Todos os temas fraturantes na sociedade portuguesa têm sido discutidos debaixo de uma bandeira ideológica que acabam por retirar razão à argumentação. Foi assim com o aborto e com o casamento entre pessoas do mesmo sexo, é assim com o racismo e com a pena de morte, foi assim com a eutanásia ou com a liberalização das drogas leves e, mais recentemente, tem sido assim com o fenómeno da imigração.
Entendo o papel dos partidos e a partidarização da discussão destes temas mas também entendo que estas bandeiras ideológicas funcionam como barreiras sociológicas a um desenvolvimento que devia ser livre, natural e individual.
Quando um partido toma uma posição nestes assuntos, está a condicionar fortemente o pensamento de todos aqueles que se reveem nesse partido e o tema passa para uma dimensão que não permite uma discussão tranquila, lúcida e com elevação na argumentação.
Mas para que fique claro quero que se perceba que quando me refiro à partidarização não me circunscrevo apenas à política, alargando a “partidarização” ao fenómeno desportivo e às opções religiosas.
O fundamentalismo irracional por trás de cada individuo que veste cada uma destas “camisolas” sem ter a preocupação de aprofundar o conhecimento do tema em discussão talvez seja o exemplo perfeito daquilo que somos socialmente e do quanto ainda estamos atrasados ao nível das mentalidades.
A emoção é inimiga da razão e as discussões viscerais servem para tudo menos para esclarecer.
Temos a atenuante de ser uma democracia relativamente jovem e de nos terem permitido começar a pensar há relativamente pouco tempo.
Além do mais, sabemos que o ato de pensar pode ser perigoso porque é revolucionário e pode tornar-se num hábito viciante. E este hábito pode ser perigoso porque este vício pode rapidamente ficar fora de controlo. E este é um risco que aqueles que têm responsabilidades neste país não querem correr.
Continuemos então a ser uma voz num coro de seguidistas permitindo que que continuem a decidir por nós ou, deixem-me ser ligeiramente mais corrosivo, permitindo que continuem a pensar por nós… empunhando bandeiras ideológicas que funcionarão como barreiras sociológicas!