Alto! Não se trata de uma manobra à mão amada, perdão, armada, com uma arma branca ou um pistolão, caçadeira ou fisga. Feria é a raiz da palavra Feriado, mas também de feira. Se a esta última demos a conotação nominal dos dias úteis, Feria viria a ser adendada com o “do” e ficou Feriado. O que quer isto dizer? Vindo do latim profundo, eis o significado: «Repouso em honra dos deuses».
A coisa dava jeito e os primeiros calendários, muito diferentes do nosso, tinham dias e dias de repouso, pois as divindades eram mais do que muitas. Copiadas aos gregos, as deusas e deuses latinos, romanos, passeavam-se tranquilamente pelos calendários e lá havia paragens a preceito para que os senhores de mais alto preceito tivessem desculpa para não fazer um chavo – como se precisassem.
Veio o tempo, mudou-se o calendário, Roma rendeu-se ao cristianismo, os países foram vendo o que lhes dava jeito e hoje, nos países da cristandade, há feriados comuns e feriados apenas nacionais, mesmo que sejam cristãos ou católicos. Se fossemos a dar-nos ao repouso aos santos, então era de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro que honraríamos, honraríamos, honraríamos, e não mexíamos uma palha. Na verdade, cada dia do nosso calendário é dedicado a um santo, um orago pra mim, um orago pra ti, olá, olá – e a vida sorri!
Mas lá nos contivemos e ficámos pelos deuses cristãos. Sim, a religião cristã é monoteísta na sua essência, mas começou logo com divisões em três, como um partido de esquerda em 1974.
A saber, primeiro chegou o filho, que disse que era o filho e o pai ao mesmo tempo. A malta, como ele transformava uma cunha de unto em milhares de peixes e pães, deixou-se estar. Mais tarde adensou-se o mistério. A pomba branca, pomba branca, era o Espírito Santo, o bom, com a sua rama da oliveira no bico. Portanto, o monoteísmo cristão eram logo três deuses em um, mesmo que fosse um dividido em três.
Quando, uns séculos depois, os romanos levaram com as religiões locais, a Igreja Católica aceitou as divindades femininas – e eram muitas, deste lado da Europa. Só por cá, antes e depois do Endovélico, as deusas e as meigas (fadas) dançantes sintetizaram-se numa única figura, ao nível de deus, para não zangar os povos. Eis a Virgem Maria, a Nossa Senhora, a mãe do filho do pai que era igualmente parte do pai. Tranquilamente, o cristianismo e, principalmente, o catolicismo lá aceitou, à força, a deusa-mãe, que teve de engolir a custo e só se rendeu quando aquela história mal contada de Ourém, que os bispos portugueses odiaram a princípio, lá entrou por via da fé de milhões. Consagrou-se Nossa Senhora de (e aqui está o desenrasca português) de Fátima. Fátima, um nome islâmico de origem árabe. Topam? Cá no burgo fizemos uma espécie de ONU do monoteísmo e até dizemos «oxalá» que corra bem. «Oxalá» quer dizer «Que Alá o deseje». Tudo numa boa, dois cafés para esta mesa.
Por isso, é em Portugal que é o centro do mundo no antecipado V Império, onde mais gostamos de «repousar para honrar os deuses». Venham eles.