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IDENTIDADE TERRITORIAL e POTENCIAL HUMANO

Não tendo na minha posse uma varinha mágica, considero que o problema do concelho de Abrantes assenta em duas questões: A Identidade e o Potencial Humano.

A década de opulência marcada pelos anos 90 passou. A partir do início do novo milénio, a decadência do Concelho, evidenciada sobretudo a nível demográfico, marcou e marca o andar dos tempos.

Nos últimos vinte e cinco anos, todas as tentativas para recuperar a miragem de desenvolvimento da década de 1990 esbarraram numa dura realidade. Somos, hoje, um dos inúmeros concelhos de baixa densidade.

“Abrantes capital da energia.”, “Abrantes cidade digital.”, Abrantes cidade desportiva”, “Abrantes capital do azeite.” ou “O Mar de Abrantes.”, entre outras, foram bandeiras desfraldadas em diferentes momentos com resultados pouco palpáveis e onde se gastaram milhares de euros sem qualquer retorno.

A identidade do território é fundamental para a definição de uma estratégia de desenvolvimento sustentável, articulado e estrutural. Mudar a identidade do território ao sabor das campanhas eleitorais é valorizar a tática, esquecendo a estratégia, sendo isso evidente nos resultados que todos podemos constatar.

Em primeiro lugar, é preciso assumir que não somos nem seremos, a médio prazo, um território integralmente urbano. As freguesias que o constituem têm características muito próprias que devem ser valorizadas e promovidas.

A afirmação da identidade passa por assumir de forma estratégica que o concelho tem uma matriz rural marcada pela fileira florestal, pelo azeite, pela silvicultura e por alguma indústria agropecuária e agroalimentar que deve ser valorizada e promovida. Ao mesmo tempo, a valorização da matriz rural deve ser integrada na afirmação de um território com uma tendência crescente para a urbanidade.

A matriz cultural do concelho reflete isto mesmo, a afirmação dos traços etnográficos das “freguesias rurais” está plasmada nas inúmeras associações locais que teimam em manter vivas as suas tradições. Os ranchos etnográficos, as associações de caça e pesca, as associações desportivas, as bandas filarmónicas, as festas das aldeias, entre muitas outras, são manifestações dessa afirmação cultural distintiva que pretende manter viva a identidade de um povo.

Tem sido mais fácil manter viva a marca identitária da “ruralidade” do que o modo de vida urbano promovido nas freguesias mais centrais, tendo Abrantes-cidade como polo atrativo.

A agenda cultural desenvolvida no grande centro urbano não corresponde a uma estratégia de desenvolvimento clara, dependendo da vontade dos decisores políticos locais que confundem o seu gosto pessoal com o pulsar dos seus fregueses. As associações culturais próprias do território urbano dependem da boa vontade dos decisores políticos, mostrando uma face errática, uma vez que na falta de estratégia se recorre à tática.

A inexistência de um equipamento cultural de excelência, contrapondo com outros territórios urbanos com os quais concorremos, debilita-nos. O Cineteatro S. Pedro resolverá apenas uma parte do problema e, entretanto, a falta destas valências tem promovido uma descentralização da oferta cultural para concelhos vizinhos.

A identidade do concelho, que não pode ser confundido com a cidade, tem de ser definida prioritariamente. A título de exemplo, refiro a Confraria do Bucho e Tripa na freguesia do Pego. De que adianta promover uma iguaria típica do concelho se não se definir uma estratégia que crie uma identidade que apoie iniciativas deste género?

Em segundo lugar, temos a questão do potencial humano.

Ao longo de mais de duas décadas, foram criados no concelho centenas de adolescentes com capacidades cognitivas e um potencial criativo muito acima da média. Muitos deles formaram-se profissionais em áreas muito diversas, deixando uma marca de excelência que muito nos deve orgulhar. De muitos guardamos a memória e sempre que perguntamos por eles a resposta é a mesma, “Estão fora”. Poucos foram aqueles que encontraram no concelho a motivação para ficarem e, aqueles que ficaram, revelaram uma atitude altruísta que nem sempre foi valorizada.

É verdade que não teríamos capacidade para reter todos, mas tivéssemos definido uma estratégia clara para o concelho e muitos teriam equacionado essa possibilidade. Mais uma vez, a tática se sobrepôs à estratégia. Uma identidade para o território com uma estratégia para o futuro teria fixado muitos desses jovens.

Não tenho a veleidade de dar resposta cabal a estas duas questões, mas considero possível definir uma estratégia de médio a longo prazo que crie uma IDENTIDADE que permita valorizar e fixar o potencial humano, a partir de uma discussão séria e fundamentada, ou como costumo afirmar, ideias como ponto de partida que poderão ter vários pontos de chegada.

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Vasco Damas
Vasco Damas
Tem 54 anos e vive na vila de Tramagal (Abrantes). É consultor imobiliário, tendo exercido funções de gestor no ramo da distribuição de materiais de construção e bricolagem, onde liderou equipas e contribuiu para o crescimento das pessoas, levando-as a ultrapassar os limites que julgavam ter. Valoriza o equilíbrio entre o trabalho e a vida familiar (seu porto de abrigo), o convívio com os amigos e a atividade cultural e desportiva, jogando nos veteranos dos Dragões de Alferrarede.

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