Há quem escreva opinião para agradar, para ser aceite e tornar-se (ou manter-se) popular, cedendo ao populismo e, amiúde, à demagogia e ao oportunismo. No seu afã, alguns fazem por ser “mais papistas que o Papa” e dispõem-se a escrever “por encomenda”. Eu não escrevo nem para agradar nem para desagradar, escrevo para questionar. Questionar para pôr em causa, fazer pensar, buscar melhores alternativas e inspirar. E, quando discordo, contesto ou critico, procuro fazê-lo com fundamento e o intuito de melhorar ou inovar.
É preciso questionar. A sociedade está cheia de pensamento linear e “de manada”, mitos e preconceitos, ideias “politicamente corretas” e, cada vez mais, baseadas em tóxica desconfiança e “qanonianas teorias da conspiração”. As pessoas tendem a fantasiar e acreditar, mais do que a julgar ou avaliar com base em evidência disponível. É o tempo da “pós-verdade” e dos “factos alternativos”, geradores de confusão e descrédito generalizados.
Quem escreve – e escrever deverá ser um dever cívico e um direito protegido – deve fazê-lo de forma genuína, com verdade (ou em busca dela, se preferirem) e sem a preocupação de agradar a quem quer que seja – muito menos à turba ou a caciques – ainda que daí possam vir gratificações ou recompensas de qualquer ordem ou natureza, designadamente extrínsecas (aceitação e prestígio social, votos e apoios políticos, empregos e negócios, etc.).
Não é possível agradar a todos. Quando se escreve algo para todos, não se está a escrever nada para ninguém. E, ainda que se escreva para a maioria, será a maioria – por natureza volátil – quem mais importa? Ou serão os líderes de opinião virtuosos (esqueçam essa praga dos “influencers”…), onde se inclui quem sabe e é dotado de sensatez e maturidade? Na verdade, o que importa definitivamente é estar do lado certo (daquele que se julga sê-lo, obviamente) da razão, da ética e da História.
Julgo que a maioria dos leitores aprecia mais a honestidade e profundidade da escrita do que o concordar ou discordar do que leu, além de que é muito mais interessante conhecer uma posição diferente e algo controversa sobre determinado assunto, do que vãs e habituais generalidades, vulgaridades ou pensamentos “fofinhos”. Deve, por isso, prevalecer a autenticidade, distintividade, motivação, criatividade e impacto da opinião que se expressa.
A Autenticidade refere-se ao sentir genuíno e à perspetiva sincera de quem escreve, recusando imitar o que outros escrevem ou são, aparentando ser quem não é. A Distintividade aponta para uma escolha pessoal, única e facilmente reconhecível, do estilo e personalidade individuais do autor. A Motivação, desejavelmente intrínseca, reflete o desejo íntimo de se expressar, explorar ideias e contar histórias importantes que interessam aos leitores.
A Criatividade sugere a vontade de inovar, de explorar novas abordagens e influenciar tendências, partilhando uma visão própria da realidade e da escrita. E o Impacto marca os efeitos – persuasivos ou meramente hedónicos – que a escrita terá nos leitores, procurando equilibrá-los com a legítima paixão e liberdade de expressão do autor. Todos estes 5 fatores a convergir para uma escrita que, mais do que agradar, deve apontar, questionar e inspirar.








