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O Circo das Promessas Vazias: Autarca do Interior e a Grande Farsa da BTL

Na manhã seguinte à queda do governo, Portugal acordou a digerir os restos da política em frangalhos, como quem tenta compreender o significado das últimas notícias da noite anterior. Mas entre os escombros do colapso governamental, uma nova marcha tomou forma: o autarca do interior (Beira Baixa), aquele que por norma não sabe o que é um debate político profundo nem sabe o que é pensar além dos limites das suas próprias freguesias, rumou apressado para Lisboa. Não, não para as discussões solenes sobre as reais necessidades de desenvolvimento da sua região, nem para apresentar propostas de melhoria estrutural que possam alterar o futuro das suas terras. Não. O destino escolhido por este cavaleiro da política de “meia-tigela” não era nem de perto tão importante. Ele marchou, como bom filho do seu tempo, rumo à Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), o maior evento em que o marketing se disfarça de promessa vazia, e o turismo se torna apenas o veículo de um autoengano glorioso.

E como se o espetáculo não fosse completo, quem aparece primeiro a dar entrevista ao canal de TV, com a pompa e circunstância de um chefe de estado numa visita ao estrangeiro? O inconfundível Armindo Jacinto, presidente de Idanha-a-Nova, que, pela sua postura e destreza política, poderia ser facilmente confundido com um monarca medieval, sem trajes – talvez o último monarca que ainda acredita que a sua terra, famosa pelas feiras medievais, merece ser tratada como um épico de fantasia. O senhor Jacinto, em pleno século XXI, não teve dúvidas em vestir-se de palavreado sem a indumentária de um “Bobo da Corte” mas na postura e com fala sem sapiência, sem capa e coroa, mas pronto a apresentar a sua terra como se esta fosse uma página saída diretamente de um conto de fadas. A seriedade do evento esvaiu-se num gesto de auto-promoção barata, onde a realidade local foi transformada numa obra de ficção, para desespero de qualquer cidadão que ainda preserve a noção de bom senso.

O discurso de Armindo, esse, fez jus ao palco onde se encontrava. Entre promessas desmedidas e afirmações desconexas, o senhor presidente decidiu que Idanha-a-Nova, esse pedaço de terra no interior de Portugal, merecia ser anunciado como o novo “reino de Westeros” – e não estamos a falar da seriedade política, mas sim daquilo que poderia ser confundido com o mercado de um castelo medieval. “Lands Regan”, disse ele, em inglês digno de um aluno do primeiro ano de uma escola de línguas que nunca ouviu falar em pronúncia. A plateia, estupefata, ouvia enquanto o autarca prometia dragões e castelos, como se o turismo da região dependesse da invenção de um mundo fantástico, e não de soluções reais e sustentáveis para os problemas do dia-a-dia.

É isto que sobra das promessas do autarca do interior: “farsa”. A tentativa de vender a imagem de Idanha-a-Nova não como uma terra de potencial e de oportunidades reais, mas como um cenário digno de uma produção cinematográfica. O turismo, que deveria ser o motor do desenvolvimento económico real, foi, na visão de Jacinto, uma tela em branco, onde se tentava esconder as falhas estruturais e a desorganização que ainda assola as regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos. O problema não é a BTL ser um palco para a vaidade política, o problema é que, em vez de se discutir o futuro do interior com ideias sólidas e propostas práticas, o que se vê é um espetáculo de promessas vazias, onde a política se transforma num grande número de circo.

Entre os carrosséis de marketing e os brindes que circulavam pela BTL, poucos perceberam que, em vez de ser uma oportunidade para discutir como fazer crescer o turismo de forma sustentável, o evento serviu de palco para o autarca do interior Armindo Jacinto se exibir como astro de um show político em que a palavra de ordem é “maior é melhor”. Por trás das cortinas de fumo, as populações das suas terras assistem à grande farsa, onde as suas necessidades reais – emprego, infraestruturas, saúde, educação – são empurradas para um segundo plano, enquanto se tenta convencer o país de que o futuro deles depende de castelos e dragões, e não de soluções práticas.

A BTL, que deveria ser o espaço para discutir ideias inovadoras, transformou-se no maior palco de encenação política da década. O autarca não apresentou projetos reais, nem falou de estratégias sustentáveis. Em vez disso, vendeu sonhos que, como é habitual, não passarão de fantasias. O interior não será salvo por mais um espetáculo vazio e, quanto a isso, podemos ter a certeza.

Porque, ao contrário do que tenta vender, a solução para o desenvolvimento do interior de Portugal não se encontra na venda de ilusões, nem na repetição de promessas grandiosas que nunca se concretizam. O futuro das regiões do interior, se tiver futuro, será construído com muito mais do que o circo e a farsa que se apresenta todos os anos na BTL. E se esse futuro for mesmo possível, terá de ser, antes de mais, uma conversa séria, onde as ideias não sejam apenas mais um espetáculo de vaidade e onde as promessas sejam acompanhadas de ações concretas.

Porque, em 2025, o circo continua a rodar, com a comédia política do autarca do interior Armindo Jacinto sempre no palco mas já de saída como último mandato, com promessas de um futuro grandioso, enquanto as populações aguardam, em silêncio, por algo mais do que mais um espetáculo vazio. O reino da política está de pé, mas a realidade continua a ser apenas uma sombra no horizonte.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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