De que serve lamentar ou partilhar publicamente uma preocupação, quando o nosso exemplo contraria o sentimento que mostramos. Talvez valha a pena lembrar que seremos sempre aquilo que fazemos e nunca aquilo que dizemos, mas há quem continue a viver de aparências, capitalizando uma imagem que está longe de ser aquilo que parece.
A uns, tudo se proíbe. A outros, tudo se permite. E se há comportamentos socialmente responsáveis, haverá uns mais irresponsáveis que outros.
A vida vai seguindo ignorando os problemas ou, mais grave, escondendo-os. Duas a abater, com demagogia e algumas mentiras, e, por artes mágicas, o problema real fica artificialmente resolvido.
Os programas ocupacionais mascaram a falta de emprego, os estudos oficiais que revelam desequilíbrios são desvalorizados, os números preocupantes que sobem diariamente são camuflados e o projeto para um multiusos tenta fazer esquecer o que se investiu num cineteatro que teima em continuar fechado sem data certa para voltar a abrir.
Até aqueles que têm uma obrigação ética e uma responsabilidade social insubstituível, se demitem das suas responsabilidades e deixam de dar voz àqueles que não se conseguem fazer ouvir.
No seio desta realidade e de tanta adversidade, fará sentido continuar a lutar contra todas as probabilidades? São as dificuldades que forjam os vencedores, aqueles que continuam a acreditar ser possível e que não se diminuem quando todos, ou quase todos, já deixaram de acreditar. Mas será mesmo assim?
Voltando às aparências, ultimamente, quando me “cruzo” com algumas personalidades, vem-me com frequência à memória uma música antiga que cantava no seu refrão “palavras não me chegam com facilidade”. Será provavelmente o reflexo de uma inabilidade natural que se limita a revelar a ausência de estratégia e que se esconde taticamente, valorizando-se o “agora” sem se ter a mais pequena ideia onde se quer estar daqui a 10 anos, havendo aqui coerência entre a dificuldade daquilo que se diz com o entendimento daquilo que se faz.
O ano de 2025 arrisca-se a ficar para a história como o ano de todas as obras. Haverá as que fazem sentido e são necessárias. Haverá também das outras, daquelas que se fazem sem lógica e sem análise custo/benefício.
Há muitos milhões a mexer e a fazer mexer. Estradas, museus, creches, escolas, multiusos, parcerias, associações e outras instituições. Numa cidade onde falta tanto, ficará certamente a faltar menos. Que assim seja para que todos fiquemos a ganhar. Resta saber se assim será ou se as aparências não voltam a iludir. É que há dinâmicas que não o são, mesmo que a propaganda insista em dizer o contrário. E quando falta o essencial, continuará a faltar quase tudo.