Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo nasceu a 21 de Novembro de 1960 em Moçambique. Ainda a Lourenço Marques era uma “garden city by de sea” (um jardim à beira-mar), como cantava João Maria Tudella. O Almirante era um petiz. No ano seguinte entornava-se o caldo em Angola e a guerra colonial começava a dar cabo de Portugal e das colónias à força, a pouco e pouco. Em 1979, fresquinho que nem uma alface, sai formado da Escola Naval — um grande escape para muitos jovens antes de irem bater com os costados à guerra ou, depois dela, para conseguirem um grau académico decente.
Casou-se em 1986, data em que Portugal entrava na CEE, e tem dois filhos. A carreira militar foi de sucesso até ao dia em que era necessário dar injecções aos portugueses, devido ao bicho chinês que ia matando meio-mundo. Melo foi chamado para organizar a cronicamente desorganizada Função Pública e, aplicando a lógica, vestindo a farda e rindo-se nada, ganhou respeito do povo. Era, como se dizia, um homem sério.
Mas, ao que vem agora Henrique Eduardo, que deixa o seu nome andar por aí aos trambolhões nas sondagens e parece a nossa Taylor Swift, que o país ama! Vem ao que vem: disseram-lhe poder ser Presidente da República porque o povo se rendera aquela barba aparada e às peças de Lego coloridas que trazia ao peito.
Mas cuidado. Henrique não é um menino, nem é um não-político. Ao contrário. É o perfil ideal que, outrora se viu em Manuel Monteiro, Paulo Portas e até, espante-se, o sujeito Sócrates.
O Almirante é formado em Comunicações e Guerra Eletrónica e tem uma pós-graduação em “Information Warfare” (Guerra de Informação). Henrique Eduardo domina a mensagem pública, sabe quando e como comunicar. Sabe o que dizer e quando. Sabe desacreditar o outro. E, ainda por cima, sabe que os media portugueses o adoram.
É por isto que o Almirante tornará as presidenciais num campo de batalha, onde cada candidato terá de calçar botas cardadas para derrubar o homem que andou mais de 20 mil horas debaixo de água, em submarinos, a ver o mar, mas por dentro.
Pensemos bem: domina a comunicação, tem uma boa imprensa, impressiona pela sua actuação de “não político”, já veio dizer o pior da Função Pública — disse que eram muitos galinheiros com muitos galos, mas nenhum fazia nada —, e assombra à direita e à esquerda.
Gouveia e Melo é um populista intolerável. Dar uma rabecada a uma tripulação, na Madeira, para as câmaras verem, foi um acto de prepotência e profundamente degradante. Aquilo trata-se na caserna, não no baile de finalistas. Não se humilham militares em público, sob pena de perderem autoridade e respeito das pessoas.
Por isso o profundamente populista e, não tenham dúvidas, homem de direita dura, tem de ser enfrentado por um guerrilheiro que dê a volta ao popularismo e populismo. Ainda ontem se veio auto elogiar, dizendo que só ele é que estava ungido para as vacinas e as seringas. E Portugal engoliu.
O Almirante Seringa é um perigo. Não é o jovem Eanes, com um curso de seis meses de política do MFA. Não: é um politizado e perigoso militar a querer a cadeira mais alta do Estado de uma República civil.
Não se ponham a pau, não. O Ventura, ao pé dele, não passa de um cartaz.