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Angola Misteriosa

Angola é terra de mistérios e lendas. Feiticeiros, bruxas, gente maléfica que com
mezinhas ou mesmo só mau-olhado lança o vizinho na agonia. As suas mágicas
atraem gente de todos os lados, pedindo protecção, bênçãos e milagres pessoais. O sobrenatural faz parte da milenar tradição africana.

Foto: D.R.

Eu vivi isso no Chiange e no Chipindo, na província do Huambo, numa altura em a tropa portuguesa substituira a autoridade do Chefe de Posto, personagem muitas
vezes ligada às forças colonialistas, já nos meses posteriores a abril de 1974.
Cabia-me procurar quem supostamente fizera feitiçaria e ameaçar de prisão, caso não “desfizesse a macumba”. Mesmo as autoridades tradicionais tinham peso e funcionavam paralelamente ao Estado, incluindo em matéria de justiça, com julgamentos em tribunais consuetudinários. Ainda se manterá este processo extra judicial, com sentenças baseadas nos usos e costumes?

Farrapos pendurados nas árvores, água benta misturada com sal à porta de casa, amuletos variados, “meu alferes, ajude-me, o meu vizinho lançou maldição, faça alguma coisa”! E lá ia eu, por vezes a meio da noite, com algum soldado mais disponível para ajudar, tentar deslindar a estranhesa. Diga-se que para ser acusado de feiticeiro não eram precisas provas, bastava um acontecimento fatídico fortuito. A morte de um familiar — até a própria mãe, durante o parto — podia ser suficiente para acusar uma criança, levando-a a ser ostracizada e afastada da família e da comunidade. Com frequência os militares eram chamados para resolver kalundús, lançados em alguma aldeia como maldição por uma garina local ter desfeito certo casamento!

E lembro-me de “um velho muito velho”, pequenino, que vivia numa cubata perto do
quartel no Chipindo, que contava histórias que me fascinavam – pessoas transformadas em mesas, todas as coisas podiam ser azarados do tomboko – que eu ouvia depois de “dançar” a rebita em algum barracão dum kimbo próximo, onde o arrastar de pés no chão terroso enchia a sala de pó. Ou o camarada Lulendo, sempre sorridente que, a caminho da mata onde havia olongos e zebras, me relatava factos fantásticos acontecidos mais para ali, falta pouco, horas e horas a andar… na verdade, normalmente, só víamos fezes de elefante e caçávamos coelhos e perus bravos… com espingarda G3…

À noite, no único quarto do pequeno destacamento, logo ao lado da camarata dos soldados, adormecia ao som do leitor de cassetes onde soavam “rocalhadas” da época.
Tantas cenas que me apetecia continuar a reviver – algumas bem preocupantes outras assaz divertidas – mas é altura de referir a razão que levou a este texto: falar de um livro do autor huiliano Osvaldo Sahopa com o título Contos que Ninguém Conta: revelações do sobrenatural e do perceptível. São onze contos que retratam, nas palavras do autor, “as revelações sobrenaturais e do óbvio que acontecem em algumas regiões de Angola e que muita gente tem medo de revelar até nos dias de hoje e trás factos reais em forma fictícia que ninguém consegue destapar, preferindo  assumir a culpa sem culpa nos segredos milagrosos daqueles que aparentam serem lúcidos aproveitando-se dos inocentes; factos como o envolvimento entre Padres e Madres, Padres e crentes, a promiscuidade sexual, o lesbicismo, o feiticismo e bruxaria, o adultério auxiliado pela bruxaria, o incesto entre outros assuntos são abordados no livro sem tabu”.

África pura e esotérica, “onde os contos são totalmente de minha autoria e daí não ser necessário colocar bibliografia”. E que títulos enigmáticos, quase sedutores: Castidade Sequestrada, Incesto Ambicionado, A Saia que não Tapa a Vergonha, Promiscuidade Sexual Saboreada, A Falha no Desmame…….
E o autor termina a apresentação do seu trabalho: “Como todo o lado na vida, tem mais de um lado, aceitem o convite e mergulhem de corpo e alma ao lerem as revelações de misticidades e que acredito que cada um se reverá nas nelas, mas sentir-se-ão rejubilados, pois no final de cada conto encontrarão uma Lição Moral que reconfortará os ânimos porque haverá quem quererá viver ou reviver os contos que o livro narra”.

Osvaldo Sahopa Monteiro Bernardo, pseudonimo literário Osvaldo Sahopa, natural do Huambo, Angola. Licenciado em Ciências da Educação. Professor de Matemática, escritor, poeta, romancista, cronista e contista. Académico Correspondente e Imortal da Academia de Letras e Artes de Arroio Grande (ALAAG) – Brasil. Autor dos livros digitais (E-book) A Mestria do Amor, Amor Colossal, Reflexões Motivacionais e Crônicas da Alma, todos incluídos no portal da ASA HUÍLA, onde podem ser baixados de forma grátis.

Nunca é demais referir a Academia de Autores da Huíla, ramificação cultural da Fábrica de engarrafamento de água “preciosa”, que se estende pela Fazenda Shangri-lá, onde a natureza é preservada e protegida. Esta associação cultural continua a desenvolver um trabalho notável, contribuindo para a difusão da cultura local. Pensar Futuro/ Agir Local é o seu lema, com cerca de 250 obras em acesso online, a que se juntam diversas atividades junto das escolas da Huíla. Criada em 2019 com o objectivo de recolher obras e trabalhos de escritores e candidatos a escritores da Província da Huíla, recebeu o apoio do Clube de Pensadores, espaço de discussão pública e exercício democrático mediados pelo biólogo Joaquim Jorge.

Nos últimos três meses, de janeiro a março de 2025, o portal da Asa-Huíla recebeu
392.929 visitas e em breve haverá mais novidades. A ASA-HUILA continua a voar alto nas montanhas da Chela!

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Joaquim Correia
Joaquim Correia
“É com prazer que passo a colaborar no jornal Regiões, até porque percebo que o conceito de “regiões” tem aqui um sentido abrangente e não meramente nacional, incluÍndo o resto do mundo. Será nessa perspectiva que tentarei contar algumas histórias.” Estudou em Portugal e Angola, onde também prestou Serviço Militar. Viveu 11 anos em Macau, ponto de partida para conhecer o Oriente. Licenciatura em Direito, tendo praticado advocacia Pós-Graduação em Ciências Documentais, tendo lecionado na Universidade de Macau. É autor de diversos trabalhos ligados à investigação, particularmente no campo musical

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