A Obra de um Mandato: Quando a Água se Torna o Grande Show Eleitoral de Castelo Branco
Há um ano, a Rua de São Tiago, em Castelo Branco, foi tomada por um projeto de requalificação que, de tão emblemático, mal conseguiu resistir à sua própria pompa. Inicialmente prevista como a grande resposta para os problemas de mobilidade e acessibilidade da cidade, a obra, que parecia mais um palácio de papel do que um projeto sério, chegou quase a seu término, ou melhor, ao seu fim… praticamente nas vésperas das eleições autárquicas de 2025. Coincidência? Ou seria uma tentativa desesperada de marcar presença num mandato que se resume mais a anúncios de intenções do que a um trabalho eficaz?

Leopoldo Rodrigues do partido socialista (PS), o presidente da Câmara, parece ter transformado a Rua de São Tiago numa metáfora ambulante do seu próprio governo. Se a obra foi, como tantos dizem, uma grande aposta política, ela carrega consigo um conjunto de falhas tão evidentes que até o mais incauto observador consegue enxergar. O projeto, que deveria melhorar a acessibilidade da rua, revelou-se um desastre logístico. Os autocarros, supostamente pensados para passar com facilidade, mal conseguem virar a esquina, tal é a estreiteza do traçado. E a entrada para o Hotel Rainha Dona Amélia? Pois bem, o que poderia ser uma via confortável para o transporte de turistas virou um pesadelo: um espaço tão reduzido que exige várias manobras dos autocarros. Não é difícil imaginar o que aconteceria num momento de emergência, com os bombeiros a tentar chegar rapidamente ao hotel, ou aos prédios vizinhos. Seria uma verdadeira operação de resgate, mas sem o tempo necessário para salvar a cidade de uma tragédia.


A crítica não se limita a esta obra isolada. A falta de visão de Leopoldo Rodrigues é visível em vários aspectos da sua gestão. A cada anúncio grandioso, a cidade parece estar mais longe daquilo que realmente precisa. A fonte monumental com som e luzes, que se ergue como uma espécie de monumento ao ego, é um reflexo perfeito do estado de coisas. Custou 740 mil euros, e não, não estamos a falar de um novo hospital ou centro cultural, mas de uma extravagância que só quem vive da propaganda política poderia achar “necessária”. A cidade já tem problemas mais urgentes, como a falta de habitação e o envelhecimento da infraestrutura urbana, mas o que temos é uma fonte que, em vez de resolver algo, cria mais um ponto de atratividade eleitoral. Uma obra a brilhar como as luzes da sua fonte, que tenta cegar-nos para as falhas mais evidentes do que deveria ser um mandato voltado para o bem-estar da população.
Mas, claro, o melhor está por vir… ou será o pior? A grande obra de Leopoldo está instalada sobre uma lage de um parque de estacionamento subterrâneo que vive em constante conflito com infiltrações. A questão não é se a fonte vai cair, mas quando isso vai acontecer, e o que será necessário para consertar o estrago. Porque, afinal, como o próprio projeto de requalificação da rua, a fonte é mais uma falha disfarçada de espetáculo. Um espetáculo que, como tudo o resto na gestão de Leopoldo Rodrigues, promete mais do que pode cumprir.
Se a Rua de São Tiago fosse uma obra de iniciativa privada, a construção teria sido reprovada pelo município na mesma hora. Ninguém pode acreditar que a empresa contratada, ao ver o projeto e as plantas, não tivesse percebido as falhas evidentes. Mas, mais uma vez, o que importa aqui é o timing eleitoral. A inauguração, que se aproxima a passos largos, parece ser apenas um ensaio para um evento que pretende ser mais grandioso do que funcional. E, como todos sabemos, é na véspera das eleições que surgem as grandes obras: aquelas que não têm impacto real na vida das pessoas, mas que deixam um rastro de promessas vãs, de soluções fictícias.
Não seria, então, de admirar que, no grande dia da inauguração, a multidão que ali se juntar seja tão pequena quanto a verdadeira importância dessa obra para a cidade. Talvez seja mais seguro convidar menos gente, não vá o peso das promessas – e das estruturas – fazer com que tudo desabe de vez.

O que se passa em Castelo Branco é um jogo de espelhos. À medida que o presidente tenta convencer-nos de que a cidade “precisa de modernização”, os problemas reais continuam por resolver: a escassez de infraestruturas adequadas, a segurança nas ruas, a mobilidade eficiente, a acessibilidade para todos. Nada disso foi contemplado de forma séria. Pelo contrário, temos fontes a brilhar e ruas que nem os autocarros conseguem atravessar sem risco de enguiçar.
Leopoldo Rodrigues, com a sua visão megalómana, segue em frente. Mas o que está a construir? Uma cidade mais funcional ou um palco para a sua própria vaidade? As obras, tal como as promessas, são como miragens no deserto: de tão distantes, parecem belíssimas, mas ao chegar perto, desmoronam-se. E a cidade? Bom, a cidade fica para trás, esperando por um líder que não a olhe como um simples meio de campanha, mas como um verdadeiro lar para todos os seus cidadãos.


Até lá, vamos assistir ao show. E quem sabe, na próxima campanha, surgirá uma nova obra – e outra fonte. Uma fonte mais alta, mais luminosa, mais grandiosa… só para que, mais uma vez, a cidade continue à espera.