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“Eu só quero ver / Lisboa a arder”

Devido à estultícia posta em chamas da semana passada, já não vamos brindar ao vinho verde que é do nosso Portugal. Se andou distraído, isto conta-se num fósforo. Após sair bêbado de uma festa e ao avistar um carro-patrulha da PSP, um quarentão traficante de droga e já tinha ido bater com os costados à basílica aos quadradinhos, decidiu que o melhor era fugir de carro nas barbas da bófia. É o que dá estar grogue de Grogue feito com pinguinhas de líquido de bateria de carro. O nosso meliante herói lá conduziu aos esses e vês e zês, batendo em tudo o que estava estacionado.

A bófia, que nisto nunca se acanha, vai atrás do drug dealer, que era uma pessoa simpátiquíssima e que ajudava toda a gente, saiu do carro naquele estado Rodrigo Guedes de Carvalho, versão super-homem do trânsito, software 1.0, e deve ter ameaçado a dupla policiária com murros da ilha do Sal, uma bofetada à S. Vicente, uma campa em Santo Antão, uma torreira na Praia de mar. Saltou-lhes para cima em crioulo e foi o deus nos livre. A um dos jovens polícias o reflexo do Rolex das Caldas pareceu-lhe uma arma branca, desatou a disparar como o Elmer Fudd e, pimba, duas balas nas gaivotas, duas balas no peito do ébrio. Matou-o. Pobre homem engrogado, pobre polícia verdinho que, mandava o bom-senso, patrulhasse primeiro Alvalade e só depois Chelas e depois o Cacém e, no fim, a Cova da Moura. Tipo escola.

Disto resultaram umas semi-revoltas, atiçadas por grupos de extrema-direita, nos dois primeiros dias. Ao terceiro serenou tudo porque “jogava o Benfica”. E a coisa foi-se a acalmar. Grupelhos de putos mal-amanhados andaram a botar fogo em caixotes do lixo, paragens de autocarros e viaturas várias, para dizer que também tinham petardos, daqueles que o “espanhol” vende em Lisboa. Toda a gente sabe quem é o fornecedor, mas numa economia de mercado o negócio é legítimo.

Ao fim-de-semana, saíram à rua duas manifestações, tristes e cansadas, ambas pelos motivos errados.

Arrumemos já a do Chega, que queria porrada com a outra, mas a PSP deu-lhe a volta e marcou-lhe percurso até ao bilhar grande. A segunda, onde os pobres líderes da pequena esquerda acorreram para se mostrarem, foram defender a vítima, esse cidadão exemplar que apenas batia na mulher, vendia droga aos putos do bairro e conduzia bêbado. Ainda ouvi um bocadinho de um discurso, dos muitos: “Eles exploraram-nos na nossa terra e agora querem-nos explorar e matar na terra deles”. O ‘eles’ são os portugueses.

Somando tudo, nada de jeito. Os partidos partiram-se, a populaça desaustinou-se, o puto polícia vai dentro porque teve medo (eu também teria), os movimentos da extrema-direita encapuzada vão passar pelas barbas da judite sem mácula e o baleado já foi a sepultar, sem perceber nada do que lhe aconteceu.

Como estão todos mal, mas todos, não vejo como salvar o tema. Desde a arma mal puxada às manifs contra tudo, nunca se falou do essencial: o treino da PSP, a grande irresponsabilidade de mandar um tenrinho para o meio do incêndio, os comportamentos indecentes de um

cidadão mal enquadrado e mal inserido na sociedade, o discurso de ódio dos dois lados, a famosa “desigualdade” que enche a boca de todas as pessoas, mas ninguém tem coragem para a combater e instaurar a equidade – essa, sim, a decente.

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Para mais, parece que houve um juiz que proibiu um bando destes moscambilheiros de usar isqueiro, para não atearem bombinhas. Fiquei sem perceber se era apenas isto, ou se podiam usá-los sob telha.

Isto cansa.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista, autor, (pré-agricultor).

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