Se a política albicastrense tivesse banda sonora, seria um desafinado coro de promessas ocas, uma sinfonia de mediocridade regida por maestros de batuta frouxa. O espetáculo da Assembleia Municipal de 27 de fevereiro provou que, em Castelo Branco, o teatro político oscila entre a comédia de enganos e o drama do desperdício.
No papel principal, Leopoldo Rodrigues, o ilusionista-mor da autarquia, insiste em vender progresso como se palavras fossem cimento. O presidente proclama desenvolvimento, mas a cidade afunda-se num marasmo de rotundas repetitivas e anúncios sem substância. O tempo passa, os slogans multiplicam-se, mas a cidade continua refém de um enredo sem clímax.
Nos bastidores da oposição, Miguel Barroso desmonta, peça por peça, a engrenagem emperrada do executivo. António Fernandes, num raro vislumbre de lucidez, brada contra a inércia, enquanto Pedro João, com fotografias de estradas que parecem relíquias da Idade Média, expõe a miséria das infraestruturas locais.
Atores secundários também tentam roubar a cena: Christelle Domingos, com o fervor de uma sacerdotisa, anuncia obras que só existem no plano etéreo da ficção política. José Pires, poeta improvisado, declama discursos que disfarçam a vacuidade estratégica. Carla Massano, num exercício de ficção científica, tenta convencer a plateia de que este executivo fez mais que os anteriores – uma tese que nem na secção de literatura fantástica encontraria espaço.
A cereja no topo deste bolo azedo surge com Adelina Martins a questionar a adjudicação nebulosa da plataforma Marckplast, enquanto Ana Lourenço, com a paciência de quem já viu esta peça demasiadas vezes, enumera a ladainha de promessas incumpridas. Luís Andrade, no seu papel de crítico, desmonta o caciquismo da câmara com a precisão de um cirurgião.
A plateia assiste, incrédula, a este desfile de equívocos. Há algo de tragicómico na forma como a política local se tornou um espetáculo grotesco, um Carnaval perpétuo onde as máscaras nunca caem e os figurantes continuam a desfilar sem rumo.
O povo albicastrense, farto deste enredo requentado, já não ri nem aplaude. A paciência esgota-se e a verdadeira revolução acontecerá quando o público abandonar a sala e trocar o teatro da incompetência pelo palco da mudança. Porque, como diria um certo filósofo da televisão, “falam, falam, mas não fazem nada.”