Viva, chegámos a 2037!!! Lisboa celebra finalmente a inauguração do seu novo aeroporto, um marco histórico para Portugal e para o mundo. Pelo menos é o que asseguram os cartazes azuis e brancos espalhados pela cidade de Al-Cochete, entretanto reconquistada pelo governo Sírio. Mas há um pequeno detalhe: em 2037, os aviões já não existem. Foram substituídos por foguetes horizontais, uma invenção revolucionária que combina a eficiência do transporte intergaláctico com a simplicidade das bicicletas eléctricas. Com esses foguetes, qualquer pessoa pode viajar de Lisboa a Tóquio em 32 minutos e 47 segundos, caso saiba equilibrar-se e não tenha medo de altitudes rasantes. A bagagem continuará a ser gratuita desde que reduzida a umas truces e um palito.
No entanto, a inauguração do Aeroporto Intercontinental de Alcochete (AIAC, carinhosamente apelidado “Ai, Aqui!” pelos lisboetas) foi envolta numa confusão que faz lembrar um quadro do surrealismo ibérico. Cristiano Ronaldo, agora Primeiro-Ministro e dono de um par de ténis que dizem ser mais valiosos do que o PIB da Madeira, cortou a fita vermelha — uma fita que, na verdade, segurava um andaime improvisado. A multidão ovacionou, confusa entre o patriotismo e o embaraço, enquanto ‘drones’ jornalistas transmitiam imagens da “grande obra”: um aeroporto ultramoderno equipado com passadeiras rolantes a energia solar e torres de controlo operadas por chatbots. Um avião da TAP, alugado pela angolana TAAG, faria a aterragem de inauguração. Mas, chatice, o raio do andaime da fita vermelha caiu para a cabeceira e agora tem de se chamar a Câmara para tirar o mono.
Entretanto, já se vociferava, as obras ainda não estavam propriamente terminadas. A pista principal estava repleta de buracos “ecológicos” para a conservação das rãs endémicas, enquanto o terminal dois foi convertido numa feira permanente de NFTs de monumentos portugueses. Há quem diga que a construção foi acelerada para coincidir com as eleições, mas Ronaldo garantiu ser tudo parte de uma “visão 7D” para o futuro do país.
Aliás, o Executivo, numa conferência de imprensa à beira do caos, tentou explicar o propósito de um aeroporto sem aviões. O Ministro das Infraestruturas, Chico da Tina, vestido com um fato holográfico que o fazia parecer sempre presente e ausente ao mesmo tempo, declarou que o aeroporto era “a prova de que Portugal é um país que olha para o futuro, mesmo quando o futuro olha para outro lado”. Já o Ministro das Finanças, Hámit Mazécaro, responsável pelo controverso financiamento da obra mediante rifas digitais e patrocínios de marcas de azeite, limitou-se a dizer que “o importante é que foi feito”.
Com esta épica inauguração concluída, o Governo de Ronaldo não levou tempo a anunciar as próximas grandes apostas em obras públicas: pontes submersas para ligar os continentes a Ponte-de-Sôr, viadutos em looping que prometem revolucionar as viagens terrestres, com duas saídas: uma para trás, outra para onde deus quiser.
E, ainda, a construção de sedes para empresas startup-unicórnias fantasma, uma iniciativa inovadora que, segundo fontes não confirmadas, será entregue ao experiente José Luís Arnaut. Afinal, Portugal continua a ser um país de sonhos grandes, mesmo que o guiché de informações esteja sempre fechado.