– Dá licença, Almirante?
– Não.
– Mas posso entrar?
– Pode.
– Mesmo sem licença?
– Vem em serviço?
– Era assim uma coisa dessas.
– Entre lá. Homem. Diga.
– Morreu o Marco Paulo.
– Quem?
– O dos dois amores?
– Isso é uma insinuação, marinheiro? Está a querer dizer que tenho dois amores?
– Oh Sr. Almirante, longe de mim.
– Longe de si, por quê. Não posso gostar da marinha e da casa cor-de-rosa?
. Qual casa?
– Afinal, o que me queria?
– É que morreu o Marco Paulo.
– Era dos nossos? Da popa? Da proa?
– Não, sr. Almirante, era cantor.
-Um artista? Então veio incomodar-me porque morreu um maricas qualquer que cantava?
– Ele tinha aquela musica que o senhor gostava muito, sr. Almirante.
– Eu? Eu a gostar de mariquices?
– Sim, sr. Almirante. Aquela do “Dá-me um arrepio na pele / Sinto água na boca, para ficar com você”, que o sr. Almirante dizia que era sobre os marinheiros.
– Não me lembro.
– Que até tínhamos pedido uma letra para a sua campanha à Pres…
– Alto lá! É melhor parar aí. Há luto, por causa desse sujeito?
– Não, sr. Almirante, só na terra dele.
– Então não temos nada a ver com isso. Ou ele fez tropa?
– Na Guiné, sr. Almirante.
– Era dos bravos?
– Era escriturário… e também cantava para as tropas.
– Um mangas de alpaca com cantigas paneleirotas. Não me fale mais desse gajo.
– Oh Sr. Almirante, mas calhava bem uma palavrinha ao povo, a dizer que a marinha está com o coração dos portugueses, ir lá ao velório.
– Nem pense nisso!!!
– Ele está na Basílica da Estrela.
– Hummm… Ai está? Isso é diferente. Vem logo os dos televisores falar comigo. Então vá, junte aí uns homens e mulheres, peça a carrinha, a ver se estamos lá antes das oito.
– Obrigado, Sr. Almirante. Posso sair?
– Não.
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Já Viu o Marco?
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