Os 40 anos celebrados em 6 de novembro deste ano pelo jornal de divulgação musical Blitz, levaram-me a revisitar tempos vividos no oriente. Diga-se que foi graças à boa memória de amigos que reconstitui lugares e espaços, onde espreitava ou me perdia.
Em Macau, os almoços na cantina da Universidade onde dava aulas e era bibliotecário, a Universidade de Macau, eram frequentemente acompanhados pela leitura do jornal de Blitz, forma de estar atualizado relativamente à nova música que se ouvia lá longe, na área rock e pop. Sou da geração de 60, dos Beatles, Rolling Stones, Doors e outras bandas, mas nunca deixei de ouvir música nova. Em Macau não havia discotecas, apenas uma pequena loja de um jovem chamado Terrence, o CD Shop na Travessa de Padre Soares, era em Hong Kong que adquiria o que mais me interessava, principalmente na HMV, na Oxford Street, em Kowloon.
Estávamos na década de 90, conheci The The, Happy Mondays, Oasis, R:E.M saboreando chau min, Resistência, Madredeus, Ornatos Violeta recordando carne assada, sem faltar a Tsing Tao, claro. E também no programa do Vasco Fernandes, ao fim da tarde na Rádio Macau, “que era muito calmo a falar e sempre no mesmo registo um pouco monocórdico, um fã de David Sylvian, Brian Eno, etc”, como lembra companheiro dessas aventuras macaenses.
Era a altura em que surgiam os cds e, como muitos outros audiófilos caseiros, ia repetindo discos em vinil com capas fascinantes, por pequenas embalagens de música gravada em bits, desejoso de ouvir como soavam Foundations, Pink Floyd, Led Zepplin, ou Nirvana digitalizados. Mas impus-me uma condição: por cada disco antigo tinha de também adquirir uma novidade.
Deliciava-me com as criticas do Manuel Falcão, que fez nascer o Blitz semanal em 1984, passando em 2006 a assumir o formato de uma revista mensal. O último número publicado foi o de janeiro de 2018, passando então a marca concentrar-se no digital e em edições não regulares, sob a forma de números especiais, destinados a celebrar certas datas, ocasiões e efemérides. Tinha no seu quadro inicial colaborações de, entre outros, António Pires, António Sérgio, Luís Peixoto, Luís Pinheiro de Almeida, Manuel Cadafaz de Matos, Ana Cristina Ferrão, Rui Neves, ou Rui Pêgo, e fotografia de Alfredo Cunha e Luís Vasconcelos.
Durante muitos anos foi o único jornal dedicado à música publicado semanalmente em Portugal, na senda do Mundo da Canção, ou simplesmente MC, revista de divulgação musical que se publicou na cidade do Porto entre 1969 e 1985. A primeira publicação periódica sobre música pop-rock em todo o Portugal colonial foi Onda Pop, que era publicado semanalmente aos sábados no maior jornal de Moçambique – o “Notícias” de Lourenço Marques, desde 31 de Agosto de 1968 até 18 de abril de 1971.
Uma seção interessante, como que uma rede social dos jovens, eram os Pregões e Declarações. A ideia não eram meros anúncios, mas uma forma “de facilitar o diálogo entre todos os que leem o Blitz e que estão interessados em contatar com outros leitores”.
Ainda preservo o n.º1 (mantenho o hábito de guardar o primeiro número de certas publicações), na capa com Sioux and the Banshees, mas só me tornei assinante quando fui para Macau, em 1988. Não sabia o que ia encontrar naquelas terras e a música Rock/ Pop sempre me acompanhara, desde adolescente. Precisava de manter alguma ligação ao que ouvia em Lisboa. Claro que o que aconteceu foi também descobrir novos e fascinantes sons do Oriente.