Terça-feira,Fevereiro 11, 2025
8.5 C
Castelo Branco

- Publicidade -

Compromisso e confiança na política e nos políticos

Em democracia, é essencial que haja confiança na política e nos políticos. A confiança vem da credibilidade que estes transmitem aos cidadãos-eleitores e que estes lhes reconhecem, dependendo essencialmente de dois fatores: Honestidade e Competência. A que se pode acrescentar um outro, também importante, que é a capacidade de comunicar eficazmente, com a ética que se exige.

Enquanto esta, a Comunicação, só pode ser avaliada ‘a posteriori’ – i.e., depois de o político ou organização política comunicarem, i.e., transmitindo as suas mensagens e auscultando as dos cidadãos – a Honestidade e a Competência requerem (quando o candidato é pouco ou nada conhecido) uma avaliação ‘a priori’, para que se possa decidir em quem votar: «Será o candidato honesto e competente?».

‘A posteriori’, o cidadão avalia: «Foi (está a ser) o político honesto e competente? Comunica bem?». Cada uma destas variáveis merece considerações extensas e detalhadas, mas, nesta crónica, vou focar-me apenas numa: a Honestidade. Este conceito, como acontece geralmente, pode ter diversos significados, importando focarmo-nos no que interessa.

Diz-nos o dicionário que, por Honestidade, se pode entender decoro, honradez e integridade. Mas também verdade, rigor e probidade. Ou seja, há uma honestidade intrínseca, ligada ao caráter e à personalidade (essência moral), e uma honestidade extrínseca, ligada à tomada de decisão e ao comportamento efetivo (ação concreta).

Nesta última categoria, estão as promessas feitas e os compromissos assumidos, os quais podem ser, ou não, cumpríveis e cumpridos. Não é honesto falhar (às) ou incumprir as promessas feitas e os compromissos assumidos, tal como não é honesto fazer promessas ou assumir compromissos sabidamente irrealistas ou incumpríveis.

A política e os políticos estão, infelizmente, indelevelmente colados a factos deste tipo, com ou sem intencionalidade. O incumprimento de promessas e compromissos já foi, até, em alguma medida “normalizado”, deixando a política e os políticos de ser devida e severamente sancionados por isso. Esta realidade faz parte do fenómeno maior que é a descredibilização (da) e a perda de confiança na política e dos políticos.

Imagine-se, por hipótese ficcional, que o vereador afeto a determinado partido – falando em nome deste e de si próprio – declara, quando se candidata e encabeça a lista desse partido, ser contra a demolição de um edifício antigo, mas funcional, com valor histórico e patrimonial, para, no mesmo lugar, ser construído um novo edifício com caraterísticas e valências que considera inadequadas.

Imagine-se agora que, depois de eleito, esse vereador (na oposição) – que sempre manteve o compromisso assumido durante a campanha eleitoral e nos primeiros anos do mandato subsequente, acrescentando até argumentos à sua posição de sempre – vota

inesperadamente ao lado da maioria, a favor da demolição do edifício antigo e construção do novo, não apresentando qualquer declaração de voto e deixando os cidadãos perplexos e indignados. Quando questionado por estes, justifica-se dizendo que votou de acordo com a (nova, mas não justificada) orientação do seu partido, com a qual até concorda…!

Qualquer semelhança entre este caso hipotético e a realidade, é pura coincidência. Quem poderia imaginar uma aleivosia e afronta destas?! Todavia, façamos o exercício meramente académico de admitir estas premissas, para legitimamente concluir que o vereador e o partido desta ficção deram o dito por não dito, traindo assim a confiança neles depositada pelos seus eleitores e pelos cidadãos em geral.

A confiança na política e nos políticos está na base da confiança na democracia, sendo a descredibilização daqueles a descredibilização desta. A política e os políticos – logo, a democracia – credibilizam-se com atitudes e comportamentos de honestidade e competência, eficazmente comunicados. Os cidadãos-eleitores confiam nas promessas feitas e nos compromissos assumidos, ou seja, na política e nos políticos – logo, na democracia – quando percecionam e atribuem a estes a credibilidade que a moral e o dever fazem ou permitem esperar.

- Publicidade -

Não perca esta e outras novidades! Subscreva a nossa newsletter e receba as notícias mais importantes da semana, nacionais e internacionais, diretamente no seu email. Fique sempre informado!

Partilhe nas redes sociais:
José Nascimento
José Nascimento
Tem 68 anos e vive na aldeia de Vale de Zebrinho (Abrantes). Reformado do ensino superior, onde lecionou disciplinas de gestão e psicologia social, dedica o seu tempo à atividade cívica e autárquica. É, também, membro do núcleo executivo do CEHLA – Centro de Estudos de História Local de Abrantes (editor da Revista Zahara). Interessa-se pelas dinâmicas políticas e sociais locais e globais, designadamente pelos processos de participação e decisão democráticos.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques

- Publicidade -

Artigos do autor