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Desliguem os comentadores

Um homem, na vida, já passou por coisas difíceis. Doenças, perda de amigos, desnamoros, andar a contar tustos para chegar ao fim do mês… Mas, neste momento, o mais perigoso, danoso, agressivo e massivo ataque vem a nossos ouvidos através dos 23 canais de notícias que temos. E nem sequer são as notícias repetidas e mal dadas, baseadas em relatórios administrativos, “investigações” jornalísticas que são apenas fotocópias e penes do MP, enfiados debaixo da porta. Nem o piquete de polícia que o CM, o Now e agora a CêNêNê fazem, para se destacar.

São os comentadores, mãe do céu.

Os comentadores!

Quando começou a invasão russa à instável Ucrânia apareceram, de imediato e em estúdio, uns majores, capitães, furriéis em barda, a comentar as operações militares. O que eu gosto daquele alto e careca que trata toda a gente por “senhor doutor” e “senhora doutora”. Um mimo, porque uma pessoa se perde naquela perfeição de rapaz, mais alto (pero, no màs sabio) que Anthímio de Azevedo (saudade, senhor). Já o tinha posto a apresentar o Tempo de Batalha, antes do telejornal.

Depois, igualmente marcante, o Marechal Isidro, ou, como aqui lhe chamamos, o “General Apocalipse”, pois a guerra lá nas ucrânias, para ele, está sempre à beira do evangelho joanino.

Mas estes ainda passam. Tal como os da economia. Na economia, um antigo amigo dizia-me que os economistas, a fazer previsões, só se comparam aos astrólogos. Ora, como respeito imenso os astrólogos, julgo que os economistas não chegam lá com a mesma qualidade – talvez tirando um Ricardo Pais Mamede, um Eugénio Rosa, um Macedo de Cavaleiros…

Mas, rezai, agora entram os comentadores políticos. Julgo que se prepara uma catrefa de eleições (só falta aos Açores e para o Parlamento Europeu) e os génios da política adentram-nos a casa com “opiniães”. E digo “ães” tanto porque são várias, variadas e, também, na esmagadora maioria, desinformadíssimas.

Há pouco dei por mim a ouvir uma beldade chamada Maria Castello Branco (sim, com quatro ‘ás’) a dizer uma, perdoai, bacorada, do tamanho de um comboio indiano. Assegurava a menina, no canal de Nuno Santos, que ser “arguido” era pior do que ser “acusado”. Esta gente nem prestou atenção à matéria do nono ano, santa mãe de jesus. Será por ter uma carinha de palmo que a põem ali a falar. Do outro lado estava um colérico Sérgio Sousa Pinto, homem de ilustração, sem saber se trepava por cima da mesa para a beijar, se havia de sair do estúdio. Até o moderador (ou moderadora, não vi), tentava

corrigir a gaiata. Asneira atrás de asneira. No dia anterior debatiam, não sei se no mesmo canal, o falecido líder do CDS Francisco Coiso de Coiso e o filho de António Costa. Pobres em conteúdo, pobres em tema, pobres em retórica, pobres em eloquência, pobres em geometria, pobres em música… pobres de nós!

Podíamos pensar: provavelmente os jornalistas que acompanham a política têm uma visão mais arguta, mais independente. Mas, bons leitores e leitoras, é só tiros nos pés. Tiros? Nã. É mesmo à martelada. Os “editores de política”, tão emaranhados estão nos discursos oficiais e nos corredores dos restaurantes onde almoçam e jantam “com fontes”, que não conseguem lavar a cabeça com o novo Linic Ver Como o Povo. Não param de pensar senão como o sistema de rodas sem dentes que temos. Ele é o Pedro, ele é o Paulo, ele é o Martim e o Anselmo e a Anabela, ele é a Helena e a Maria, ele é um punhado de gente, que conheço bem dos meus tempos de repórter parlamentar – pessoas então cheias de garra e gana, que agora falam só por si e para si, como se estivessem no restaurante Snob, às três da matina, a cravar um bife ao senhor Albino.

(Já agora, há locais em Lisboa e Cascais onde os políticos e jornalistas convivem em galhofa amena. A saber: Café de São Bento, Boungain, Corleone, Snob, Paço da Rainha, o antigo Pabe, o velho e fechado Pedro V, etc… Mas quando é para trabalhar, os lugares são outros. Estes são estantes para se mostrarem em alento e posição).

No fim, já se sabe, há que fazer o tirocínio. Eu faria mesmo o tiro, primeiro, e o cínico, depois. Mas fica mal dizer isto. Escolha gente regrada, equilibrada e que, quando vem comentar alguma coisa de política, já ‘venha jantada’. Isto é: não precisa daquilo para nada, não depende dos 100 euros por aparição no ecrã, não está à babugem a querer ser conhecido. Escolha gente que sorri, que diz uma frase e entende-se logo. Pessoas que não se irritam nem falam por cima um dos outros – a não ser que tenha piada essa coreografia, que pode ser boa, se inteligente. E fuja, fuja para muito longe os profissionais do comentário.

Já disseram tudo. E o seu contrário. E o meu contrário, e o contrário do leitor.

Safa.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

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