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Entre Promessas Vazias e Prédios a Cair: A Comédia Trágica de Castelo Branco

É verdade universal que agradar gregos e troianos é uma missão impossível, mas, ao escrever esta crónica, a intenção não é agradar, mas sim apontar o óbvio, que alguns insistem em ignorar. Em Castelo Branco, temos um executivo autárquico que, de tão inoperante, parece estar a governar com as mãos atadas. Leopoldo Rodrigues, depois de três anos a chefiar a câmara, tem demonstrado uma habilidade rara em fazer promessas fáceis e difíceis de concretizar. O presidente adora falar de diálogo, mas, na realidade, parece que o único diálogo que pratica é consigo próprio, numa espécie de monólogo interior onde ele é o único a aplaudir as suas (in)decisões

Comecemos pelo óbvio: o teto do CCCCB, que foi arrancado por um vendaval há três anos. O edifício, situado no coração da cidade, continua a oferecer uma vista desoladora aos turistas que ali passam, com o ringue de gelo coberto por grades e um ar de obra inacabada. “Será arte moderna?”, perguntam-se alguns. Infelizmente, não. É apenas um monumento ao desleixo. Seria simples reparar o estrago, mas, três anos depois, a autarquia parece estar mais interessada em “diálogos” do que em soluções práticas.

Se nos colocarmos no centro da antiga Devesa e girarmos 360 graus, o panorama é de um abandono que faria corar qualquer administrador competente. Prédios históricos a desfazer-se, farmácias que ameaçam ruir, e antigas casas de reuniões transformadas em fantasmas de outrora. Este cenário apocalíptico é, segundo parece, invisível para os olhos de quem deveria zelar pelo património da cidade. Mas, em vez de se preocupar com o estado lastimável destes edifícios, o executivo decidiu plantar umas floreiras, numa tentativa patética de “embelezar” o que deveria ser restaurado.

Parece que, em Castelo Branco, o que conta é a propaganda. O presidente aparece em todo o lado, talvez a preparar terreno para as próximas eleições. É provável que os turistas comecem a chegar em massa, atraídos pelo marketing local. Mas, quando se depararem com o centro cívico abandonado, perceberão que, por detrás da maquilhagem barata, a cidade está a cair aos pedaços.

O que se espera de um governo é que este, pelo menos, mantenha uma fachada de competência. Em vez de desfigurar o que resta da beleza original de Castelo Branco, não seria mais sensato investir na recuperação dos edifícios que são a alma da cidade? Mas não, prefere-se o facilitismo. Para quê restaurar o que está em ruínas quando se pode simplesmente ignorar?

No final de contas, talvez o problema maior não seja o presidente ou o partido. O verdadeiro problema é a falta de pensamento crítico dentro e fora das fileiras do Partido Socialista. Enquanto houver uma cultura de seguidismo, onde as opiniões contrárias são vistas como heresia, a cidade continuará a afundar-se no marasmo. Como diria Sérgio Sousa Pinto comentador de televisão e ilustre das fileiras socialistas, é preciso pensar pela própria cabeça, mesmo que isso signifique discordar do partido. Em Castelo Branco, urge que mais vozes se levantem, dentro e fora do PS, para dizer o que precisa de ser dito: a cidade merece mais do que promessas ocas e prédios a cair.

As eleições estão à porta e, com elas, a esperança de que, pelo menos, se levante um andaime para começar a arranjar o que há muito deveria ter sido restaurado. Se não for por convicção, que seja pelo medo de que os turistas, ao verem o estado do centro cívico, pensem que, afinal, em Castelo Branco, a única coisa em crescimento é o abandono.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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