A política internacional nunca foi uma arte de sutileza ou equilíbrio. Sempre que os gigantes se enfrentam, mais do que os choques de titãs, o que sobra são as rachaduras naquilo que ainda resta de uma civilização que se diz “civilizada”. Esta sexta-feira, 28 de fevereiro, o Salão Oval da Casa Branca, espaço de decisões que reverberam por todo o planeta, tornou-se um palco onde o que se viu não foi uma dança de diplomacia, mas sim um espetáculo digno de um drama épico, com os gigantes da política mundial a trocar socos… de palavras. E se houvesse uma trilha sonora, sem dúvida que seria uma mistura de Tweets e tanques de guerra.
De um lado, Donald Trump, o mestre do populismo e da provocação, sempre pronto a virar a mesa e lançar a guerra de palavras mais voraz que se possa imaginar. Do outro, Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, um homem que carrega sobre os ombros o peso de um país em chamas e que, entre desabafos e apelos, luta não só pela sobrevivência da sua pátria, mas pela sobrevivência de uma narrativa moral que já começa a desfazer-se em pedaços, como uma bandeira rasgada pelo vento. E se o destino da Ucrânia se decide entre fronteiras e mísseis, a sua salvação parece, em muitos momentos, depender mais da generosidade ou da frieza das palavras que se trocam nos gabinetes da Casa Branca.
“A Terceira Guerra Mundial?”
Sim, foi essa a acusação lançada por Trump. Uma alusão àqueles dias em que até as ameaças se tornam velhas. “Você está a brincar com a Terceira Guerra Mundial”, disse ele, como se o destino de milhões fosse apenas uma farsa com a qual se pode brincar. Trump, em sua grandeza de populista, disparou: “Demos muito a vocês, e ainda continuam a pedir mais. Isso não é parceria, é dependência!” – o clássico do velho empresário que já não aguenta os calotes e começa a exigir não só o dinheiro, mas também os juros. Mas, ah, quem conhece Trump sabe: a sua diplomacia é tão afiada quanto a sua língua e, quando se trata de cortar relações, não há cortesia que o salve.
Zelensky, com a postura inabalável de quem sabe que o seu povo luta não só contra os tanques russos, mas também contra a indiferença de uma comunidade internacional que parece estar a esquecer o peso da sua própria moralidade, não cedeu. Com a dignidade de quem já viu os horrores da guerra, ele respondeu com uma frase que reverberou mais alto que qualquer míssil: “A nossa luta não é apenas pela sobrevivência, mas pelos valores do Ocidente!” – e, claro, o Ocidente, como sempre, parecia estar a ser arrastado pela corrente do egoísmo, mais preocupado com a sua própria sobrevivência do que com qualquer tipo de solidariedade.
O Jogo de Palavras
Mas como todos sabemos, a política internacional não se joga apenas com a lógica. O que se seguiu foi uma troca de acusações, como se de um ringue de boxe se tratasse, onde o respeito e a diplomacia foram reduzidos a simples moedas de troca. JD Vance, o vice-presidente dos EUA, mostrou-se com a fúria de um político que vive num eterno estado de alerta, e apelidou Zelensky de “desrespeitoso”. O confronto já não era mais sobre a guerra da Ucrânia, mas sobre quem tinha mais razões para se sentir ofendido. O que antes seria uma reunião formal, tornara-se um espetáculo de trocas de farpas, como se ali se discutisse quem seria o herói e quem seria o vilão.
Zelensky, como se estivesse a lutar contra um dragão que não dá tréguas, saiu da Casa Branca não com um acordo, mas com a impressão de que falhara. A palavra “fracasso” pairava sobre ele, tal como uma espada de Dâmocles. Mas, como é típico das figuras políticas que desafiam os maiores impérios, ele continuou a sua marcha, sabendo que o verdadeiro teste não é o que se negocia nas mesas, mas o que se resiste na linha de frente.
O Enterro da Moral Europeia
E como sempre, à sombra do conflito, quem aparece? Ursula von der Leyen, aquela mesma que, qual heroína medieval, tenta exaltar a dignidade de Zelensky, enviando-lhe palavras de conforto em ucraniano, como se isso fosse mudar a realidade no terreno. Sim, de fato, a União Europeia gosta muito de mostrar o seu apoio moral… mas esse apoio tem um preço, e este, em muitas ocasiões, parece não valer nem sequer o valor de uma moeda de euro. E, claro, não poderia faltar Keir Starmer, o líder britânico, e Luís Montenegro, o político português, ambos prometendo apoio incondicional à Ucrânia, mas, como sempre, com a mão cheia de promessas vazias e corações à procura de aplausos na praça pública.
A Realidade Distorcida
O que resta desta troca de palavras, de acusações e promessas não cumpridas? Um caldo turvo, onde a diplomacia se perdeu entre o egoísmo e a retórica vazia. Trump, com as suas palavras inflamatórias, parece vislumbrar um futuro de isolamento para a América, tal como se ela estivesse a construir as suas próprias muralhas. Zelensky, por sua vez, continua a nadar numa piscina de promessas quebradas e interesses que se esfumam como a neve nas montanhas de Kiev.
Mas quem, afinal, sai vitorioso nesta troca de farpas? A resposta parece ser simples: nenhum de nós. Na grande arena do poder, quem perde sempre é a verdade. O espetáculo da política, com as suas promessas e provocações, continua, mas quem realmente paga o preço são os que lutam, sem palco, sem holofotes, e sem discursos vazios: os cidadãos ucranianos, cujas vidas são verdadeiramente a moeda de troca no jogo dos poderosos.
O Verdadeiro Herói: O Povo
Entre as promessas e os desacordos, entre os gritos de vitória e os murmúrios de derrota, a verdadeira tragédia continua a ser o sofrimento de quem nunca teve voz para se defender. A guerra é travada no Salão Oval, nas redes sociais, nos corredores da Casa Branca. Mas, lá fora, no terreno, é o povo ucraniano que paga com sangue e lágrimas, enquanto os líderes trocam palavras e interesses.
O verdadeiro herói desta história continua a ser o povo que, ao contrário dos seus líderes, nunca pode dar-se ao luxo de perder tempo. E no fim, quem não se alinha às expectativas, quem não se curva às exigências do poder, pode até ser apelidado de vilão. Mas talvez, no fim, seja este o único verdadeiro herói da história.