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A Política precisa de Cidadania

É essencial conhecer o pensamento do Papa Francisco e da Igreja Católica sobre a Política, mesmo para quem não seja cristão ou não tenha uma prática ou credo religiosos. Na Encíclica Fratelli Tutti, divulgada em outubro de 2020 junto ao túmulo de São Francisco de Assis – frade carismático e renovador que, a par de personalidades não-católicas como Martin Luther King, Desmond Tutu e Mahatma Gandhi, inspirou o Sumo Pontífice – este discorre sobre a importância da fraternidade e da amizade social, lamentando as “sombras de um mundo fechado” e pugnando pela necessidade de “pensar e gerar um mundo aberto e de diálogo” e de uma “política melhor”.

Reconhecendo que “a política está muito suja” e que “os cristãos não se dedicaram a ela com espírito evangélico”, o Papa afirma que “é fácil dizer que a culpa é dos outros, mas trabalhar para o bem comum deve ser um dever para cada cristão”. Pede, por isso, uma “vida política autêntica, fundada no direito e num diálogo leal entre os sujeitos” e “novas atitudes capazes de desencadear processos cujos frutos serão colhidos por outros, com a esperança colocada na força secreta do bem que se semeia”.

Concretizando, Francisco fala do comportamento desviante de alguns políticos que, não só mancham o bom nome da política e de quem a realiza, como desmotivam e afastam muitos cidadãos das atividades políticas, incluindo as que se prendem com o exercício de direitos básicos de cidadania (como votar). Nesse sentido, aponta o dedo ao “maior individualismo, menor integração, maior liberdade para os que são verdadeiramente poderosos e sempre encontram maneira de escapar ilesos”.

O Papa critica, também, a “maquilhagem mediática”, aconselhando os políticos a verem-se ao espelho e questionarem, não «quantos me aprovaram, quantos votaram em mim, quantos tiveram uma imagem positiva de mim?», mas sim «quanto amor coloquei no meu trabalho? Em que fiz progredir o povo? Que marcas deixei na vida da sociedade? Que laços reais construí? Que forças positivas desencadeei? Quanta paz social semeei? O que produzi no lugar que me foi confiado?».

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Sublinhando que “nenhum indivíduo ou grupo humano se pode considerar omnipotente, autorizado a pisar a dignidade e os direitos dos outros indivíduos ou grupos sociais”, Francisco apela a que cada político permaneça um ser humano

e “ame o mais insignificante dos seres humanos como a um irmão, como se existisse apenas ele no mundo”. Na política, diz (contrariando o mito instalado), “há lugar também para amar com ternura, o caminho que percorreram os homens e as mulheres mais corajosos e fortes”. O Sumo Sacerdote mostra-se convicto de que “cada mulher, cada homem e cada geração encerram em si uma promessa que pode irradiar novas energias relacionais, intelectuais, culturais e espirituais”.

O Papa pede aos políticos uma “política salutar” e um “compromisso com a verdade”, dizendo que “quando está em jogo o bem dos outros, não bastam as boas intenções, é preciso conseguir efetivamente aquilo de que eles necessitam para se realizar”. A má noção que muitos cidadãos possuem da política, diz, “deve-se aos erros, à corrupção e à ineficiência de alguns políticos, a que se juntam as estratégias que visam enfraquecê-la, substituí-la pela economia ou dominá-la por alguma ideologia”.

Nas palavras de Francisco, sábias e inspiradoras, “pretende-se reduzir as pessoas a indivíduos facilmente manipuláveis por poderes que visam interesses ilegítimos, sendo necessário trabalhar com base em grandes princípios e tendo presente o bem comum a longo prazo”. Nesse sentido, o Papa apela à cidadania, exortando à “inclusão de movimentos populares – que crescem de baixo, do subsolo do planeta – para que animem as estruturas de governo com aquela torrente de energia moral que nasce da integração dos excluídos na construção do destino comum”.

“Embora incomodem e alguns pensadores não saibam como classificá-los”, diz, “é preciso ter a coragem de reconhecer que, sem eles, a democracia atrofia-se, torna-se um nominalismo, uma formalidade, perde representatividade e vai-se desencarnando porque deixa de fora o povo na sua luta diária pela dignidade, na construção do seu destino”. Os movimento populares são, conclui o Sumo Pontífice, “semeadores de mudanças, promotores de um processo para o qual convergem milhões de pequenas e grandes ações interligadas de modo criativo, como numa poesia. Neste sentido, são poetas sociais que, à sua maneira, trabalham, propõem, promovem e libertam”.

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José Nascimento
José Nascimento
Tem 68 anos e vive na aldeia de Vale de Zebrinho (Abrantes). Reformado do ensino superior, onde lecionou disciplinas de gestão e psicologia social, dedica o seu tempo à atividade cívica e autárquica. É, também, membro do núcleo executivo do CEHLA – Centro de Estudos de História Local de Abrantes (editor da Revista Zahara). Interessa-se pelas dinâmicas políticas e sociais locais e globais, designadamente pelos processos de participação e decisão democráticos.

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