A violência juvenil está a aumentar em Portugal, principalmente nos grandes centros urbanos de Lisboa, Porto, Setúbal e Algarve, tendo aumentado 15,7% (mais 57 crimes) em relação a 2022. Ano em que já se tinha registado um aumento de 50,6% em relação a 2021. O primeiro sinal do surgimento deste fenómeno em Portugal surgiu, em 2005, quando um grupo de 30 a 50 jovens, de uma forma aparentemente organizada, assaltou e agrediu os banhistas da praia e Carcavelos.

São oriundos dos bairros degradados da periferia de Lisboa (Amadora, Odivelas, Loures e Sintra), andam armados, vestem casacos com capuz, “pululam” pelas ruas e transportes públicos em bandos de 10/15, fumam “haxe” e “dedicam-se” a assaltar e a agredir os frequentadores das principais zonas nocturnas dos grandes centros urbanos. Este é o perfil da maioria dos jovens que integram os gangues juvenis dos grandes centros urbanos e que estão a dar “grandes dores de cabeça” às forças de segurança, que registaram 614 participações.
Segundo as forças de segurança, os gangs juvenis estão mais violentos e organizados, não se inibindo de utilizar armas para realizarem assaltos e agressões. De facto, como confirmam s nossas fontes, são mais de 30 gangues e mais de 700 jovens, já sinalizados pela Polícia Judiciária, que actuam na região de Lisboa, principalmente no Bairro Alto, Cais do Sodré, Santos e Alcântara.
“Assaltam e agridem pessoas. Provocam desacatos. Pegam fogo a contentores, pintam grafítis, furtam automóveis. São adolescentes que se movimentam em bandos de 10, 15, 20 elementos. Fumam haxixe, a maior parte não usa drogas duras.”
Na ponta do icebergue desta delinquência juvenil estão os gangues de adolescentes, em que a brutalidade, sobretudo para com outros menores, é filmada como um troféu e divulgada na net, em circuitos fechados, mas que acaba por extravasar e, por vezes, chegar às autoridades.
De acordo com a PSP, a criminalidade violenta e grave também aumentou, em 2023, 4,8% (mais 286 crimes) em relação ao período homologo de 2022 e uma subida de 1,8% (mais 44) dos crimes de delinquência grupal e de 15,7% (mais 57) dos crimes relacionados com a delinquência juvenil.
Em 2022, o aumento de homicídios entre os gangs juvenis surpreendeu as autoridades e o Governo. Dos 135 casos de homicídios registados, 24 eram casos relacionados com atividade dos gangues. Não é um fenómeno novo, mas nunca tinha tido números tão elevados. O Executivo acabou mesmo por criar a Comissão de Análise Integrada da Delinquência Juvenil e da Criminalidade Violenta (CAIDJCV), para analisar o assunto.
Destruir ou vandalizar objetos e estruturas que servem toda a comunidade, como as caixas de multibanco, os caixotes do lixo, as paragens de autocarro, por exemplo, são a “imagem de marca” destes gangs.
Fenómeno surge em 2005
Mas recuamos no tempo e vamos até junho de 2005, altura em que apareceu o primeiro alerta para este fenómeno. Um grupo de 30 a 50 jovens assaltaram e agrediram, de uma forma aparentemente organizada, os banhistas da praia de Carcavelos, concelho de Cascais.
Depois de um período de acalmia, a situação voltou a agravar-se no pós-pandemia, alastrando-se a todo o país. Como diz o presidente da Associação Representativa dos Polícias – ARP, Jorge Rufino, estes grupos já estão espalhados pelo território nacional, funcionando através das redes sociais.
É através da internet que divulgam as façanhas criminais e a “sua imagem de marca” e, por vezes, exibem os artigos e objetos furtados e roubados. As plataformas digitais também são utilizadas, não raras vezes, para “promover” confrontos entre grupos rivais, por motivos fúteis como enviar uma simples “boca” ou namoriscar a namorada de um elemento de um bando adversário.
Grupos são conhecidos
Para fontes da PJ, o envolvimento em comportamentos perigosos e violentos faz parte da identidade do grupo. “Assaltam e agridem pessoas. Provocam desacatos. Pegam fogo a contentores, pintam grafitis, furtam automóveis e movimentam-se em bandos de 10, 15, 20 elementos, adianta a Polícia Judiciária, salientando que todos fumam haxixe, mas a maior parte não usa drogas duras.
São conhecidos os grupos que operam na grande Lisboa, afirma Jorge Rufino, que identifica os mais perigosos, designadamente os “The 700Gang”; “Boba503”; “300niggers”; “RBLGang” (Amadora); os ”PDS Gang”; “RDMGang”; ”PMBrutoz” (Loures); “RDP6225 “ (Vila Franca de Xira), “Five Kapa” (Odivelas); “FDL2” (Sintra), e “AKJ” (Cascais).
Segundo Jorge Rufino, os gangs juvenis violentos também já se instalaram nos concelhos de Almada, Barreiro, Seixal e Setúbal, com a particularidade de existirem jovens que integram vários grupos em simultâneo. Jorge Rufino revela, socorrendo-se de dados oficiais, que o distrito de Setúbal é um dos três mais problemáticos a nível nacional, lembrando que, em apenas quatro dos concelhos do distrito de Setúbal, estão referenciados dez dos mais perigosos bairros de todo o país.
Este tipo de grupos costuma ter regras próprias; uma identidade, que se pode identificar pelas roupas e acessórios que os membros usam, pela linguagem e pela forma como se cumprimentam, com saudações de mão muito particulares; um nome; um líder; um território e não tem problemas em praticar qualquer forma de violência verbal, física e sexual contra outras pessoas (normalmente outros jovens), por diversão, gozo ou pela adrenalina.