Ah, a política portuguesa, esse palco onde as figuras mais impensáveis desfilam em grande estilo, sempre com a certeza de que o espetáculo nunca cessa, mesmo quando as cortinas já caíram há muito. E quem nos traz mais uma cena digna de aplausos é ninguém menos do que Armindo Jacinto, o agora célebre Presidente da Câmara de Idanha-a-Nova. Após a inusitada polémica de assinar como engenheiro, sem o ser (uma daquelas pequenas trapalhadas que só um político com ‘jeito’ poderia cometer), o autarca, decididamente, não se deixa abalar. Em vez de recuar ou corrigir o erro, optou pela estratégia inovadora que só quem é verdadeiramente destemido na arte de navegar em águas turvas conhece: a auto-despromoção. Mas será mesmo despromoção? Vamos tentar entender.
Após a tempestade mediática que assolou a sua imagem (se é que alguém alguma vez notou), Armindo Jacinto decidiu começar a assinar com a designação de “Bacharel em Eng. de Produção Agrícola”. Ora, aqui a questão que se coloca é: estaria ele a tentar enganar o povo? Ou será que, com a sua nova estratégia, o Presidente de Idanha-a-Nova se limita a testar a paciência de quem ainda o trata por “engenheiro”, independentemente da sua qualificação real? Bem, a dúvida persiste, mas a realidade é que esta mudança no curriculum não passa despercebida.
O mais curioso é que, num documento oficial da Câmara, onde deveria até só constar a sua função legítima de Presidente da Câmara de Idanha-a-Nova, ele preferiu também fazer figurar um título académico que remete para um curso que, convenhamos, é algo específico e, talvez, pouco relevante para a tarefa de governar um município. Mas, como se costuma dizer, em tempos de crise, o que importa é a embalagem! E que embalagem, caros leitores, a de um Bacharel que, ao que parece, ainda está à procura de um título mais “sólido” para assinar.
Quem sabe, no fundo, Armindo Jacinto não esteja a preparar-se para um novo desafio: retomar os estudos e, finalmente, conquistar a tão almejada licenciatura em Engenharia de Produção Agrícola. Afinal, se é para continuar a percorrer os corredores do poder com tanto afinco, nada melhor do que dedicar-se ao estudo, não é? Com tanto tempo livre até ao fim do seu mandato, talvez esta fosse a melhor forma de preencher os seus dias. Afinal, um presidente não tem de ser só um político, pode também ser um eterno estudante, não é mesmo?
Ou quem sabe, já com o diploma na mão, ele consiga então trilhar o caminho do Doutoramento em Bio de Autossustentabilidade Rural, uma área que, sejamos honestos, está mais na moda do que nunca. Este poderia ser, quiçá, o culminar da sua carreira, uma reinvenção brilhante no universo rural, que ao menos traria algo mais sustentável do que as suas promessas eleitorais.
Porém, a pergunta que fica é: por que não optou, logo de início, por uma assinatura mais condizente com a sua função e com a realidade? Não seria mais simples, mais honesto e, acima de tudo, mais direto, assinar como “Presidente da Câmara de Idanha-a-Nova”, como está na sua função? Ou será que, ao fazer isso, ele perderia o prestígio de um cargo que, aparentemente, exige mais do que competências administrativas e políticas, exigindo, afinal, uma educação académica à altura? Dúvidas existenciais à parte, Armindo Jacinto tem, sem dúvida, uma habilidade notável para reinventar a sua imagem pública.
E para os mais desatentos, aqui vai a dica: não se enganem! Aquela assinatura na parte de baixo do papel, que é quase sempre seguida de um “Bacharel em Eng. de Produção Agrícola”, não deve fazer esquecer que o verdadeiro cargo de Jacinto continua a ser o de Presidente da Câmara. Ele, como sempre, continuará a sentar-se na cadeira do poder, com ou sem engenharias, com ou sem títulos, porque, no fim de contas, o que importa é a arte de continuar a “produzir” resultados. Quem precisa de um diploma quando se tem uma capacidade notável de vender confiança, não é verdade?
Porém, é importante, e até engraçado, pensar na hipótese de o presidente Jacinto se decidir sentar novamente nas salas de aula. Uma aventura que poderia ser não só enriquecedora para o seu currículo académico, mas também para o futuro político. Nunca se sabe, depois de anos a governar, talvez ele possa ter agora uma equivalência nas matérias de “Gestão de Municípios” ou até um doutoramento em “Autossustentabilidade Política”.
Na verdade, a única coisa que falta a Armindo Jacinto, para se tornar um verdadeiro ícone da política nacional, é a assinatura completa: “Armindo Jacinto, Engenheiro (em Formação), Presidente da Câmara de Idanha-a-Nova e Futuro Doutor em Sustentabilidade Rural”. Mas até lá, continuemos a assistir ao espetáculo, sempre com uma dose extra de sarcasmo, pois, como sabemos, a política nunca é sem surpresas.
E quem sabe? Talvez a próxima assinatura seja um “Futuro Engenheiro e Mestre em Filosofia Política”. Tudo é possível quando se tem tanta imaginação e tanto tempo à disposição!