Prontos, lá Portugal caiu mais um degrau na escadaria da felicidade. No Relatório sobre a Felicidade Mundial 2025, divulgado esta quinta-feira pelo Centro de Investigação do Bem-Estar da Universidade de Oxford, despencámos cinco posições, do 55.º para o 60.º lugar, com uns precisos 6,013 pontos — uma queda subtil, mas suficiente para nos fazer suspirar sobre a bica matinal. Lá no topo, os finlandeses, com os seus 7,842 pontos, celebram o oitavo ano consecutivo como os reis da alegria. O que há errado connosco? Será o sol, esse traidor que nos banha em luz e nos amolece a alma, enquanto os nórdicos, nas suas trevas invernais, se aquecem em saunas e felicidade?
Ou será a inveja, esse bichinho que nos faz espreitar o carro novo do vizinho enquanto resmungamos sobre o nosso UMM? Talvez seja a forma como tratamos as pessoas — o Estado e as empresas, num rasgo de generosidade quase ofuscante, dão-nos tanto que nós, portugueses ignorantes, não sabemos apreciar. Somos como a Floribela: ricos em sonhos, pobres em oiro. E, como dizia o alquimista, “o sonho comanda a vida”. Somos tristes porque somos burros. Só pode ser isso.
O Abismo Sem Saída
Mas o que fazer perante tamanho descalabro? O sol não se apaga com um interruptor, a inveja é mais teimosa que erva daninha, e mudar a forma como nos tratamos uns aos outros parece tarefa para titãs — ou, pelo menos, para quem tenha mais paciência que nós. Os finlandeses, esses mestres da alegria quantificada, devem rir-se nas nossas costas, enquanto preenchem os seus inquéritos com precisão cirúrgica.
Talvez devêssemos imitá-los, trocar o mar salgado pelo gelo escandinavo, aprender a amar o silêncio e as renas. Mas isso implicaria esforço, e nós, mestres da procrastinação pitoresca, preferimos ficar aqui, a lamentar-nos com uma melancolia que, convenhamos, até tem o seu charme. Afinal, quem precisa de felicidade quando se tem um país inteiro a dançar ao som da própria desgraça? Estamos condenados, parece. O relatório sentencia-nos com os seus números implacáveis, e nós, pobres mortais, não temos escapatória.
A Glória da Nossa Tristeza
Contudo, esperem lá! E se esta queda no ranking for, na verdade, o nosso maior triunfo? A felicidade, essa coisa fugaz que os finlandeses apregoam, é sobrevalorizada. Nós, portugueses, temos algo mais profundo, mais duradouro: a melancolia, esse elixir da alma que nos faz únicos. Enquanto Cesário Verde vagueava por Lisboa, pintando em versos a beleza e o desalento das suas ruas, ou enquanto Amadeo de Souza-Cardoso desafiava o mundo com as suas telas tortuosas, nasceu a essência do que somos. A nossa tristeza é a musa da nossa arte, o coração da nossa poesia, o alento das vozes que ecoam do rancho folclórico aos insuportáveis Xutos-1.
Que se fiquem os nórdicos com os seus pódios estéreis! Nós agarramos o nosso 60.º lugar com orgulho, sabendo que é na penumbra do nosso temperamento, onde luz e sombra se entrelaçam, que reside a verdadeira riqueza. Pois, no fim, o que importa não é uma classificação num papel, mas a intensidade com que vivemos, amamos e, sim, sofremos. Então, erguemos um brinde — com um galão robusto, claro — à nossa gloriosa tristeza. Que ela nos inspire, nos defina e nos mantenha eternamente, belamente portugueses. No
índice do desalento seremos todos príncipes e princesas. E anões, apesar da Branca de Neve os ter perdido no último filme.