Como seríamos mais felizes se reinasse o amor entre os homens… E entre as mulheres. E entre os homens e as mulheres. Rasga-se a raça em preconceitos monoteístas com morais emparedadas e o que a Humanidade podia ser, afinal, não é, apenas pelo preconceito.
Imagino, vejam lá V.Ex.as, uma Europa feliz, onde os 234 mil órgãos e departamentos que tem fossem, pelo menos, conduzidos apenas pelo amor. Um amor súbito, um amor de longe, um amor escondido na diplomacia dos papéis. Por exemplo, imaginemos que o presidente do Conselho Europeu andava de mãos dadas com a presidente da Comissão Europeia! A paz, senhores, a paz. Costa sossegava os primeiros-ministros, Ursula os comissários, o Parlamento Europeu era, assim, um grupo grande de filhotes desse amor luso-germânico.
Um amor prático, alegre, um novo amor que embevecesse os piores inimigos. Putin pedia em casamento a viúva Melânia de Trump, este fazia-se à italiana jeitosa que preside o parlamento Europeu e, num esgar, o norte-coreano Ió-Ió Jung pedia Taylor Swift em casamento. Lula, claro, ia pedir o amor livre: o amor pela chuva, lava. Jacto de torpor e regresso à Idade do Aquário, Bethânia e Lula, Milei e Mia Couto, eu sei lá.
O amor essencial, como as pedras. A pedra essencial na pedra filosofal, a Opus Dei passaria a Opus Darei e finalmente dava, dava o que Jesus e Maria Madalena pediram: dava amor e nunca mais deixaria à fome um crente. A Opus passava a ir ao talho em vez de ir à Talha. Dourada manhã de domingo em que nos libertávamos das guerras, das invejas, dos moscambilheiros, dos desamantes, dos larápios de coração que nos deixam pelo beiço e fogem ao final da tarde, qual cultura Mayan.
Pensam que vos embrulho? Não. O amor como ideologia política é uma proposta que visa transformar as estruturas sociais, económicas e políticas ao colocar a compaixão, a solidariedade e o cuidado mútuo como os princípios centrais da organização social.
Há muitos na política que defenderam esta ideologia. Por exemplo, o norte-americano Martin Luther King Jr, que combateu o racismo e a desigualdade e que, por causa dessa sua ideologia pelo amor, foi morto pela extrema-direita norte-americana. Outro dos políticos que defendia o mesmo pensamento era Mahatma Gandhi, o libertador da Índia do jugo britânico – embora sobre Mahatma ainda haja muito a deixar comichão na sua biografia.
Também se junta ao grupo de ideólogos do amor bell hooks, filósofa e feminista, que defendia a equidade, a igualdade e, claro, o amor entre as pessoas. E há muitos mais. Numa linha europeia clara encontramos Simone Weil, filósofa e ativista francesa.
E, se calhar um dos mais importantes, foi Gustavo Gutiérrez, teólogo e líder da Teologia da Libertação. Esta corrente cristã defende exactamente os valores que os grandes teólogos julgam ver na mensagem de Jesus Cristo, histórico ou teológico: “Uma visão do amor baseado no compromisso com os pobres e os oprimidos. O amor não era apenas uma questão de emoções pessoais, mas uma escolha política e ética de lutar por um mundo mais justo e igualitário», dizem os biógrafos.
Por isso creio que, um destes dias, queira o tempo e a liberdade, Costa e Ursula aparecerão de mão beijada a apregoar MLK, Gandhi, Weil – numa sintonia de olhares e calores que levantará a Europa à proa!