida, tive dificuldade em entender certos factos históricos, achando estranho que se conseguisse enganar tantas pessoas em simultâneo. Hoje, creio que já o consigo perceber. Por mais racionais que sejamos, o momento vivido no presente, principalmente em cenários de insegurança e de incerteza, leva-nos a tomar decisões emocionais e a apoiar aquilo que se afasta da nossa natureza. Esta é, também, a prova de que nem sempre as maiorias estão certas.
A história seguirá invariavelmente o seu curso e encarregar-se-á de colocar tudo no devido lugar. E muitos dos que hoje apoiam cegamente um populismo eufórico e irracional, serão os mesmos que “amanhã” abrirão os olhos para ver que, afinal, aquilo que achavam que viam, nunca passou de uma ilusão.
Afirmo-o sem qualquer tom crítico. Em bom rigor, afirmo-o com a condescendência de quem assume já ter “comprado” sonhos de papel em forma de castelos no ar… que rapidamente se transformaram em pesadelos que “encarceraram” o presente e atrasaram o futuro.
Talvez por isso seja, hoje, muito mais moderado. No elogio e, principalmente, na crítica. Talvez também por isso me foque, hoje, mais na estratégia por trás do discurso e nos tiques que se escondem por trás da dialética.
Nem tudo é o que parece e muitos destes discursos que “vendem” os “novamente grandes”, limitam-se a ser o escudo que esconde uma obsessiva ambição pessoal.
Nem sempre é fácil ter razão antes do tempo e, para alguns, é bem mais fácil estarem errados no momento certo ou, dizendo de outra forma, parecerem estar certos no preciso momento em que a história está prestes a desmascará-los, mostrando o verdadeiro conteúdo dos factos.
Apesar dos pesares, continuo a preferir ter razão antes do tempo. É também, por isso, que não me canso de dizer que Abrantes tem Alternativa.