Em Castelo Branco, o desporto tem sido promovido como o grande salvador da cidade, especialmente através do downhill urbano, que já se firmou como um evento de prestígio no calendário desportivo nacional. É difícil não ficar impressionado com a transformação do Clube de Ciclismo de Castelo Branco, que fez do downhill uma espécie de culto local, atraindo multidões sedentas de adrenalina. No entanto, por detrás das cortinas da celebração desportiva, esconde-se um espetáculo ainda mais pungente: o da hipocrisia descarada dos que dizem liderar a cidade.
No ano passado, a autarquia, que tanto se vangloria de apoiar o desporto e a cultura, mostrou o seu verdadeiro rosto de mesquinhez e falta de visão. António Mil-Homens, um fotógrafo de renome internacional( fotojornalista do jornal ORegiões), foi vítima dessa visão estreita e provinciana. A sua exposição “Bicicletas de Macau”, destinada a complementar o evento de downhill, deveria ter sido um símbolo da união entre desporto e cultura, mas acabou por ser uma metáfora cruel da negligência e do desprezo por parte de quem detém o poder em Castelo Branco.
José Dias Pires, Presidente da Junta de Freguesia, encenou um teatro de boas intenções, prometendo apoio logístico para a exposição. Mas no dia da inauguração, nem carrinha, nem presidente da câmara, nem sequer um resquício de gratidão. O que poderia ter sido uma celebração conjunta do talento local e da importância cultural das bicicletas foi, em vez disso, ignorado e tratado com um desdém inqualificável. Para José Pires e o seu chefe, Leopoldo Rodrigues, Presidente da Câmara, a cultura parece ser um incómodo, algo que deve ser tolerado apenas quando não desafia o status quo ou, pior, quando não lhes retira o protagonismo.
O episódio demonstra de forma cristalina a mediocridade que impera nos corredores do poder em Castelo Branco. José Pires e Leopoldo Rodrigues revelaram-se como políticos de visão curta, para quem a obediência cega e a falta de pensamento crítico são as únicas qualidades apreciadas. Estes são os homens que, enquanto promovem um espetáculo de bicicletas descendo as colinas a toda velocidade, atropelam sem remorsos a cultura e a liberdade de expressão.
A ironia é gritante: enquanto as bicicletas voam pelas ruas empedradas, celebrando a velocidade e a destreza, a cultura e o respeito pelo trabalho alheio são deixados a apodrecer na Sarjeta. O downhill de Castelo Branco é mais do que uma corrida de bicicletas; é uma corrida desenfreada de uma liderança para lugar nenhum, onde a única coisa que verdadeiramente se destrói é o valor pelo esforço e pela dedicação dos que não se alinham com o regime.
Castelo Branco pode ter o seu grande evento desportivo, mas perde, a cada pedalada, a sua alma cultural. E no fim, quem sai mesmo a perder são os cidadãos, deixados à mercê de uma liderança que confunde movimento com progresso e que acredita que a velocidade pode compensar a falta de direção.