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Memórias da Guerra

Estava sem vontade para preparar a minha habitual crónica para o Regiões quando, em conversa com o amigo de há muitas décadas António Vasconcelos, ele lembrou uma história acontecida em Nova Lisboa, atual Huambo. O Diretor que me perdoe, mas penso que merece ser contada. Memórias…

É bem verdadeira e limito-me a transcrever as memórias do “Comando Celinho”, como o Tony era conhecido.

Estávamos a fazer a recruta no curso de oficiais em Angola, na Escola da Aplicação Militar  em 1973.

Memórias da Guerra
DR

Quer eu quer o Joaquim tínhamos ido para Angola com o intuito de lá  cumprirmos  o serviço militar, fugindo assim à  possibilidade de irmos para a Guiné, onde a guerra estava ainda mais acesa. Apesar de não estarmos enquadrados em nenhuma força política, combinámos fazer algo que mostrasse que no exército também havia opositores do regime. Assim, numa papelaria compramos uma revista e sacámos dois marcadores com bico grosso…

No quartel, depois do jantar fomos à caserna e, nas portas das casas de banho, escrevemos algumas frases contra a guerra e contra o fascismo, que tínhamos previamente combinado. Quando já estávamos na camarata ouvimos um estranho barulho e sentimos movimentação nas casas de banho. Resolvi levantar-me e ir até lá.  Estavam dois camaradas (um era preto e o outro mulato) a apagar as frases que tínhamos escrito.. Perguntei o que se passava e responderam: alguém escreveu nas portas frases que, porque somos praticamente os únicos não brancos do curso de oficiais, se alguém vir isto seremos nós os primeiros a ser levados para a prisão e estamos lixados.

(Um deles foi, mais tarde, general do MPLA)

Não voltámos a entrar naquela aventura mas, aos fins de semana assistimos, no refeitório, a “comícios” do MPLA organizados pelos soldados que davam apoio na Escola. O regime estava mesmo pronto a cair…

 

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Joaquim Correia
Joaquim Correia
“É com prazer que passo a colaborar no jornal Regiões, até porque percebo que o conceito de “regiões” tem aqui um sentido abrangente e não meramente nacional, incluÍndo o resto do mundo. Será nessa perspectiva que tentarei contar algumas histórias.” Estudou em Portugal e Angola, onde também prestou Serviço Militar. Viveu 11 anos em Macau, ponto de partida para conhecer o Oriente. Licenciatura em Direito, tendo praticado advocacia Pós-Graduação em Ciências Documentais, tendo lecionado na Universidade de Macau. É autor de diversos trabalhos ligados à investigação, particularmente no campo musical

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