A Feira Raiana deste ano, inicialmente apregoada como um grandioso evento capaz de atrair multidões, revelou-se um fiasco de proporções épicas. O que prometia ser uma celebração de cultura e comércio regional transformou-se num burlesco desfile de incompetência e desorganização. Previa-se que 100.000 almas cruzassem os portões do recinto ao longo de dez dias. A realidade, no entanto, foi uma amarga surpresa: pouco mais de 20.000 visitantes acorreram ao local, um número que nem sequer dava para encher a praça dos escuteiros num dia bom. E tudo isto depois de terem sido gastos valores que fariam corar qualquer orçamento familiar.
Em prol da “transparência” — palavra que ultimamente em Idanha-a-Nova parece ter perdido o sentido — o Presidente da Câmara, Armindo Jacinto, agendou uma reunião extraordinária para, supostamente, esclarecer o rombo financeiro que a feira deixou nos cofres municipais. Quatro dias após o encerramento do certame, o que era para ser uma discussão robusta e esclarecedora acabou por ser mais uma tragicomédia à idanhaense.
No dia da reunião, esperava-se uma sala cheia de autarcas prontos a encarar a realidade, mas o que se viu foi um cenário digno de um teatro vazio: apenas dois solitários figurantes em palco, o próprio presidente Armindo Jacinto e o vereador da oposição José Gameiro. Os restantes? Uns decidiram que era melhor ir a banhos, outros alegaram compromissos de última hora, e há até quem tenha simplesmente desaparecido sem deixar rasto. Ah, a política moderna! O requinte do planeamento e a dedicação ao serviço público são tão evidentes que quase se sente pena… pelos contribuintes.
A situação alcançou o cúmulo do absurdo quando se constatou que, para a reunião ser válida, seriam necessários pelo menos três participantes. Mas eis o verdadeiro truque de magia: ninguém, nem do executivo nem da oposição, se deu ao trabalho de submeter o necessário papelinho a tempo, o que permitiria a substituição por outros membros. Uma falha? Um acaso? Ou talvez um plano orquestrado na penumbra dos bastidores políticos? Fica a dúvida, mas a resposta é menos relevante quando o espetáculo é tão tragicómico.
E assim, tanto o executivo PS de Idanha como a oposição Movimento para Todos, numa simbiose quase poética, mostraram que quando se trata de política selvagem, todos vestem a mesma pele. Transparência? Ética? Responsabilidade? Em Idanha-a-Nova, estes conceitos são tão raros quanto os visitantes que faltaram à feira.
O ditado popular já o dizia: “Tão ladrão é o que rouba a vinha como o que fica à porta”. Mas na política de Idanha, parece que o “roubo” é duplo — da vinha e do sentido de dever. E assim segue a marcha na Idanha a Nova, onde a oposição e o executivo disputam palmo a palmo o título de quem consegue ser mais inapto na nobre arte de governar. Enquanto isso, os habitantes, aqueles que realmente importam, permanecem no escuro, aguardando, talvez em vão, por um resquício de seriedade que nunca chega.