“A todos um bom Natal”. O desejo do Coro de Santo Amaro de Oeiras é um clássico intemporal desta época do ano que vem invariavelmente acompanhado de boas memórias dos tempos em que eu era pouco mais velho que a idade atual da minha filha mais nova.
É a essas memórias que “prendo” o meu pensamento, ignorando os diversos coros dos dias que correm. É que apesar de este ser um Natal diferente, não deixa de ser Natal e, como sempre, ele será muito daquilo que nós quisermos. É por isso que faço questão de ignorar a arrogância, o pretensiosismo, a insensibilidade, a falta de respeito, as ameaças veladas e os tiques ditatoriais.
Como tenho vindo a defender, mais do que nunca, este é um ano onde faz ainda mais sentido, menos na rua e mais dentro de casa. Menos brilho na rua e mais calor dentro de casa, que é também uma forma de sermos coerentes com os valores nobres da época.
Mas respeito a opinião de todos aqueles que se juntam a outro coro para defender o contrário, mesmo que, na minha opinião, ela colida com o desejo do Coro de Santo Amaro de Oeiras. É que, mais uma vez de acordo com a minha opinião, somos o que fazemos e não o que dizemos e apenas conseguimos contagiar através do exemplo. E aqui, perdoem-me a insolência, já não se trata apenas do exemplo, mas também da coerência, pelo que não basta desejarmos “a todos um bom Natal” se negligenciarmos a responsabilidade de criar condições para que muitos possam, de facto, ter um melhor Natal.
Mas continuo a respeitar o coro daqueles que não pensam como eu. Respeitarei sempre, porque este, é um dos valores que está alicerçado na minha educação e na minha formação. E esse, é um legado que me deixa um misto de orgulho e de responsabilidade. Orgulho nos valores transmitidos e responsabilidade para não defraudar a memória de uma referência tão importante na minha vida.
E isso talvez seja desconcertante e pouco habitual. Ser firme e corajoso na defesa de uma opinião, mantendo a elevação sem perder o respeito por todas as outras opiniões, e sendo suficientemente humilde para continuar a ouvir sem temer uma mudança de opinião baseada na solidez da argumentação de quem pensa diferente.
A realidade diz-me que se fala muito e se ouve pouco quando o contrário é que devia estar certo. Tenho a firme convicção de que quando ganharmos esta consciência, estaremos mais próximos de ser parte do coro que fará tudo para que todos tenhamos, efetivamente, um bom Natal.