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Morreu Odete Santos, histórica militante do PCP, aos 82 anos

Odete Santos, histórica militante do PCP e ex-deputada, morreu aos 82 anos. PCP recorda-a como uma “mulher de Abril”. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou a morte de Odete Santos, lembrando-a como uma das deputadas mais carismáticas do parlamento e enaltecendo a sua “coerência, coragem e irreverência”

 Morreu Odete Santos, histórica militante do PCP, aos 82 anos
Foto: Ana Baião

Dirigente e deputada do PCP durante anos, Odete Santos morreu aos 82 anos. PCP destaca o seu trabalho na defesa dos direitos dos trabalhadores e sobre a igualdade e a emancipação da mulher. Funeral decorre esta quinta-feira em Setúbal 

Foi durante décadas uma das figuras do PCP no Parlamento: Odete Santos marcava pela forma desabrida como intervinha nos plenários da Assembleia da República e também pelos temas a que se dedicava, dos direitos das mulheres à cultura.  

A antiga deputada e também ex-dirigente comunista faleceu aos 82 anos, informa o PCP num comunicado. Também foi o partido a divulgar que o corpo de Odete Santos estará em câmara ardente no Convento de Jesus, na cidade de Setúbal, a partir das 18h30 desta quarta-feira, realizando-se o funeral, amanhã às 15h30, para o Cemitério da Nossa Senhora da Piedade, em Setúbal. 

Marcelo saúda a mulher de Abril 

“Mulher de Abril, destacada deputada e dirigente comunista, Odete Santos foi uma figura marcante na construção do Portugal de Abril e na afirmação dos direitos que a Constituição da República Portuguesa consagra, em particular sobre os direitos dos trabalhadores, sobre a igualdade e a emancipação da mulher, uma presença constante na acção de solidariedade com os povos de todo o mundo, uma incansável participante na concretização do ideal e projeto do Partido Comunista Português”, diz o texto enviado às redações. 

O Presidente da República já lamentou a morte da ex-deputada, lembrando a sua intervenção política. “Foi uma das deputadas mais carismáticas da Assembleia da República, reconhecida por todas as bancadas pela coerência e coragem com que assumia posições, bem como pela irreverência e energia com que defendia os valores em que acreditava”, escreveu Marcelo na nota de condolências 

“Ao longo da sua vida teve ainda tempo para se dedicar, com igual empenho, à vida autárquica, à cultura (quer publicando livros, quer como atriz, levando ao teatro, para a verem atuar, personalidades de diferentes quadrantes políticos) e, ainda, à resolução alternativa de litígios (sendo de sublinhar o importante papel que desempenhou nos Julgados de Paz)”, lê-se ainda no texto divulgado no site da Presidência. 

Nascida na Guarda 

Militante comunista desde 1974, Odete Santos foi uma das primeiras mulheres a entrar no mundo da política no pós-25 de abril. Apesar de ter nascido em Pega, uma pequena freguesia do concelho da Guarda, chegou a Setúbal aos dez anos e foi aí que traçou o seu caminho na intervenção política – primeiro enquanto vereadora no pelouro da cultura, de 1974 até 1976, depois como membro da assembleia municipal que chegou a presidir durante oito anos. Em 1980, juntou-se ao primeiro Conselho Nacional do Movimento Democrático de Mulheres. 

A histórica dirigente comunista integrou o Comité Central do partido entre 2000 e 2012 e enfrentou a luta política no parlamento durante três décadas. Nesses 30 anos como deputada, Odete Santos passou por várias Comissões como a de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, a de Saúde e a Subcomissão de Justiça e Assuntos Prisionais.  

O seu trabalho foi especialmente visível na legislação sobre os direitos fundamentais das mulheres, nomeadamente, na lei da despenalização do aborto ou na proteção das vítimas de violência doméstica. 

Teatro: uma grande paixão 

Apesar de ser formada em direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, a vida da ex-deputada foi também marcada pelo trabalho no teatro, uma das suas grandes paixões. Odete Santos subiu ao palco do Teatro Amador de Setúbal e do Maria Vitória, em Lisboa, e interpretou adaptações de Gil Vicente e de Moliére, ainda que em regime amador. 

Já fora do quotidiano político, Odete Santos continuou a marcar presença nos eventos do partido a que dedicou grande parte da sua vida. Em 2016, no XX Congresso do PCP, a ex-deputada que ainda integrava a Comissão Concelhia de Setúbal classificou a ‘geringonça’ acabada de formar como algo “muito útil” já que funcionava no “sentido de encontrar o rumo certo para o país”, disse à TSF.  

“Julgava que, como antigamente, o PS ia andar às turras connosco e nós às turras com o PS, portanto, isto foi uma agradável surpresa”, acrescentou numa das últimas conversas com jornalistas. 

Nogueira Pinto recorda Odete Santos 

Na Rádio Observador, o professor Jaime Nogueira Pinto recorda uma “noite relativamente famosa” em que, na final do concurso “Os Grandes Portugueses”, defendia António de Oliveira Salazar e Odete Santos tomava a defesa de Álvaro Cunhal: “O choque que teve quando foi comunicado o resultado final da eleição… reagiu como se tivesse caído o regime, como se tivesse havido uma restauração do salazarismo e fui eu que disse que era só um concurso televisivo.” 

“A minha mulher, Maria José Nogueira Pinto, foi contemporânea de Odete Santos na bancada em coisas muito opostas, nomeadamente no papel da despenalização do aborto, mas do ponto de vista humano fazia-me referências dela”, recorda, enquanto conclui: “Como passei a vida a ver boas pessoas a defender causas más e más pessoas a defenderem causas boas… tenho ideia de que era uma pessoa generosa e convicta das suas razões.” 

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