Esta tarde de terça-feira, 17 de dezembro, passei pela barraca da pista de gelo, uma das atrações “festivas” que a cidade de Castelo Branco resolveu investir para dar um toque de cor à época natalícia. Ali, no fim da tarde, a pista estava iluminada, cheia de crianças a deslizar com a graciosidade de quem se sente o futuro campeão olímpico. Aparentemente, o Presidente Leopoldo Rodrigues tem ouvido a população, ou pelo menos leu o que escrevi no jornal ORegiões, e decidiu agir, trazendo alegria para a juventude da cidade. Obrigado, senhor Presidente, por “fazer acontecer”! A sua visão de cidade próspera é clara… pelo menos para as famílias que não podem pagar para os filhos patinarem. Mais uma ação para a galeria de ações! Talvez o próximo passo seja criar uma pista de gelo até no centro histórico… para dar um toque de “vanguarda” ao Natal!
Entretanto, do outro lado da balança, encontramos o Senhor Presidente a dar uma de “super-herói” empresarial, mas desta vez com uma capa mais translúcida. Na última sexta-feira, dia 13, o Presidente fez questão de estar presente na inauguração de uma nova loja Continente Bom Dia na vila de Alcains. O seu gesto de apoio aos investidores foi, sem dúvida, um ato louvável. O apoio ao investimento e à criação de emprego na região é sempre importante, sem dúvida. Contudo, eis que entra a parte curiosa (ou deveríamos dizer cómica) da história: a reportagem da inauguração da loja, com todos os seus detalhes sobre a nova loja e as suas benesses para a economia local, foi partilhada na página oficial do Município de Castelo Branco no Facebook. Ora, aqui entra a pergunta: mas quem é que, afinal, está a beneficiar com este tipo de publicidade gratuita? A Câmara de Castelo Branco ou o Continente? Parece que, além de um presidente ativo, temos também um marketeer de serviço, disposto a ajudar grandes superfícies a brilhar.
Ao ver esta partilha, confesso que fiquei com a sensação de estar a assistir a um “curioso” jogo de favoritismos disfarçados de apoio institucional. Certamente que a visibilidade da nova loja não precisava do impulso gratuito do município. O Continente tem as suas próprias plataformas de comunicação. Não seria mais adequado que a Câmara se limitasse a apoiar o que é importante para os cidadãos e não se transformasse num braço publicitário das grandes marcas? O próprio presidente, ao marcar presença, tinha o direito de celebrar o evento, mas a gestão das redes sociais do município deveria, em teoria, ser um espaço para divulgar iniciativas públicas e projetos municipais, não para lançar produtos de consumo.
No fundo, temos o Presidente a dar uma de “traga lá a pista de gelo” para as crianças e, de outro lado, a fazer um brinde com a grande distribuição. Ao mesmo tempo, o município parece deixar-se levar pela agenda corporativa. É uma verdadeira dança entre o público e o privado, mas sem a mínima tentativa de esconder que o Presidente parece estar a distribuir sorrisos e luzes a quem, no fundo, não precisa de mais publicidade. A Câmara está a tornar-se, sem querer, a “agência de comunicação” das grandes marcas, e quem se vai lembrar da importância das suas ações de gestão pública no meio disto tudo?
O município está entre o cravo da pista de gelo, cheia de luzes e com as crianças felizes, e a ferradura do Continente, cuja abertura é promovida através de uma publicidade gratuita disfarçada de “apoio institucional”. A grande questão é: quem realmente está a ganhar com tudo isto?